II. Jantar.

1.3K 135 27
                                    

15 anos atrás – New Haven, Connecticut.

- Diogo, Bárbara, Diogo, Bárbara...

A voz de Bianca acompanhava a contagem das pétalas puxadas uma a uma do girassol robusto. O barulho singelo do climatizador fixado abaixo da janela branca ecoava entre as paredes de cor bege. Os móveis de madeira polida se encaixavam em pontos estratégicos para o quarto pequeno ganhar mais espaço. Duas camas de solteiros se posicionavam nos extremos das paredes, assim como as duas mesas de estudo e os dois armários pessoais. O frigobar e o microondas organizados próxima a porta de saída era um bônus que nem todos os dormitórios obtinham.

Rafaella tirou os óculos de grau os largando sobre os papéis que estudava na mesa e esfregou os olhos espantando o cansaço. Apoiou o cotovelo no joelho flexionado sobre a cadeira e logo em seguida apoiou o queixo na mão olhando entediada para a Andrade que permanecia deitada de barriga para cima desfazendo a flor bonita.

- Parece uma pré-adolescente. – Murmurou enquanto Bianca continuava a contagem sem lhe dar atenção. – Afinal de contas, o que isso significa?

- Bárbara – Bianca pausou memorizando onde tinha parado. – Estou escolhendo com quem sair essa noite. Diogo, Bárbara, Diogo...

Rafaella suspirou cansada e se levantou em direção ao frigobar puxando uma lata de energético. O período mal havia começado, era verdade, mas não queria relaxar na monografia e acumular os afazeres para as provas finais. Sentia que aquele ano seria o pior de todos e também sabia que só seria o pior por causa da pressão que ela mesma se colocava.

- Bárbara! – Bianca sentenciou enquanto Rafaella engolia o líquido forte. – Mas que droga!

- O que foi? – A latina recostou as costas na mesa na qual estava estudando, ainda bebendo da lata em sua mão.

- Eu meio que queria sair com Diogo essa noite. – Soltou o caule na mesinha de cabeceira e jogou o braço sobre os olhos.

Rafaella franziu o cenho a observando antes de falar.

- Então por que você simplesmente não sai com ele se é isso que você quer?

Bianca a olhou em um misto de indignação e horror como se o que Rafaella tivesse dito fosse algo relacionado à sua moral.

- A flor escolheu a Bárbara! – Apontou óbvia. – Não posso alterar a vontade cósmica.

Rafaella tentou segurar o riso, mas não conseguiu. A gargalhada saiu alta e Bianca a ignorou pegando o telefone para falar com a outra morena. A Kalimann balançava a cabeça divertida enquanto ouvia o convite da Andrade para a sua presa da noite, organizando a papelada bagunçada em sua mesa. Já bastava de ler aqueles artigos.

O som acústico veio da janela e Rafaella fechou os olhos se amaldiçoando por aquilo estar acontecendo, outra vez. O som foi se encaixando melhor até que reconheceu a melodia de "Esse cara sou eu", do Roberto Carlos, sendo tocada junto à voz "afinada". Bianca desligou o telefone se sentando na cama olhando intrigada para a Rafaella que voltava a se sentar na cadeira deixando o joelho saltar inquieto.

- O que ele fez dessa vez? – Bianca perguntou ríspida ainda sentada na beirada da cama.

- Esse final de semana teve uma festa na casa da Gabriela. – Deu de ombros como se não fosse grande coisa. – Thelma o viu no banheiro com uma vadiazinha qualquer.

Tomou mais do energético tentando ignorar a serenata que estava recebendo. Bianca por outro lado já estava no limite com o rapaz, na verdade, sempre esteve no limite. Era sempre a mesma coisa, se comportava feito um babaca com Rafaella e no fim a cercava de mimos até
consegui-la de volta. E o que mais perturbava a Andrade, era que ele sempre conseguia.

The Middle | Versão RabiaWhere stories live. Discover now