Capítulo 41

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O clima do bunker ainda fica pesado por uns dois dias, porém os agentes são obrigados a continuar seguindo com o plano. Rich descobre que o que tem na pasta que achou são pistas de onde Madeline busca o ZIP, inclusive que ela disfarça essa proteína como sendo vacinas ou até mesmo outros suprimentos, ou seja a maioria das pessoas nem sabe que estão sendo usadas e manipuladas por essa mulher. Jane se prepara fisicamente e tenta fazer com que Tasha também participe, numa tentativa de tirar a cabeça da amiga do acontecido com sua filha. Kurt acaba ficando responsável por conseguir os mantimentos. E Patterson mesmo com sua saúde piorando progressivamente, ainda se mantém nos estudos para a alteração do ZIP, através de um pequeno tanque de amostra que Kurt conseguira no dia anterior.
— Escuta, eu sei na pele o que estão sentindo... Eu sei qual é a sensação de deixar uma filha para trás... Afinal eu deixei a Bethany e, até então, não sei como ela está... — Diz Kurt ao perceber que todos estão super dispersos na pequena reunião para o repasse do plano. — É a pior sensação da face do universo, mas eu penso que será temporário. E vai ser, tenho fé na gente. Somos a equipe dos sonhos não somos?
— É... Somos sim! — Diz Jane levantando a cabeça e sorrindo, numa tentativa de animar um pouco mais a galera.
— E vocês ainda tem a vantagem de irem ver a Hope se a saudade apertar muito... — Diz Kurt bagunçando os cabelos de Patterson que chia e volta a dedilhar a cabeça enquanto olha a tela do computador que carrega alguma coisa.
— Okay, vamos lá... — Diz Patterson assim que o computador anuncia que alguma coisa completou — O ZIP projetado para a bomba precisa ficar numa pressão e temperatura determinada para que o efeito seja eficaz... Descobri que se você trocar as válvulas de resfriamento e liberação de lugar, o ZIP potencialmente diminuirá o efeito. E eu projetei uma porca com um rastreador GPS com a impressora 3D que o Rich arrumou com o Ice Cream.
— Então eles ainda terão o efeito da perda de memória? — Pergunta Jane com uma expressão preocupada enquanto olha o projeto de Patterson no computador.
— Infelizmente para que perca o efeito, eu teria que mexer no carregamento e não temos como fazer isso... Então no que eu pensei... Em diminuir a potencia do gás e rastrear as entregas e assim que chegar nos EUA a gente emite um alerta.
— Parece um ótimo plano pra mim... — Diz Tasha descruzando os braços e apoiando uma das mãos gentilmente no ombro de sua esposa.— Mas querida, como vamos provar que Madeline orquestrou isso tudo com a ajuda da Sandstorm sendo que todo o acesso que tínhamos, nos foi tirado a partir do momento em que fomos mandados para a Islândia?
— É ai que Rich entra na história. Por ser um criminoso a vida toda...
— Hey! Eu me converti tá? — Diz Rich interrompendo Patterson que rola os olhos. — É... Mais ou menos...
— Enfim, ele desconfiou de que a ida para a Islândia era uma armadilha, então para não entregar o plano para Madeline, ele apagou todos os rastros de que estávamos monitorando ela através do Backdoor que tivemos acesso... Só temos um porém... — Diz Patterson acessando alguns arquivos. — Não temos mais acesso ao vírus do celular de Madeline, a chave que tínhamos não funciona mais...
— Como conseguiram acessar da última vez? — Pergunta Kurt se aproximando também dos computadores.
— Bom, foi naquela missão que eu fui designada ano passado pela CIA. Me mandaram transferir algo para o computador pessoal da Madeline e foi aí que eu consegui também os arquivos da tatuagem da Patterson... — Responde Tasha.
— Eu estou sem acessos aos arquivos da minha tatuagem, por motivos óbvios... Por Deus como é estranha essa frase... — Diz Patterson olhando para Jane que solta um risinho baixo — Geralmente as da Jane que são os centros das investigações... Parece que o jogo virou...
— Então... Eu até tive uma ideia, mas talvez não gostem tanto... — Diz Rich mordendo os lábios. E todos olham para ele com cara de "desembucha logo". — Ice Cream é o criador do novo App de mensagens que Madeline usa... Ele com toda a certeza mantém um backdoor, assim como nós mantivemos no Wizards Ville. Se eles nos der o acesso, podemos voltar a monitorar ela.
