CAPÍTULO I

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Finzinho de Agosto, 2020

Eu senti o plástico da pulseira no meu pulso esquerdo vibrar, e virei pra ver onde Laura estava.

Nós estávamos fazendo compras no mercado, e minha menina adora vagar por aí. Mas eu não estava preocupada, porque a Manu, minha melhor amiga e madrinha da Laura, estava com ela.

Mas isso não quer dizer que ela não ficasse me atormentando mesmo assim com nossas pulseiras.

Foi minha amiga, Vivian, quem nos deu em nosso aniversário ano passado, e era um negocinho inteligente. Mas a Vivian é assim. Alta tecnologia e criatividade, e especialmente nessa situação, tendo uma filha surda também.

Ela comprou pra mim uma pulseira de couro e pra Laura uma pulseira de prata, adicionou um pedaço quadrado de plástico por dentro do couro da minha pulseira que vibrava quando a Laura apertava um botão em um dos pingentes da pulseira dela. O pingente da pulseira dela mandava um sinal para o receiver da minha pulseira, e sim, ela adorava apertar aquele botão.

Eu tinha que lembrar de falar depois com a Vivian sobre eu ter um maldito botão. Assim, eu também poderia atormentar minha menina. No entanto, conhecendo-a do jeito que conheço, ela provavelmente iria adorar isso.

Depois de olhar vários corredores, eu a encontrei com Manu perto da seção de sorvete. E havia outra mulher também.Outra com uma bunda maravilhosa, devo admitir.

O quê? Eu sou bissexual, e tenho preferência por mulheres sim.

Mas o que me deixou boba, foi quando a morena se agachou e começou a usar linguagem de sinais com minha filha. Aparentemente, a Manu ficou muito chocada também.

Não precisa ser gênio pra sacar que eu fui em direção a elas.

*Eu tenho cinco anos,* eu vi minha filha sinalizar, e supus que a morena de pernas lindas tinha lhe perguntado a idade.

Laura então me viu, e seu pequeno sorriso tímido virou um enorme e bobo enquanto ela acenava pra eu me aproximar.

*Você 'tá acabando comigo com essa pulseira, princesa,* Eu lhe disse com uma piscadinha enquanto me aproximava.

Ela só riu de mim, claro.

Eu então foquei na minha amiga e na... Jesus... linda mulher.

"Rafaella." Manu sorriu irônica. "Essa é a Bianca. Nós malhamos juntas na academia do Emmett. E Bianca, esse é minha amiga, Rafaella."

Eu sorri e ofereci-lhe a mão. "Prazer em conhecê-la, Bianca."

Ela sorriu largamente e apertou minha mão enquanto respondia. "Igualmente, Rafaella. Suponho que a pequena Laura aqui seja sua?"

"Ela é." Eu sorri, olhando para baixo, onde minha menina nos observava com curiosidade.

Isso sempre me incomodou: vê-la curiosa sobre algo que ela não podia ouvir.

Pelo visto, Bianca também notou, e quando ela falou de novo, ela fez sinais ao mesmo tempo. Mais uma vez, me deixando extremamente chocada.

"Ela é uma garota adorável. Manu já havia me falado, mas acredito que suas palavras não lhe fizeram justiça." Ela sorriu, piscando para minha menina.

O rosto de Laura se iluminou como uma árvore de Natal, e por uma coisa tão simples como ser incluída.

"Obrigada." Eu ri de leve, ainda chocada.

"E Bianca, você não me disse que sabia a linguagem de sinais." Manu disse.

"Acho que não surgiu o assunto." Bianca deu de ombros. "Porque convenhamos, do que a gente conversa na esteira, Manu?"

Foi um olhar com significado, e eu fiquei absurdamente curiosa para saber os assuntos tratados por elas nessas conversas.

"Certo, certo." Manu concordou com um sorriso. "Então como você aprendeu?" ela perguntou com curiosidade. E eu tenho que admitir que também estava curiosa.

"Minha mãe me ensinou." Bianca respondeu baixo. "Ela nasceu surda." ela acrescentou sem sinalizar.

"Sinto muito". Manu disse educadamente.

"Não precisa." Bianca respondeu, encerrando o assunto, e sorrindo para minha menina. "Nunca foi um problema. Além do mais, sinalizar é divertido, certo, Laura?"

Laura abriu um sorriso largo e respondeu *A mamãe disse que é como uma língua secreta. Porque muitos não conhecem.*

Eu fiquei ali, sorrindo que nem uma boba pra ela. Tão fofa quando 'tá contente.

"A mamãe 'tá certa, querida. É só pros descolados." Bianca riu baixo.

