PRÓLOGO

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Amores, conheçam o lindo Príncipe Cameron Spencer Lamarck III.👑

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SPENCER

Sangue escorria de minha testa

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Sangue escorria de minha testa.

Um corte lateral sobre a sobrancelha direita me dava boas vindas, faria morada ali por algum tempo. Espasmos percorriam por todos os meus membros; ora meu braço repuxava, ora minha barriga latejava. Mas a dor eu já não sentia, a adrenalina liberada pelo meu corpo era o suficiente para que eu não sentisse mais nada. Absolutamente nada.

Caminhei pela ruela estreita limpando os resquícios da surra que levei de meu rosto cansado. Além do corte em minha testa, meu lábio inferior estava um pouco inchado. Passei a língua pelos dentes e olhei para cima. Parecia ser onze horas da noite ou mais pela altura da lua no céu escuro — não havia como ter certeza sem pertences alguns. A ideia de me orientar pelo céu me irritava, mas ao menos a alta educação recebida durante a minha infância na nobreza tinha vindo a calhar.

Cuspi sobre o chão imundo.

Minhas roupas estavam tão sujas quanto. Limpei com a mão o que consegui, mas desisti quando vi na altura do joelho o rasgo em minha calça. Estava arruinada, disso não havia dúvidas. Lá ia o meu par de calças favorito. Suspirei.

Não havia por que tentar descobrir quem foram e para onde iriam. Se James estivesse por aqui, aqueles infelizes iriam pagar caro. Mas ele não estava mais ao meu lado fazia algum tempo: não posso me esquecer de agradecer meu pai por isso um dia desses. Mas por que ele se importaria com a segurança de um filho que ele mesmo expulsou, não é mesmo?

Ventos frios bateram em meu rosto e me apertei contra meu casaco. Pelo menos isso não eles tinham levado. Uma lua minguante brilhava fraca sobre toda a pequena cidade, carros passavam de vez em quando, mas ninguém parou para saber por que um cara qualquer mancava e pingava sangue pela rua. Ninguém ali sabia quem eu era e isso justificava meu atual estado: sujo, pobre, com fome e exausto. Impressionantemente, por mais ferrado que eu estivesse, a sensação de não precisar explicar nada, nem cumprir obrigações e expectativas de completos desconhecidos — ou do homem que me botou no mundo — era boa. Muito boa.

Podia ser quem eu sempre fui e a vida nobre e engessada nunca me permitiu. Não importava mais com a ressaca do dia seguinte, porque todos os meus compromissos de príncipe deixaram de existir. E pensar que houve uma época que eu acreditava no caráter dos monarcas. Mas não demorou muito para eu perceber a verdade sobre a realeza. O amargor em minha boca se transformou num sabor adocicado metafórico quando pensei nas possibilidades infinitas as quais poderia me submeter agora que estava livre. Talvez uma surra ou outra valesse a pena se com elas viessem acompanhadas a liberdade e a independência.

Os pensamentos me alimentaram pelos metros que percorria arrastando meu corpo acabado. Aquele não seria o meu fim, definitivamente não estava nem perto disso. Talvez o começo. Sim, aquele era o começo de Cameron Spencer Lamarck III, o verdadeiro. Com suas falhas expostas e um ótimo senso de diversão. Não era para isso que viemos ao mundo? Aproveitar a mortalidade enquanto somos jovens e bonitos. Expulso ou não, com pertences ou sem, eu ainda tinha alguns truques na manga.

Sorri entre dentes ao ver um barzinho surgir do outro lado da rua.

A lua iluminava a sua fachada, com janelas escuras e impossíveis de ver através pelo lado de fora. Uma ou outra pessoa andava pela rua, mas ninguém parecia querer entrar no lugar, fechado demais, esquisito demais. O que significava que ninguém iria perceber um cara como eu passando. Logo, o lugar perfeito. Minha sorte não estava das piores no final das contas. Caminhei lentamente para não ferrar mais ainda com a minha perna, esperei um carro sair da frente e me preparei para entrar no que a placa chamava de For Get Bar. Lugares como aquele eram meu habitat natural, mais casa que o castelo gigantesco que nasci jamais foi.

Então, quando entrei, respirei ar puro.

A primeira coisa em que reparei foi nas enormes bancadas. Várias garrafas de bebida pousavam sobre ela deixando marcas de água em forma arredondada. Um homem e uma mulher atrás dos balcões preparavam bebidas, ambos bonitos, como dita toda política de bar: atendentes atraentes atraem mais do que simples olhares.

As paredes atrás deles, além de mais e mais estantes cheias de garrafas semivazias, estavam abarrotadas de quadros. Ilustrações de cavalos, motocicletas, de mulheres com pouca roupa e silhuetas bem definidas e algumas plaquetas com frases que alguém com péssimo senso de humor julgaria engraçadas. No canto mais extremo, fotos. Mesmo de longe, eu sabia de que se tratava aquele canto. O mural dos famosos, dos amigos da casa, dos clientes mais chegados, dos maiores bêbados de todo os lugares. Havia diversas variações, mas em todo bar sempre tinha um mural daquele. No reino, muitos bares tinham fotos minhas. Mas ali eu era um qualquer.

Ainda sorrindo andei por meio das pessoas em direção aos banheiros que ficavam aos fundos. Ninguém virou a cabeça para me enxergar, ninguém se importava. Esbarrei num cara barrigudo que murmurou alguma coisa, mas ignorou quando percebeu que eu mancava. Um cheiro forte de álcool subiu pelo meu nariz e eu parei um segundo para apreciá-lo.

Quando passei pelo corredor que me levava ao banheiro masculino, reparei nas paredes mais quadros e algumas manchas avermelhadas pinceladas por cima da tinta alaranjada. Aquele bar era adepto de brigas e não tinha vergonha nenhuma em mostrar.

Abaixei a cabeça, uma surra estava de bom tamanho para uma única noite.

Entrei no cômodo, um cheiro forte de urina me atordoou. Banheiros masculinos eram nojentos. Era a parte de um bar que eu nunca me acostumaria. Crescer com o luxo de azulejos caríssimos, reluzentes e lustrados quase todos os dias tornava a higiene e o conforto um hábito difícil de largar.

E sempre me lembrava de que mesmo estando rodeado de bêbados, viciados e vagabundos, eu estava longe de ser um deles.

Liguei a torneira — a única que funcionava — e passei água pelas partes mais sensíveis de meu rosto. Tirei a sujeira e o sangue o máximo que pude e que a dor, que voltava a aparecer, permitiu. Puxei o lábio, havia um corte nele também. Beber seria uma tarefa complicada naquela noite, mas quem se importava com a dor? Eu certamente não. Naquele momento, não me importava com nada. E depois do terceiro copo, tudo sempre descia mais fácil. Encarei meu reflexo e passei a mão pelos meus cabelos, estavam compridos. Os fios castanhos escuros deslizaram pelos meus dedos e caíram sobre minha testa. Meus olhos fitavam a mim mesmo com atenção, a pele sobre os olhos ficando meio amarelada. Daria uma bela cicatriz.

Sorri comigo mesmo.

Sorri comigo mesmo

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SIGAM PARA O PRÓXIMO CAPÍTULO E ME CONTEM O QUE ESTÃO ACHANDO DA NOVA HISTÓRIA.

O SEGREDO E O IMPERADORWhere stories live. Discover now