- O que você acha que tá fazendo?
A voz da minha mãe me fez acordar do transe que eu estava, me virei pra ela ainda trêmula segurando com força o pincel pingando sangue na mão .
- o que aconteceu? Porque tá aqui fora? Como assim... Como assim? Phil? Phil? - Mamãe gritou parada a poucos passos olhando pra mim e pra porta atrás de mim .
Eu podia derrubar ela e fugir, não seria nada perto do que tinha feito lá dentro, tinha que pensar rápido, rápido rápido!
- Mamãe eu...
- Calada! Você tá morta garota! - e com dois passos dela e mais um meu empurrei ela que foi direto no chão.
- Mamãe por favor eu só quero ir... Me deixa ir... - pulei em cima dela segurando seus pulsos no alto da cabeça tentando fazer ela ficar calma.
- Ir? Você acha mesmo que pode simplismemte ir? Quando eu soltar eles você sabe o que vai acontecer não é? - Ela não desgrudava os olhos da porta, eu podia sentir o cheiro do álcool vindo dela e sabia que se eu me rendesse agora eu morreria.
- Por favor fica quieta ! Eu não quero machucar você mamãe ... Por favor ! - gritei e ela me empurrou pra longe ficando de pé.
- Me machucar ? Menina idiota! - Olhei ao redor tentando achar algo que pudesse me ajudar a sair dali, tinha um muro alto e logo depois a cabana, e depois de lá tinha com certeza uma porta , eu ia chegar até lá , tinha que chegar.
Tentei passar por ela, mais fui empurrada novamente, eu não queria brigar com ela mesmo sendo machucada a vida toda por ela.
- De joelhos Briana! Vamos! - A voz dela era rouca e parecia meia lenta , estava bêbada e não tinha muita força.
- Agora! Você tá surta? - Fiz o que ela mandou e me preparei.
- Fique aí parada desgraçada ! - de joelhos eu a vi chorar tentando abrir a porta desesperada sem sucesso, eu já tinha jogado as chaves fora fazia um tempo.
- Phil? Phil! Meu amor eu vou te tirar daí! - ela gritava esmurrando a porta, e os gritos do vovô dizendo que ia me matar vindo lá de dentro se misturavam e tudo que aconteceu em seguida foi a única escolha que eu tive.
Peguei um pedaço grosso de madeira e bati com ele na cabeça da minha mãe , ela apagou na hora e eu tive que usar toda minha força pra arrastar ela pra dentro da cabana .
- Me desculpa, me desculpa mamãe... - eu sussurrava entre mil e um soluços , eu mal sabia o que estava fazendo só sabia que tinha que fazer, eu nunca tive escolhas mais agora parecia que pela primeira vez eu tinha .
Amarrei ela na perna da mesa de aço que tinha no meio da cozinha .
Olhei em volta e me dei conta de como aquele lugar era sujo, tudo parecia de ferro e aço, as portas também igual as do ateliê, tudo parecia velho e escuro, tinha o cheiro forte de café que eu sentia toda manhã e algumas brechas no piso gelado, então era assim a casa que eles moravam.
Tinha uma escada velha e uma fogão de lenha que estava acesso, segurei firme o pedaço de madeira e coloquei no fogo ficando alguns minutos parada ali me aquecendo.Tirei o vestido rosa rasgado e vesti uma camisa limpa que estava em uma cadeira, eu tinha que sair dali rápido , mais pra onde?
Andei ao redor olhando a mesa cheia de ervas e misturas da minha mãe, fiquei tentada a tomar o chá pra aliviar a dor de cabeça, mais mamãe acordou me chamando. Droga! Não era pra ela acordar agora!
- Você ... Você garota! Eu odeio você , odeio tudo em você! Odiei quando você nasceu! Odiei odiei! Eu sabia que isso ia acabar acontecendo, eu sabia .
Ela berrava olhando com ódio pra mim, e eu só conseguia olhar de volta pra ela sem entender todo esse ódio por mim, o que eu tinha feito de tão ruim?
- O que? O que tá olhando? Você não passa de uma vadia drogada que mantinha os clientes em na nossa mão! Só por isso a gente precisava de você! - os olhos dela enquanto falava tudo aquilo pra mim me fazia tremer , porque eu sabia que era a verdade, eu só nunca entendi o porque , e essa era a hora perfeita pra saber .
