2. Enfrentando a escuridão

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Antes que Myra pudesse pensar muito no que acabara de ver, escuta um barulho em sua porta, algo parecido com o de sua lata de lixo caindo. E não, não era um gambá ou algo do tipo como uma vez aconteceu em sua infância que a levou a travar uma investigação apurada para descobrir o que fazia barulho toda madrugada na cozinha, e no fim, era um gambá que escolheu a lixeira de sua família para tirar seus longos cochilos noturnos.

Dessa vez, era Valerie, uma mulher com olhos grandes e doces, cada um de uma cor: Esverdeado e marrom. Seus cabelos eram médios castanho escuro, tinha lindas pernas torneadas, usava blusas de mangas pretas e era incrivelmente baixa. Ela estava buscando por algo, assim como todos naquela noite, aparentemente. Ao ser questionada por Myra, desconfiada não quis lhe contar muito bem o que procurava mas fez questão de dizer que era valioso e que tinha a ver com o apagão da cidade.

Não quis responder mais perguntas, embora parecesse necessitar de ajuda e estar confusa. Ao notar isso, Myra a faz uma proposta. Se respondesse suas perguntas e a ajudasse, a ajudaria de volta a encontrar sua coisa valiosa, visto que era uma detetive renomada em sua cidade. Mostrou-lhe o distintivo, e mesmo parecendo um pouco desacreditada nele ou em suas capacidades investigativas, a moça aceita a ajuda.

Myra então abriu sua mochila e duas lanternas foram retiradas, junto com sua 45 Winchester Magnum a arma que seu pai havia lhe presenteado no último natal em família há 5 anos, ano o qual a mesma iniciava o seu trabalho. Guardou-a em seu cinto para caso precisasse e logo após isso, acendeu seu cigarro e colocou seus óculos escuros arredondados. Seu cabelo loiro quase platinado refletia a luz quando o isqueiro era acendido, como se ela fosse agora uma decoração natalina. A única naquele momento.

Valerie e Myra vasculharam a casa enquanto trocavam algumas palavras. Valerie contou sobre seu aniversário de 24 anos e a total falta de presentes e músicas que se recebe nessa idade, dizia que achava que por causa de um sonho que teve sempre acreditava que não passaria disso. Mas ali estava ela novamente, e sempre perdendo algo valioso todos os anos... Mas que nesse ano, ela não deixaria acontecer de novo.

Ao vasculhar a caixa d'gua escura, Valerie pareceu desnorteada, estava com medo ao olhar para seu próprio rosto refletido na água e a tampou rapidamente dizendo — Desculpe, eu tenho Talassofobia e Batofobia simultaneamente.  — Que era medo do que se poderia ter no fundo de águas escuras e de profundidades ou alturas muito avançadas.

Myra então, oferecendo um cigarro a Valerie que recusara; a pergunta

— Por que você acha que esse ano algo seria diferente se todos os anos passados foram iguais? Eu quase não acredito mais em mudanças de hábitos. Enquanto resolvia casos na cidade grande minha mãe falecia aos poucos e não me contou porque sabia que largaria tudo. Me sinto uma idiota por o maior caso e mais importante ter passado despercebido debaixo de meu nariz... — Dando uma longa pausa para soltar a fumaça, continuou — Minha avó teve câncer, minha mãe tem câncer. Eu terei câncer. Fim da história.— Ela deu seu último trago no cigarro que já estava na bituca em sua boca.

E Valerie com seus olhos doces e maçãs do rosto marcadas e coradas talvez pelo frio ou pela luz escarlate do cigarro, deu um leve sorriso e disse

Tire essa fumaça de perto de nós
e tenha um pouco de fé, Myra.

A noite mais longa do invernoDonde viven las historias. Descúbrelo ahora