II. Titanic.

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3 meses atrás. Dallas, Texas.

Rafaella sorveu o chocolate quente da caneca que Genilda havia lhe entregado enquanto olhava a decoração extravagante na casa da família Kalimann. Suas tias arrumavam as caixas de presentes aos pés da grande árvore de natal e o presépio tradicional de sua avó repousava fielmente sobre o batente da lareira apagada.

- Rafinha. – A voz mesclada em riso surgiu antes da figura loira se tornar visível. – Mamãe me deixou visitar alguns amigos antes do anoitecer. Posso levar Camila?

A Juíza estreitou os olhos para as duas adolescentes de braços entrelaçados a sua frente. Camila trazia uma expressão culpada enquanto a loira parecia ansiosa pela resposta.

- E vocês vão sozinhas? – Ergueu uma sobrancelha, tomando mais da bebida em sua posse.

- Sim. Papai me emprestou o carro. – A loira balançou o molho de chaves no ar.

- Seu pai não tem juízo.  –  Riu, provocando uma careta emburrada na loira.  –  Okay. Vocês podem ir, mas traga sua sobrinha viva, Sofia.

Quase não deu tempo de terminar a frase e as duas garotas pularam em seu pescoço em agradecimento.
Estava concluindo a faculdade quando a notícia de que sua mãe estava grávida a nocauteou. Depois de tantos anos não cogitava a possibilidade de ter um irmão, ou no caso uma irmã, mas a chegada de Sofia foi a melhor coisa que aconteceu em anos. O irônico foi
quando Rafaella e Bianca resolveram adotar Camila que era apenas um ano mais nova que a loira e até  entenderem que uma era tia da outra demorou uns bons anos, mas isso não atrapalhou na relação de amizade que foi crescendo entre as duas. Eram uma família afinal.

Rafaella ouviu o grito de Camila dizendo que a amava enquanto Sofia empurrava a latina para fora da casa e sorriu imaginando como seria o futuro daquela geração. Avistou Marcella cortar a sala de jantar parecendo procurar por algo e estreitou os olhos quando a morena sentou-se ao seu lado.

- Viu Sofia e Camila?  –  Marcella perguntou,  puxando a caneca da mão de Rafaella e tomando um bom gole de chocolate.

- Isso é meu! Pegue um pra você! – Ralhou pegando a caneca de volta, mantendo um bico nos lábios. – As meninas acabaram de sair pra visitar uns amigos de Sofia.

Marcella bufou puxando um pano de prato que repousava em seu ombro.

- Essas pestes fugiram! Eu disse que era pra me ajudarem a terminar a ceia!

- Que meninas más.  –  Rafaella debochou,olhando a morena por cima da borda da caneca. – Parece até certas pessoas anos atrás. - Marcella rolou os olhos negros fuzilando os castanhos de Rafaella que riu. – Qual é. Éramos muito piores, Má.

A risada da Kalimann foi acompanhada pela da Ribeiro como concordância. Embora estivesse preocupada, aquele clima aconchegante com seus parentes amenizava as hipóteses que sua própria cabeça criava. Marcella percebeu o ligeiro vinco entre as sobrancelhas finas de Rafaella, conhecia a prima melhor do que qualquer pessoa e sabia muito bem o que se escondia por trás do sorriso bonito da juíza.

- Conseguiu falar com Bianca?

Rafaella suspirou. Havia telefonado mais cedo avisando que ela e Camila já estavam na casa de seus avós em segurança, mas como em tantas outras vezes a conversa automática foi curta acompanhada de uma desculpa para a Comandante encerrar a ligação e voltar a ativa.

- Consegui. - Repousou a caneca vazia na mesa coberta por uma toalha com estampas de pinheiros. - Ela ainda estava no departamento, mas disse que chegaria antes da meia noite. Marcella acenou a cabeça olhando nos olhos cabisbaixos da prima.

The Middle | Versão RabiaWhere stories live. Discover now