— Isso significa que vamos ter que roubar mais alguma coisa... — Diz Kurt passando as mãos no rosto.
— Foda-se, só veja o que ele quer dessa vez... Um roubo a mais na nossa conta, não fará diferença... — Diz Patterson cruzando os braços e olhando para todos da equipe e todos parecem concordar por não terem outra saída.
Rich então imprime um modelo 3D do cilindro semelhante aos que a Sandstorm usa para armazenar o ZIP, para que Kurt, Jane e Zapata treinem a adulteração sem que não se comprometam e sejam "zipados". Já Patterson, por mais cansada e angustiada que esteja, ela trabalha para ativar os aparelhos GPS para que sejam implantados nos carregamentos. A loira inclusive arruma um rastreador discreto para os agentes que sairão em missão, afim de monitorar todos e não haver nenhum erro. A tensão dos agentes no treinamento, é palpável e paira como uma silenciosa neblina sob o bunker. Não se ouve nem mesmo a respiração de nenhum deles, apenas o teclar frenético da Patterson ao fundo.
— Por mais que eu saiba que esse não é o real, eu ainda tenho medo de falhar na hora. — Diz Jane cortando essa tensão como se fosse um tecido fino.
— Você consegue, já desarmamos bombas perigosas. Isso vai ser fácil! — Diz Weller tentando descontrair.
— A diferença é que essa pode limpar toda a nossa memória. E acho que o medo da Jane é justamente esse... — Diz Zapata apertando a porca no local indicado. Jane concorda com a cabeça e Kurt apenas morde os lábios.
— Ninguém vai ficar desmemoriado, vocês foram ótimos. Eu acompanhei o progresso de vocês pelo tablet. — Diz Rich mostrando os resultados para a equipe. — Vocês já estão hábeis para a missão, agora é só executar!
— Enquanto vocês executam essa pequena missão, eu e o Rich ficaremos encarregados de entrar em contato com o Ice Cream além de assessorar vocês claro. Assim dependendo do que ele pedir, a gente já procura e não perdemos tempo. — Diz Patterson entregando para cada um dos agentes uma porca e um botão. Ambos localizadores de GPS. — Assim que colocarem as porcas, me avisem para que eu ative o sinal okay?
— Sim senhora! — Responde Tasha num leve tom de descontração e Patterson sorri com a bobeira da esposa.
Tasha então se despede de Patterson com um beijo cheio de receio e preocupação e segue junto à Jane e Kurt para o local do armazém de contêineres onde pretendem adulterar os cilindros de ZIP. Já Patterson e Rich ficam no bunker afim de monitorar e adiantar outras partes do longo trabalho que terão pela frente, de descobrir quem é o ajudante secreto, como vão derrubar a Sandstorm e tudo mais.
— Acho que estou passando tempo demais na frente do computador, vou precisar de óculos, minha visão está péssima. Miopia está gritando! — Diz Patterson esfregando os olhos numa tentativa frustrada de que aquilo melhore sua visão.
— Se levante um pouco, lave o rosto e tome uma água... Deve ser apenas cansaço, afinal estamos horas sem parar no computador... — Diz Rich sem tirar muito a atenção do computador em que está trabalhando.
Patterson resolve obedecer a dica do amigo, vai até o banheiro e lava o rosto com água gelada. Sua cabeça que já estava doendo antes fica insuportável, como se estivessem espinhos em seu cérebro e seu peito começa a arder. A loira então se move o mais rápido que consegue para a cozinha afim de tomar um copo de água para tentar acalmar, o que quer que aquilo fosse de novo.
— Rich... — Grita Patterson ao perceber que a falta de ar começa a dar sinal. — Eu não estou bem!
— Patterson, me chamou? — Pergunta Rich desviando o olhar do computador. Ele estranha a falta de respostas da amiga e então vai até ela. Encontra uma Patterson catatônica apoiada no tanque que tem na cozinha após, aparentemente ter vomitado o café da manhã. — Por Deus Patterson! Vem, vamos até a enfermaria. É a quarta vez em menos de dois dias. Eu estou muito preocupado com você!
Rich então conduz a loira até a enfermaria e lá lhe confere a pressão que novamente está alta. Ele estranha, pois esses mesmos sintomas persistem ao longo das semanas, mesmo ele tendo controlado a sua dieta junto a sua esposa e arranjando remédios para controlar a pressão. Ele faz algumas pesquisas na internet afim de confirmar o que já tinha em mente e então resolve seguir com o "Plano B".