As três continuaram conversando e eu simplesmente... na verdade aproveitei o momento. Eu adoro observar minha garotinha enquanto ela vai se animando com algo divertido.

E não era nada mal o fato de Laura estar falando com a mulher mais bonita que já vi também.

Ela era realmente maravilhosa. Batia em meus ombros e seus longos fios de cabelos escuros, brilhantes, caiam como uma cascata por seu corpo escultural, que era repleto de tatuagens espalhadas em toda extensão. Sua pele branca realçava seus olhos castanhos. Eles eram completamente intensos e quando me olhavam pareciam tentar me desvendar.

Após mais alguns minutos, Manu e Bianca se despediram, dizendo que se veriam novamente amanhã na academia, e eu meio que tentei, mas falhei ao pensar em apenas coisas decentes.

"Você não foi nem um pouco sutil, querida amiga Rafa" Manu riu enquanto saíamos do mercado.

"O que você quer dizer?" Eu perguntei enquanto apertava o cinto de segurança da Laura.

"Bem, pra ir direto ao ponto, você estava praticamente fodendo ela com os olhos."

"Você sempre vai direto ao ponto." Eu esclareci. "E eu não estava fodendo ninguém com os olhos." Eu acrescentei resmungando... mentindo.

"Claro," ela suspirou, obviamente não acreditando em mim. "Mas só pra você saber, ela está procurando emprego... babá."

Hum...

"E você está procurando alguém pra cuidar da Laura enquanto você está enfiada naquele piano" ela declarou enquanto eu ligava o carro.

Eu estava.

Os próximos meses seriam corridos pra mim, com três grandes projetos, eu precisaria de pelo menos quatro horas, todos os dias, de solidão na minha sala de músicas em casa. E isso, claro, queria dizer que precisaria de ajuda com Laura. Especialmente porque o horário da creche que ela frequentava ia apenas das oito da manhã às três da tarde. Horário estúpido, eu sei, mas achar uma creche que atendesse às necessidades da minha menina não era fácil.

E eu estava sempre no estúdio nesse horário, trabalhando com a minha equipe.

Então, já que Bianca sabe linguagem de sinais, e tem experiência com a situação da Laura...

"Fale-me mais sobre ela" Eu suspirei. 

Quando se trata da Laura, eu aprendi que é uma estupidez jogar uma boa oportunidade fora, porque verdade seja dita: sabe Deus quando a próxima vai aparecer.

"Yes!" Manu sorriu vitoriosa, fazendo com que eu revirasse os olhos.

"Ela é ótima, Rafa... Então, eu não sei tudo sobre ela, já que a gente se conhece só há uns seis meses ou algo assim, e quando a gente malha, a gente conversa sobre assuntos de garotas, sabe. Então eu só vou te dizer o que sei, beleza?"

"Isso seria ótimo" Respondi secamente.

"Então, ela tem dezenove anos e-"

"Espera, o quê?" Eu disse num engasgo. "Ela só tem dezenove anos?!"

Dezenove!

Puta que pariu! Eu sou uma tarada pervertida então!

"O que a idade dela tem a ver com ser uma boa babá, querida?" Manu perguntou presunçosa com uma sobrancelha erguida.

É... o que mesmo?

Merda.

Depois de limpar minha garganta, eu respondi. "Nada, continua."

"Certo." Ela suspirou. "Ela tem dezenove anos, mas... faz aniversário em Outubro..." ela dispersou, provavelmente pensando alto.

Ok, então vinte?

Ainda sim, nova demais pra eu ficar fantasiando.

"Mas então, ela vai começar seu terceiro ano na Julliard. 'Tá estudando dança."

Assenti com a cabeça, sem surpresas. Ela realmente parecia uma dançarina.

Uma dançarina estonteante.

Mas... ãhn, no seu terceiro ano já?

Manu continuou falando da Bianca pelo resto do caminho; ela parecia mesmo perfeita para o trabalho, e já que eu morava há dez minutos de sua faculdade, seria fácil pra ela vir à minha casa depois da aula.

No final das contas, eu pedi à Manu que conversasse com a Bianca sobre o assunto, e se ela estivesse interessada, nós duas poderíamos conversar melhor.

🗼

Primeiro capítulo real e com gostinho de quero mais? Temos!

Eu nunca achei que fosse ser tão difícil fazer isso... Enfim, continuemos.

Aqui eu quero agradecer a jurabia pela descrição da Bia. Sim, eu surtei, porque não conseguia descrever a garota.  KKKKK

Beijinhos!  😘

UM SINALWhere stories live. Discover now