Inquietude. Parte 1

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  Bakugou sentiu sua garganta secar e pela primeira vez se viu sem palavras. O garoto à sua frente era selvagem, de olhos intensos e esbanjava confiança e liderança. Os músculos delineados indicavam que ele não era muito passifico, provavelmente um guerreiro. Ele acaba se lembrando de uma coisa que sua mãe lhe disse.

"A rainha se contorcia sozinha na cama, tentando dormir enquanto a noite se estendia lá fora. Bakugou conseguia ouvir os gemidos inquietos da mãe, o deixando preocupado. O pequeno loiro de cabelos espetados desceu da cama alta, segurando com força o pano que carregava pra lá e pra cá e caminhou com passinhos tornos até o quarto da mãe, tropeçando vez ou outra nos degraus e caindo, logo retomando a missão. Após longos minutos ele finalmente chega ao quarto da mulher, não se preocupando em bater.
Mitsuki já não se encontrava mais na cama quando o pequeno escalou e encontrou ali vazio. Porém, ouviu uma melodia conhecida vindo da sacada do quarto. Ele se pôs a descer dali rapidamente e correu pra fora, encontrando sua mãe.
Ela, ainda jovem, tinha uma flauta em seus lábios e tocava uma melodia doce e suave enquanto encarava o horizonte do oceano, quase como se olhasse além das terras mortais.

- Mamãe? - chamou o garotinho. Mitsuki retirou o instrumento dos lábios e mandou um sorriso doce para o filho, o estendendo a mão. Ela o colocou sentado na mesa de chá, para ficar próximo e sorriu triste. - O que foi? Por que está triste mamãe?

A mulher loira engoliu em seco, ignorando as perguntas do filho e começou a tocar a flauta novamente, o olhar distante no mar, a melodia se tornando dolorosa. Bakugou sentia seu pequeno coração afundando no peito. Sua mamãe estava triste, e não podia fazer nada.
Ela tocou durante muito tempo naquela noite, até o filho cair no sono em cima da mesa. Ao ver a situação do pequeno, ela suspirou, tomando-o nos braços e caminhando até o quarto.
Ao colocá-lo na cama, uma mãozinha segurou a dela, olhinhos sonolentos e vermelhos como fogo a encararam também.

- Mamãe, por que eu não tenho um papai como o Shouto? - A voz sonolenta perguntou, coçando os olhos. Mitsuki sentiu algo dentro de seu coração ao receber a pergunta inocente. Ela tentou forçar um sorriso e lambeu os lábios antes de responder.

- Quando eu olhei para o seu pai pela primeira vez, achei que ele era um completo perdedor. Nunca imaginei o que ele escondia atrás daquele sorriso. Mas o seu pai, Bakugou, fez a escolha dele. Ele escolheu viver longe, ele escolheu ir embora. Eu...pensei que ele voltaria, que se arrependeria. Mas ele não fez isso. E agora...estou condenada a reinar, sozinha sendo mãe. Eu nunca quis ser rainha, tampouco quis ser mãe.

Naquele momento, Mitsuki apenas terminou a frase e tirou as mãos do filho de sua mangá. O pequeno não entendeu o veneno e dor daquelas palavras, e não imaginava o que sua mãe, doce e até então atenciosa, viria a se tornar."

Os nós dos dedos de Bakugou ficaram brancos, e ele sentiu a boca secar. Os instintos dentro dele gritando corra. Corra seu tolo. Agora. Porém, os pés tinham se tornado pesados e ele sentiu o sangue ser drenado das partes do seu corpo, o deixando travado. Ele encarava o garoto a sua frente, encarava os dedos e os braços, e sabia que garras e escamas espreitavam ali. Ele era uma criatura gigantesca e podia deixar a si em frangalhos. Com apenasum movimento daquela mão, ou uma mordida daqueles dentes pontiagudos, Bakugou já era.
Ele se pôs na defensiva, e Kirishima percebeu. Uma expressão confusa, porém atenta do guerreiro foi formada. Ele se colocou em alerta, os instintos falando mais alto.
Ele era um desconhecido, e pelo cheiro, viera do outro lado do oceano. Ele se movimentou lentamente para o lado esquerdo, e Bakugou rapidamente reagiu, também andando.

Ele não podia virar as costas, não podia deixar brechas pra algum movimento da criatura. Ele era um animal rondando sua presa.

- Responda minha pergunta.
- Por que eu deveria? - Katsuki retrucou, mantendo o contato visual.
Eijirou soltou um grunhido animalesco, o que fez os ossos do loiro rangerem.
- Eu não quero machucar você. Responda. - Era claramente uma ordem.  Bakugou continuou em silêncio, fazendo Eijirou rangir os dentes. Porém, um tremor nas terras fizeram com que ele se virasse rapidamente para olhar, e Bakugou não exitou em aproveitar a oportunidade. Ele se virou, e correu. Correu com todas as suas forças.

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