— Bom, eu quero confirmar uma coisinha... — Diz Rich tirando das coisas dele um Clear Blue, um teste de gravidez digital e entregando à Patterson.
A loira está tão desorientada que logo pensa ser um termômetro e já abre a boca para que sua temperatura seja medida.
— Não é um termômetro Patty Cakes... — Diz Rich calmante passando as mãos pelos longos fios loiros da garota. Ele indica para que ela vá até o banheiro.
— Rich isso é ridículo, eu já te falei que não tem como eu estar grávida... — Diz Patterson seguindo os passos do teste rápido. — Eu estou horrível, por favor me ajuda pra eu voltar ao trabalho... — Resmunga Patterson aguardando o resultado.
— Calma minha querida, se eu te desse o remédio antes do teste, ele talvez pudesse alterar o resultado. — Responde Rich terminando de preparar uma bolsa de soro e entregando alguns comprimidos à Patterson assim que ela sai do banheiro.
Rich então ajuda sua amiga a se deitar na maca após ela tomar as pílulas para dor e pressão. Faz o acesso venoso e deixa o soro correr. Nesse meio tempo ja deu o resulta do teste. Ele sente o seu chão inteirinho virar uma grande gelatina quando observa o resultado. Não se ouve a respiração de Rich, pois nem isso ele consegue.
— E então...? — Pergunta Patterson ao perceber que seu colega parece nada mais do que uma estátua de costas para ela.
— Deu positivo! E acusa 3/4 meses... — Diz Rich se virando para Patterson que congela numa expressão de puro choque. — Eu já estava desconfiado há tempos Patterson...
— Não pode ser! Eu fiz os testes, todos negativos e eu mesma fiz a ultrassom no laboratório lá no FBI, não tinha saco embrionário. — Diz Patterson tomando o teste das mãos de Rich e conferindo. — Isso tem que estar errado!
— Você fez o teste de sangue? — Pergunta Rich se sentando numa cadeira , suas pernas estão bambas e sua cabeça girando.
— Não deu tempo... — Diz Patterson tentando manter a calma para que seu estado não piore.
Rich logo se recupera do susto inicial e corre para pegar o aparelho de ultrassom portátil que Jane conseguiu, após julgar extremamente necessário, pois tinham uma mulher grávida no time. Assim que ele passa o aparelho sobre a barriga de Patterson que agora percebe que está levemente saliente, ele vê uma massa escura e conseguem ouvir um chiado que julgam por ser o coração do possível bebê batendo. Ambos se sentem perdidos no que sentir, afinal mal da para ver o que tem ali.
— Eu acho que essa massa pode ser sangue, uma coágulo... — Diz Rich ainda atordoado.
Patterson não fala absolutamente nada, ela não consegue. Seus pensamentos brigam entre se acalmar e entrar totalmente em pânico.
— Ainda bem que por precaução, eu arranjei Heparina... — Diz Rich tirando das coisas dele uma caixa e dela tira uma pequena seringa já com uma agulha e com o remédio dentro.
— Pelo menos acho que vai ajudar a sumir com esse possível coagulo no meu útero. E que seja apenas ele sinceramente... — Diz Patterson respirando fundo tentando se acalmar da melhor forma possível.
Rich então após uma rápida lida na bula, passa um algodão com álcool no local de Patterson, na altura do útero e aplica a injeção diretamente na barriga da loira que sequer esboça qualquer reação.
— Descansa, você logo vai ficar bem okay? Mais tarde um pouco a gente repete a ultrassom pra ver de qual é... — Diz Rich pegando as mãos de Patterson que sorri cansada.
— Tem certeza? — Pergunta Patterson ainda se sentindo péssima.
— Sim, eu dou conta. Os outros da equipe ainda não chegaram no local. Pelos cálculos ainda falta uma hora pra chegarem. Assim que o soro acabar, você me chama ta bem? — Diz Rich voltando para o seu posto. Patterson apenas concorda com a cabeça.
Por mais que a mente da loira esteja agitada, ela consegue pegar no sono com uma certa facilidade. Se rende após a quantidade de remédio e cansaço que fazem efeito rapidamente.
Rich mal consegue se concentrar no seu trabalho, preocupado com a condição de sua parceira. E se ela estiver mesmo grávida, as coisas serão ainda mais complicadas. Não pelo fato de ser uma gravidez de risco, mas sim pelo risco que estão correndo. É um péssimo momento para se ter um bebê e eles já passaram por isso não tem muito tempo. As marcas são recentes. E isso martela a cabeça de Rich por alguns minutos.
