CAPÍTULO VINTE E TRÊS

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Depois de um sonho um tanto inoportuno, Claire tomou um banho demorado e frio, era aquilo que precisava para acordar de vez. Claro que os detalhes do tórrido sonho lhe acompanhariam pelo dia e a certeza daquilo a fez bufar.

Perdi minha maldita mente! — foi o que ela pensou ao se enrolar na toalha e caminhar em direção ao armário para se arrumar, mais um dia de trabalho no refeitório lhe esperava.

Ela fez o mesmo ritual de todos os dias desde que começou a trabalhar em Homeland. Tudo o que faria já estava em sua mente: ela iria para o refeitório, administraria o funcionamento da cozinha, supervisionaria o trabalho dos cozinheiros, e provavelmente iria elaborar novas receitas para serem adicionadas ao cardápio. Ela escolheria meticulosamente as hortaliças, carnes e grãos que seriam usados naquele dia por meio de vídeo já que os suprimentos são entregues em Homeland. Ela iria conferir se tudo estava como solicitado, enquanto o café da manhã era servido. Ela provavelmente faria o preparo de alguns pratos já que a equipe já estava ciente do modo como tudo deveria ser feito — dando algumas instruções aqui e ali, é claro — e ela com toda a certeza faria a sobremesa do dia, o que foi um grande sucesso com os Espécies.

Normalmente, antes da chegada de Claire, eram expostos apenas bolos e sorvetes e ela não pôde deixar como estava. Os Espécies poderiam ter mais opções, com um especial que seria diferente a cada dia. E assim o fez, o que agradou muito a todos e acabou tendo uma reunião com Slade para discutirem a probabilidade de contratação de um confeiteiro e mais ajudantes.

Claire provavelmente almoçaria e jantaria no refeitório mesmo com Flame, talvez Slash ou Breeze se juntaria a eles e no fim do dia, ela voltaria para casa. Flame apareceria em suas noites de folga para acompanhá-la em alguma maratona de filmes ou apenas para fazer um lanche noturno enquanto conversavam sobre qualquer coisa.

E quando a saudade batesse ela faria uma visita à casa de Trisha para ver Forest.

A vida de Claire já tinha uma rotina, aquilo não era de todo ruim, nenhuma surpresa — ou fato que a tirava do eixo — acontecia. Até porque, bom ou ruim, um certo primata não estava mais por perto para perfurar sua mesmice.

Lá estava ela pensando nele outra vez.

Quando pronta, desceu as escadas rapidamente e preparou um café forte, estava sem fome e isso foi de grande alívio ao perceber que estava quase atrasada e sua escolta também. Se perguntou mentalmente se não seria Flame a levá-la ao refeitório já que ele sempre a avisava quando não poderia, claro, poderia ter acontecido algum imprevisto.

Considerando anormal aquele atraso, ela ligou para Flame, que desculpou-se avisando que havia tido um pequeno problema com alguns machos no dormitório, mas que já estava chegando. Sem outra opção, Claire se sentou no sofá e esperou.

O silêncio de sua casa evidenciava a solidão de Claire. Ela tentou de todas as maneiras não pensar em Jericho, o que foi inútil. Era difícil não se lembrar dele, do jeito como a olhava antes de voltar a si, do jeito que a tocou. Era impossível não pensar como seria se ele não tivesse parado.

Talvez ela devesse seguir os conselhos de Breeze. A canina havia lhe falado sobre vários machos que eram abertos a relacionamentos ou que já haviam declarado seu interesse por humanas.

Não! Onde estou com a cabeça? — ela se recriminou. Não era do seu feitio buscar compensar uma desilusão amorosa correndo para os braços do primeiro que passasse à sua frente. Além disso, ela não havia se interessado por mais ninguém.

O som do veículo se aproximando a tirou de seus devaneios e se levantou do sofá quando Flame entrou no chalé.

— Bom dia, Flame! — ela o cumprimentou e estranhou quando o viu com uma careta engraçada.

— Puta merda. — ele rosnou.

— Está tudo bem?

Ele não disse nada. Apenas inalou e colocou a mão sobre o nariz achatado.

— Flame, o que foi? — ela disse temerosa.

— Você não irá trabalhar hoje. — Flame disse ainda tapando o nariz.

— E por que não iria?

— Porque você está no cio. — ele disse finalmente tirando a mão do rosto e abrindo as janelas. — Deus, está sufocante.

Ela com certeza não ouviu direito. Como assim cio?

— Eu acho que não entendi.

— No cio, Claire. No período de ovulação, se preferir.

— Uau. — ela deixou a informação ser ingerida. — Você pode cheirar isso?

— Queria não poder nesse momento. Você deve ter entrado nesse período ontem, considerando o quão forte está e que não estava no cio da última vez que a vi. Por qual maldito motivo você fechou todas as janelas dessa casa?

— Hã... Segurança? — ela não estava certa de como responder pois seu cérebro não estava em melhor funcionamento.

— Bobagem, sabe que furtos não acontecem em Homeland e que são raras as falhas na segurança, mesmo que se acontecessem não chegariam tão longe na área humana. Essa casa definitivamente precisa de ventilação.

— O cheiro é muito ruim? — Claire perguntou.

— Na verdade não, é por isso que você não pode trabalhar hoje, você não quer saber o que aconteceria quando aquele refeitório estivesse lotado de machos Espécies.

As engrenagens de sua mente começaram a funcionar, lembrou-se das aulas de biologia que tanto odiava. Ela estava ovulando. No mundo animal isso era como um convite das fêmeas atraindo os machos para a copulação.

Okay, isso era estranho.

Flame finalmente parou de abrir todas as portas e janelas do chalé e voltou para a sala — onde Claire permanecia atordoada —, ele claramente estava incomodado com o cheiro.

— Será que você poderia, por favor, tomar um banho? — a careta dele era engraçada e ela quase riu.

— Estou sentindo como se estivesse fedendo, Flame. Tomei banho a alguns minutos.

— É um cheiro atraente para os machos, Claire. — ela arregalou os olhos. Flame não estava se sentindo atraído, estava? Deus, isso é... — E isso é bem constrangedor se tratando do modo como eu vejo você. E não, eu não estou atraído, é só uma resposta ao cheiro.

— Se é constrangedor para você, imagine para mim. Então eu ficarei em casa até isso passar?

— Não necessariamente. Breeze não te explicou como lidar com isso? Talvez eu deva chamá-la. Eu poderia te dizer mas você pode se sentir mais confortável com uma fêmea.

— Não! Eu acho que será mais constrangedor. Vamos lá, me explique.

— Você quem pediu. — ele se jogou no sofá onde ela antes estava sentada, respirou fundo e fez outra careta. — Terá que borrifar perfume em um absorvente e trocá-lo de hora em hora, também precisará lavar a área a cada troca. O perfume vai sobrepor o odor da sua ovulação e os machos não irão atrás de você para compartilhar sexo.



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Rindo horrores, babys! 😂😏

Até o próximo!



JERICHO - Novas Espécies (revisando)Onde histórias criam vida. Descubra agora