CAPÍTULO UM

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Os dedos de Claire bateram contra o volante mais uma vez. Seu nervosismo fazia com que ela não conseguisse ficar parada. O combustível era pouco, infelizmente não tinha dinheiro suficiente para reabastecer, mas ela acreditava que conseguiria chegar ao seu destino. Estava perto.

A multidão à sua frente não a assustava tanto quanto o turbilhão de emoções que sentia naquele momento.

Se algumas semanas atrás alguém lhe dissesse que ela estaria em seu carro a caminho de Homeland, torcendo para o combustível lhe permitir passar pelos portões para uma reunião com Slade North, ela riria na cara dessa pessoa. No entanto, era exatamente isso que ela estava fazendo agora.

Sua mente retornou a semana anterior. Seu pior pesadelo havia começado na terça-feira passada, quando encontrou seu pai desacordado na sala. Chamara a ambulância, mas o diagnóstico de óbito por envenenamento foi dado antes mesmo de chegarem ao hospital. A substância tóxica se mostrava visivelmente em sua boca, seus lábios inchados e feridos denunciavam o modo como havia morrido.

Claire se recusava a olhar para aquele corpo, se recusava a acreditar que era seu pai ali realmente. E pensar que aquele era só o início do seu tormento. Antes que ela tivesse a chance de sofrer todas as fases do luto, ela soube o que tinha acontecido.

Suicídio. Seu pai havia se suicidado de forma tão horrível e ela odiou saber o porquê. Três dias depois da sua morte ela havia encontrado uma carta de despedida.

As palavras escritas com pressa e com certo desespero pareciam estar gravadas em sua mente.

Perdão filha. Não sei como te dizer tudo o que fiz, não sei como olhar nos seus olhos e te explicar as coisas estúpidas que tive que fazer. Você sabe como as coisas estavam indo mal nos últimos anos e com essa crise econômica então... Num ato de desespero e medo de ter de fechar o nosso restaurante, nosso bem que sua mãe e eu lutamos tanto para conseguir, acabei fazendo negócios com as pessoas erradas e quando não consegui o lucro esperado para pagar as dívidas, me vi afundando ainda mais e sem outra alternativa. Eles não aceitariam nada menos que tudo o que possuo. Você precisará se mudar, precisará encontrar outro lugar para ficar. Sei que você é inteligente e competente o suficiente para se reerguer. Venda seu carro, vá embora da Califórnia. Eles vão tomar posse do restaurante e da casa, não tente lutar contra isso. Eu tentei e tudo o que consegui foram mais ameaças. Por covardia, por medo de ver a vergonha nos seus olhos, estou acabando com isso. Me perdoa, querida. Eu a amo demais e sinto muito por te deixar assim, sem nada. Tudo que eu queria era que pudesse voltar atrás e te poupar dessa situação em que te coloquei, Claire.

De quem te amará eternamente,

Papai.

O peso daquelas palavras ainda estavam sobre os seus ombros. Como seu pai amoroso e honesto foi capaz de colocá-la numa situação daquelas?

Como ele disse na carta, eles não demoraram. Assim que ela fez as malas e se hospedou num hotel, ficou sabendo que alguém tinha arrombado o restaurante assim como sua casa.

Claire não tinha nada mais que a prendia na Califórnia. Sua única amiga se mostrou uma vadia quando traiu sua confiança seis meses atrás. Ela tinha acabado de começar um relacionamento com Noah, por quem tinha uma paixão desde o primeiro semestre.

Uma semana de namoro. Uma semana foi o tempo que ela teve antes de flagrar seu namorado e sua melhor amiga na cama.

Depois disso, foi e continua sendo difícil confiar em alguém. Ainda mais agora, que seu próprio pai a colocou numa enrascada, onde ela não tinha dinheiro nem para as próximas refeições. Ele disse para ela ir embora da Califórnia, ela não tinha ninguém ali, mas algo lhe dizia para não se mudar. Ela também não queria vender seu único bem e meio de transporte, poderia arrumar um emprego.

Quem ela queria enganar? Quem daria emprego para uma recém formada, diante da crise atual?

Aos vinte anos de idade, Claire havia acabado de se formar em gastronomia, para seguir os passos do pai. Ela só não imaginava que não teria como seguir esses passos ao perder o lugar que tanto amava.

Na noite de domingo, no hotel, quando o dinheiro — assim como sua esperança — estava no fim, o anúncio de que precisavam de novos chefes em Homeland lhe soprou a brisa fresca de dias melhores. O salário era maravilhoso e ela estava hospedada bem próxima aos muros magníficos.

O barulho alto retirou Claire de seus pensamentos, ela se aproximava lentamente dos manifestantes e ver algumas das placas que eles erguiam a fez revirar os olhos.

Ela era completamente pró-espécie e para dizer a verdade, não entendia o porquê daquela implicância das pessoas. Alguns que se diziam servos de Deus, ficavam ali a gritar sobre como aquelas desovas do demônio iriam dominar o mundo. Outros que se diziam cidadãos de bem, queriam que eles fossem mandados de volta de onde vieram.

Para ela, eles simplesmente não tinham vida própria.

Acelerando aos poucos, Claire tentava passar pelo mar de pessoas com sanidade duvidosa.

— Olhem! Mais uma coitada que esses demônios estão persuadindo! — um homem gritou perto do carro.

— Eu mereço... — Claire resmungou pisando no acelerador.

Ela percebeu que as pessoas começaram a se acumular ao redor do carro, de forma que ficava difícil enxergar o caminho a frente. Ela buzinou para que saíssem de seu caminho e isso pareceu apenas chamar atenção de mais gente para ela.

Seu coração acelerou quando começaram a bater nos vidros do carro gritando.

— Eles são aberrações! Por que quer se juntar a esses demônios, menina?

— Não deixaremos que eles peguem mais de nossas mulheres!

— Você está traindo sua própria espécie!

Eram tantas coisas absurdas que Claire tapou os ouvidos com as mãos, tentando diminuir seu nervosismo. Porém, mesmo com as orelhas tapadas ela estremeceu ao ouvir uma explosão próxima.

— Oh Deus... — ela choramingou quando alguém começou a bater nos vidros com uma barra de ferro. Os estilhaços salpicaram em seu corpo e ela tentou ao máximo se proteger.

A vida podia ser uma cadela.

Já não lhe bastava perder seu pai? Sua casa e seu ganha pão? Já não lhe bastava não ter ninguém para lhe oferecer um ombro amigo?

Não parecia bastar.

Ela teria que ser morta por um monte de doentes imbecis.

O estresse, o medo e a angústia pareciam demais para ela. Tudo que aconteceu ao longo da semana pareceu cobrar o seu preço. Seu psicológico não suportava mais. Antes de ver o que aqueles idiotas fariam, ela viu tudo escurecer.





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Hi babys ❤
Primeiro capítulo feito com muito amor, espero que gostem!
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Beijão 😘

JERICHO - Novas Espécies (revisando)Onde histórias criam vida. Descubra agora