A voz de Zapata perguntando como estão as coisas, resgata Rich desses pensamentos, fazendo-o suspirar e prestar a atenção no trabalho.
— Está tudo sob controle Tash, sua esposa teve outro pico de pressão, mas já resolvemos. — Diz Rich esfregando as mãos no rosto — Coloquei ela no soro e esta descansando um pouco.
— Eu estou ficando cada vez mais preocupada com a saúde da Willie, mas ela fica toda arisca e fica dizendo que está tudo bem. Eu não sei mais o que fazer com ela cara... — Diz Zapata manifestando sua preocupação em seu tom de voz.
— Vai ficar tudo bem... Agora é só focar na missão pra gente resolver isso de uma vez por todas. — Diz Rich para mais acalmar a si mesmo do que Tasha — Não precisa se preocupar com a Patty Cakes agora, acho que descobri qual o problema e sei como resolver. Só confia em mim...
— Okay, eu me sinto melhor agora. Obrigada Rich! — Diz Zapata depositando confiança no amigo.
Patterson não sonha com nada, porém acorda se sentindo muito melhor, não tinha dormido tão bem assim desde que chegaram nesse bunker. Se pergunta se todo aquele papo de gravidez por um acaso não foi na verdade um sonho no começo desse apagão que teve. Ela se levanta, interrompe o fluxo do soro e chama Rich que prontamente aparece.
— Quanto tempo eu dormi? — Pergunta Patterson ao perceber que o seu soro está apenas na metade.
— Uns vinte/trinta minutos... Se sente melhor? — Pergunta Rich indo pegar o aparelho de pressão e colocando-o na loira.
— Sim, eu não me sinto tão bem assim desde que chegamos aqui... — Diz Patterson se espreguiçando — E os outros, já chegaram?
— Quase, acabaram de entrar numa área remota e sem sinal, mas já estão quase lá... — Diz Rich verificando que a pressão de Patterson se normalizou. Ele pega o ultrassom e puxa a blusa dela para cima com cuidado, revelando novamente aquela tímida curva. — Temos que ser rápidos, já já a equipe estará precisando de nós.
— Tá bem, vamos ver se o coágulo sumiu, ou pelo menos diminuiu... — Diz Patterson se deitando com as mãos entrelaçadas atrás da cabeça.
Rich então encosta o aparelho na barriga da loira e ambos ouvem o mesmo chiado, só que desordenado e um pouco mais alto. Ele nota que o coágulo praticamente fora todo reabsorvido, ficando consideravelmente menor. O moreno fica catatônico quando confirma que Patterson está mesmo grávida, contudo não é só isso que o choca.
— Patterson, você está mesmo grávida... Mas não é de um bebê... — Diz Rich ainda em choque. Ele tenta esconder o nervosismo, mas é totalmente inútil.
— Como assim Rich? É um mioma? — Pergunta Patterson ficando nervosa.
— Não Patterson, você está  grávida e não é só um bebê... São dois! São gêmeos! — Rich permanece bestificado com a noticia. Isso explica os chiados, eram os corações dos bebês batendo em ritmos diferentes.
Patterson só consegue levar a mão direita até a boca que esta semi-aberta. É como se tivesse uma onda elétrica muito forte percorrendo seu corpo no momento e com isso fazendo-o estremecer por inteiro.
— E confirmando o que eu tinha pesquisado um pouco mais cedo... Os sintomas que você sentia, era um pré eclâmpsia. Com certeza isso aconteceu pela falta da Heparina. Por sorte você não entrou em convulsão. Você poderia ter abortado ou pior, ter morrido — Diz Rich agitando as mãos nervoso — A Tasha vai ficar tão chocada quanto nós...
— Eu não posso contar pra ela... Não agora Rich... — A voz de Patterson sai quebradiça e logo é possível ver uma lágrima escorrendo pela bochecha perolada dela. — Ela não vai suportar, acabamos de nos afastar da nossa Hope e eu preciso pensar no que fazer...
— Eu entendo o seu medo, de verdade. Eu sou o pai da Hope e pai dessas duas criaturinhas ai dentro... Mas não acho que deva esconder da Zapata. Ela é sua esposa e você não deve mentir pra ela... — Diz Rich limpando o gel da barriga de Patterson.
— Você tem razão... Eu vou me recompor e assim que for o momento certo, eu conto. No mais vamos voltar ao trabalho!

*Música de encerramento da série*

All The Things She SaidWhere stories live. Discover now