- Porque? - sussurrei mais baixo do que queria, as vezes eu esquecia até o som da minha voz .
- Porque ? Porque ? Eu sou sua filha ... Sou filha do papai, e o vovó, o vovó... Porque mamãe? Porque deixava eles fazerem aquilo... Porque? - Eu gritava agora com força, me sentindo sufocada por todas as perguntas que guardei anos.
Ela ficou alguns minutos me encarando em silencio.
- Fala! Por favor eu preciso saber, preciso saber. - implorei me ajoelhando perto dela pronta pra ouvir qualquer coisa.
- Eu nunca quis você, foi ele .. aquele velho imbecil que me obrigou a ter você... Eu odeio ele por isso. E o seu pai ele sempre olhou pra você diferente, sempre saia no meio da noite! Eu sabia bem onde e com quem ele estava, eu sabia de tudo! De tudo! De tudo! - A voz dela tremia e as lágrimas saiam com facilidade mais ela não olhava pra mim agora, com a cabeça baixa ela soluçava .
- Como eu podia sentir amor por uma vadiazinha que saiu de mim e tomou tudo de mim, o Phil ! Ele é meu marido droga! O velho, aquele nojento! eu sabia que ele ia te usar prós negócios sujos dele! Os dois só tinham olhos pra você ! E eu? Eu só servia pra fazer café e cuidar da casa em pedaços. - Abracei meus joelhos junto ao peito e deixei sair toda dor que tinha em mim, eu esperei tanto pra ouvir aquilo tudo , esperei tanto pra saber o porquê de tudo e agora que eu sabia , parecia que tudo estava rasgando por dentro,parecia que eu ia parar de respirar a qualquer momento.
- Ele me amava... Ele já me amou, eu era feliz! Aí você nasceu. E cresceu. E tirou tudo de mim! Eu odeio você, odiei o seu primeiro choro, e odeio você agora, então se você não vai me matar agora , eu vou matar você! - a dor e a raiva na voz dela me acertavam como tapas .
- mamãe eu não entendo...
- Eu esperava tanto que as surras deles acabesem te matando , todas as vezes que eu ia cuidar das suas feridas eu esperava ver você morta, mais você nunca morria droga! - Aquilo doía mais que as surras que vovó dava.
Ela gostava daquilo, gostava de me ver sofrer , eu queria dizer pra ela que eu também queria ter morrido em cada uma daquelas surras mais ela não merecia saber .
E antes que eu pudesse me mover senti a pancada no meu rosto e logo em seguida senti arder meu braço.- Eu falei que ia matar você não falei! E eu vou! - mais uma bancada na cabeça e eu apaguei.
Quando acordei , tudo estava embaçado e quente, fogo! Era fogo! Tudo estava pegando fogo, me levantei e sai segurando na parede até a porta do quintal, o fogo estava alto por toda parte lá o ateliê estava em chamas, quando me virei lá estava ela parava com uma faca na mão me olhando , eu não reconhecia aqueles olhos, não parecia ela.
- Rápido vamos sair daqui, isso tudo aqui vai cair! - corri até ela mais antes de chegar até lá ela levantou a faca e enfiou na própria barriga duas vezes.
- Não! Não! Mãe! - joguei a faca longe e segurando a cabeça dela tentei controlar todo o sangue que saia sem parar. Droga!
- É tudo culpa.... Sua...
E sem conseguir dizer mais nada ela fechou os olhos e eu fiquei lá gritando pra ela não ir, gritando desculpas! Gritando todo o desespero de ser quem eu era, por ter nascido, por ter tirado toda a felicidade dela.
O teto começou a cair, e tudo ficou mais quente e com mais fumaça, eu tinha que sair.
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Com Todas As Forças
RomanceNas profundezas de Atlanta, Briana nasceu e viveu trancada em um pequeno ateliê, onde o único lugar pra respirar e ver a luz do dia era uma pequena abertura no teto. Selvagem, e sem nunca ter visto o lado de fora, ela apenas sobreviveu como pôde. Qu...