26. "Encontro desastroso"

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Por Manuel:

Vai dar tudo errado!

Eu sabia disto no momento em que pus meu corpo dentro daquele carro elegante. O motorista, que se chamava Steve, era bastante carismático. Falou como Beatriz tinha mudado, e que não reconhecida aquele sorriso em seu rosto. Ela ficou um pouco envergonhada, mas mudou de assunto rápido, perguntando sobre sua esposa e Poppy, a cachorrinha de estimação de Steve.

ㅡ Manuel, você não vai acreditar no que aconteceu no meu primeiro dia de aula no nono ano! Quando o Steve foi me deixar na escola, a Poppy entrou no carro escondida. Não me pergunte como, mas ela ficou calada o caminho todo. ㅡ Bia tentava falar, mas a lembrança a fazia rir sem parar. ㅡ E quando eu ia saindo do carro, ela pulou no meu colo, me derrubando numa poça de lama! O pior de tudo era que meu uniforme, branco como a neve, ficou todo melado de lama.

Ao imaginar a cena na minha cabeça, não pude não deixar de rir também. Uma vez lá no internato, um pequeno vira-lata apareceu no jardim. Na época, eu tinha treze anos, e amava animais. Lembro que enchi um cantil de água e levei para ele. Também peguei um pedaço de pão escondido na cozinha. O cachorrinho pulava com alegria ao ver que iria comer algo. Tentei esconder ele pelo enorme jardim, mas acabaram pegando ele. Doc. Eu o tinha nomeado com esse nome.

ㅡ Você já teve algum animal de estimação? ㅡ perguntei a Bia, enquanto entrávamos na cidade.

ㅡ Ah, uma vez. Um cachorro chamado Tornado. Para falar a verdade, era da minha irmã, mas eu brincava com ele. Você não imagina o tamanho da bagunça que ele fazia. Era, literalmente, um tornado! ㅡ riu, perdida nas lembranças. ㅡ Eu gostaria de ter outro, algum dia...

ㅡ Ok, então eu vou te dar um cachorro. ㅡ propus, com um grande sorriso. ㅡ Eu prometo.

ㅡ Olha que eu vou cobrar, nunca esqueço de uma promessa. ㅡ afirmou, e depositou um selinho em meus lábios.

ㅡ Senhorita, chegamos. ㅡ anunciou Steve, parando o carro na praça principal. Olhei pela janela, e avistei um restaurante extravagante, que, certamente, cobraria até para sentir o cheiro da comida. ㅡ Foi um prazer vê-la novamente, Beatriz. E te conhecer também, Manuel.

ㅡ Digo o mesmo, Steve. ㅡ respondo calorosamente. Bia demora um pouco para se despedir também, mas logo estamos em frente a enorme porta de vidro, a entrada do restaurante.

Entramos com as mãos entrelaçadas, sorrindo um para o outro. Antes de chegarmos à recepção, admiro Beatriz pela milésima vez no dia. Mesmo com o nervosismo, não consigo deixar de lado sua beleza, tanto externa como interna. Pegamos o número da mesa com uma secretária, e seguimos até uma área reservada. Assim que vi Mariano Urquiza, me arrependi profundamente por ter escolhido uma camisa normal e calça jeans. O pai de Bia se encontrava em um elegante terno ônix, com sapatos de marca e um relógio de ouro puro. Não queria prestar atenção nesse tipo de coisa, mas era algo que não conseguia evitar. Qualquer coisa era melhor do que olhar nos olhos dele.

Por um instante, senti seu olhar em mim, mas quando viu a filha, correu para abraça-la. Ficaram assim por muitos segundos, até ele apontar para a mesa e guiá-la à sua cadeira.

ㅡ Beatriz Urquiza, você está esplendidamente maravilhosa. ㅡ a admirou novamente, e a beijou na bochecha. Era óbvio que estava morrendo de saudades. Quem não sentiria, né? Ele apenas me notou novamente quando me juntei à mesa. ㅡ Então essa era a tal pessoa importante que você queria me apresentar, querida?

Certo, eu definitivamente não gostei da forma que ele me olhou.

ㅡ Pai, esse é o Manuel, meu... ㅡ ela lançou um olhar a mim, pedindo ajuda. Como eu poderia ajudar? Bia respirou fundo, e voltou seu olhar para o pai. ㅡ Meu namorado.

intocável | binuel [CONCLUÍDO]Onde histórias criam vida. Descubra agora