SESSÃO AURORA E FELIPE #05

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O casal aparentava tristeza e ao abrir a porta, Roberta percebeu que seria uma sessão difícil. Eles entraram em silêncio, sentaram cada um em uma ponta do sofá e permaneceram em silêncio até Roberta perguntar:
- Como estão?
- Estou ótimo. - Respondeu Felipe.
- Aurora?
- Estou bem.
- Na sessão passada ficou acordado que os dois estariam dando um tempo para ver como iriam ficar. Como está sendo isso?
- Estou dando o tempo que ela pediu. - Falou Felipe com rancor.
- E eu quero me separar. - Falou, finalmente Aurora, em tom decidido.
- Ahhhhh... Esse papo de novo.
- Sim, mas agora não estou culpando você. Estou dizendo que quero me separar. Posso pegar um café? - Roberta assentiu. Aurora levantou - se, pegou uma caneca e se serviu. Sentia que suas mão tremiam, pois aparentava mais segura do que realmente se sentia. Voltou para seu lugar.
- Pra que quis a porra do tempo, então? - "Onde está minha pipoca?", pensou Roberta. - Se era pra se separar, não precisava disso.
- Eu quis, porque precisava pensar, Felipe. Precisava colocar tudo o que sinto em ordem. Queria ter certeza que estou fazendo pelo motivo certo.
- Do que está falando?
- Semana passada eu vim aqui, conversar com a Roberta. 
- Peraí... Eu pedi para você remarcar. 
- Sim, mas eu não fiz, porque precisava conversar e ninguém melhor que a Roberta pra isso, já que ela é uma profissional. 
- Aproveitou para confabular contra mim. 
- Ninguém confabulou contra você, Felipe. - Disse Roberta. - Ela veio como uma paciente e eu atendi como uma. - Relaxou na poltrona. Já não tinha a pipoca, não iria ser arrastada pra dentro dessa briga a toa. 
- Exatamente. Até porque se você quisesse a remarcação, fizesse você mesmo
- Eu trabalho, Aurora, você está de licença, custa fazer isso!?
- Sim, porque sempre foi assim, mesmo quando eu estava trabalhando, uma vez ou outra tudo bem, mas sempre ter que remarcar suas coisas, marcar, como se fosse criança? Não sou obrigada! Agora, continuando... Eu estive aqui semana passada e conversei bastante e realmente quando pedi o tempo, já estava decidida da separação. Como disse assim que chegamos: precisava pôr as emoções em ordem. Hoje não será um bom dia para você, nem pra mim. 
- Já não está sendo. - Resmungou Felipe. - Espera! Você está querendo se separar porque te faço de assistente? 
- Não, porque eu te traí. - Silêncio pesado paira na sessão. - Mais de uma vez. 
- Como é? - Perguntou Felipe, incrédulo. "Não tem pipoca, mas tem torta de climão", pensou Roberta, sem mudar sequer a expressão facial. 
- Eu. Te. Traí. - Repetiu Aurora, pausadamente e com um leve tom de deboche. - Fora que eu me apaixonei por ele. - Felipe a encarava em silêncio. O corpo de Roberta a alertou de respirar, pois sem perceber, prendera a respiração. 
- Roberta, você sabia disso? - Perguntou quase num sussurro. 
- Não mete ela nisso. Eu contei na minha consulta, ela não tem obrigação de te dizer nada. 
- NOSSA CONSULTA, AURORA, NOSSA! - Gritou Felipe. - VOCÊ QUER SE SEPARAR PRA FICAR COM ELE? 
- Sim. Deixando claro, se é que importa, ele não está me cobrando nada. Estou fazendo isso por livre e espontânea vontade. 
- TÔ POUCO ME FODENDO PRA ISSO. - Ele respirou fundo. - Eu conheço ele? 
- Sim. É o Elias. 
- Que Elias?
- O único que você conhece. 
- Meu melhor amigo, Elias?
- O próprio. - Aurora respondia tranquilamente, como se não temesse a mais nada. A merda já estava no ventilador. O que mais poderia fazer?- Felipe gargalhou por um tempo. 
- Quanto tempo isso vem acontecendo? - Perguntou entre a gargalhada.
- Há um tempo. Desde a sua última viagem.
- O bebê era meu? 
- Não. 
- Algum era? 
- Deixa de ser retardado. Todos eram, exceto o último. É só fazer os cálculos pela última viagem. 
- Você pode ter tido outros casos. - Agora, Aurora gargalhou. - Qual é a graça? 
- Você achar que sou toda errada aqui, sendo que não te traí outras vezes, na verdade, você é o primeiro que eu traio. 
- Que honra! Obrigado por isso. E como posso acreditar em você agora? 
- Você não pode. Acreditar ou não em mim, é uma escolha sua. 
- Quando você se transformou nisso? 
- Eu sempre fui isso. Uma mulher forte, independente, feliz e me tornei isso que você conhece. Não é só culpa sua, porque se me transformei nisso, foi porque eu deixei. 
- Você não fala nada? - Perguntou Felipe a Roberta. 
- O que quer que eu diga? 
- Não sei, você que é a terapeuta, não eu.
- E vocês estão conversando sobre o que incomoda, o que tem de errado. A terapia de vocês sempre foi sobre isso. 
- É isso que você realmente quer, Aurora? 
- Sim, é. 
- Então será. - Felipe se levantou. - Eu sei que o horário ainda não acabou, mas não consigo ficar. 
- Não seria bom sair no estado que está. Fique mais um pouco. - Disse Roberta, com certa preocupação.
- Eu estou bem. - Respondeu de forma tranquila e sorriu. 
- Fiz errado em contar? - Perguntou Aurora, assim que ele saiu. 
- Só você pode dizer. O que queria fazer?
- Me separar e também, não queria enganá-lo, mas também não queria magoá-lo. 
- Términos são difíceis. Por mais tranquilos que sejam, ainda assim são dolorosos e sair magoado ou magoar, é inevitável. 
- Conversei com Elias sobre hoje. 
- Conversou o que exatamente? 
- Que iria contar tudo para o Felipe, que seria o certo a se fazer. Ele concordou e disse que estava ansioso para estar comigo. 
- Como se sentiu ao ouvir isso? 
- Feliz, admito. Tem muito tempo que não me sinto assim. - Roberta sorriu. 
- Nossa sessão acabou. Nos vemos na próxima?
- Vou ver como vai ficar e te aviso. 
- Tudo bem. - Disse Roberta, levando Aurora até a porta.      

SESSÃO DE TERAPIAOnde histórias criam vida. Descubra agora