3. Um crime perfeito

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Um miado agudo as assustam enquanto vasculhavam os quartos no superior da residência. E por incrível que pareça uma pista inusitada as levariam até outra casa: um gato. Isso mesmo, um gato preto aparece com uma coleira, mas Myra não se lembrava de terem mencionado que tinham um. Aliás, seu pai era alérgico e jamais a deixou ter gatos em casa quando mais nova. Isso era estranho, ele andava pela casa como se fosse acostumado a isso e como se não fossem estranhas. Ele não era nada arisco.

O gato, estava alegre e se enroscava com o rabo em Valerie. Myra acendeu um cigarro novamente enquanto pensava. Algo a intrigava nele, era quase como se ele pudesse expressar com seu corpo e olhar. Na coleira havia o nome e endereço do dono. Enquanto o acariciava, perguntou a Valerie:

— Como posso te ajudar a encontrar seu algo valioso se não sei o que é?

— Você deveria parar de fumar. — A respondeu, batendo as mãos pelo ar para expulsar a fumaça ao seu redor. — Bom, eu passei um tempo precioso arruinando tudo, talvez eu tenha entendido o que aconteceu agora, talvez essa continuará sendo a noite mais longa do inverno por muito mais tempo... E a culpa não é sua. — E ao se abaixar para também acariciar de volta o gato, um colar de cruz em seu pescoço escapa por entre a gola alta da blusa de frio. E uma marca em seu pescoço também podia ser vista.

Valerie aparentava melancólica de repente. Sem encontrar mais vestígios de nada na casa, Myra resolve então seguir interrogando os vizinhos, e decidiu começar pelo dono do gato. Apesar de tudo estar completamente sombrio, este abriu a porta sem muita demora após avistar o gato em seus braços. Ao contrário de outros que naquela noite à medida que se aproximavam, colocavam mais uma tranca na porta.

Ele informa que o gato foi adotado há uns 3 anos achado perdido perto de um beco há alguns quarteirões dali. Era uma noite chuvosa e eles o pegaram ensopado e assustado. Ele adorava sair mas curiosamente, sempre em dias de natal sumia pelo dia inteiro e só voltava no outro dia.

Nesse momento, o gato até então dócil, deu um salto do colo de Myra para o chão rapidamente arranhando seu braço e ele chiava paralisado olhando para o outro quarteirão pela janela grande de vidro. Nesse momento Myra teve um dejavu do seu sonho, e uma dor de cabeça e frio intenso. Aqueceu suas mãos na jaqueta e o ar de sua boca e nariz saiam vaporizados.

Notou novamente a umidade em seus bolsos e aquela específica folha de árvore cor de vinho que havia jogado pela janela do trem, seca. Ela tirou-a para fora e a quebrou em pedaços se lembrando de seus recorrentes sonhos.

Logo á vista tinha um Outdoor, mas não incandescente. Talvez agora não estivesse assim porque a cidade não tinha mais luz. Myra e Valerie como por um extinto correm para o quarteirão e no final dele dava para ver um rio, onde por cima estava uma enorme ponte. Ela o atravessou sozinha porque Valerie se demonstrou travada assim que avistou o rio por conta de sua fobia; e do outro lado, avistou um corpo quase que escondido por entre as pedras e havia uma carta e uma corda ao lado.

— Não acho que tenha sido suicídio como queriam que parecesse caso fosse encontrado, acho que foi mesmo um homicídio. — Disse Myra para Valerie, que sem nunca ter visto um corpo antes, ficara chocada, mesmo que de longe.

Parecia um crime perfeito, mas um crime perfeito não deixa suspeitos. E ela sentia por mais estranho que fosse que o suspeito, era o subestimado gato. Ele sabia o que havia acontecido.

A noite mais longa do invernoWhere stories live. Discover now