II. Lugar algum.

1.3K 116 60
                                    

- Eu também. - Bianca suspirou, largando o celular sobre a mesa. - Agora vá escovar logo os dentes.

- Sim, comandante! - Camila levou a mão direita até a testa, imitando a posição de Sentido antes de correr cozinha à fora.

Bianca escondeu o rosto entre as mãos tentando achar o ponto exato onde tudo desandou. Durante a noite não se importou com o fato da mulher ter lhe dito que seria só sexo, na verdade nem considerou realmente aquela hipótese, levando em conta que ambas eram casadas e que tudo sempre era resolvido depois do sexo, mas pelo visto estava enganada, o que gerava frustração na comandante. Sentia raiva de si por ser tão fácil para  a Juíza, mas também sentia raiva de Rafaella por ficar naquele joguinho ridículo quando claramente a queria também. Entretanto, não conseguia encontrar o motivo de tudo estar sendo daquele jeito. Rafaella sempre reclamava de suas jornadas no serviço, isso era fato, mas era algo que sempre tentava conciliar. Nunca deixava Camila sem assistência e procurava ser amorosa quando Rafaella permitia, mas o problema era que a juíza havia deixado de permitir, o que gerou certo desconforto no casamento das duas até que chegassem no ponto da briga final. E por que mesmo foi a briga? Por nada. Pelo menos era isso que Bianca achava, embora soubesse exatamente as palavras da juíza quando a expulsou de casa.

- Vai levar Camila para mim?

- Hn? - Bianca levantou a cabeça, avistando Rafaella guardar algumas coisas dentro de sua bolsa. - Sim. É mais rápido e você pode ir pro serviço com mais calma.

- Obrigada. - Rafaella suspirou, fechando o zíper da bolsa. - Isso evitará algumas multas na minha carteira. - Bianca sorriu fraco e o celular voltou a tocar inquieto sobre o tampo da mesa. - Insistente, hein.

Rafaella sabia quem estava ligando desde a hora em que acordou com o som irritante e encontrou o pequeno aparelho no bolso da calça da esposa. O nome piscando no visor do celular só fortaleceu a ideia de não dar o braço a torcer para Bianca, o que ia contra todos os protestos de ciúmes que conflitavam contra o orgulho.

- Fazer o quê? - Bianca deu de ombros, atendendo a chamada por pura implicância. - Bom dia, Bá. - Selena estreitou os olhos para o sorriso radiante da mulher a sua frente. - Claro que podemos. Você pode passar lá no departamento mais tarde e nós podemos ir almoçar juntas, que tal? - Bianca forçou uma risada divertida, ignorando o par de olhos verdes sobre si. - Perfeito. Até breve.

A comandante encerrou a ligação e voltou a atenção para a mais velha concentrada em passar batom nos lábios carnudos.

- Você tem certeza de que não quer conversar sobre essa noite? - Bianca estreitou os olhos, tentando achar qualquer sinal contraditório na juíza.

- Eu já disse que foi só sexo e não há o que conversar sobre isso.

- Tirando o fato de que você estava ridiculamente excitada por mim. - A menor debochou com um sorriso sacana.

- Pelo que eu me lembre você não estava muito diferente. - Rafaella lhe lançou um sorriso sem dentes.

- Mas eu não estou repetindo que foi só sexo. - Rebateu. - Imagino que não tenha problema eu sair com Bárbara, já que o que aconteceu entre a gente essa noite foi só sexo. - Bianca jogou a isca esperando pescar algo grande, porém a única coisa que conseguiu foi ter seu anzol agarrado nas algas marinhas.

- Seria uma hipocrisia sem tamanho de minha parte te impedir de sair com Bárbara, já que Caon me levará para almoçar essa tarde. - Rafaella ajeitou a alça da bolsa no ombro e pegou a chave do carro no balcão.

- Você só pode estar brincando. - Bianca estreitou os olhos sentindo o corpo se arrepiar com a informação.

- Por que eu estaria? - Rafaella riu descontraída. - Direitos iguais, Bianca. Até mais.

The Middle | Versão RabiaOnde histórias criam vida. Descubra agora