Foi preciso duvidar da própria sanidade, para Noah finalmente se tornar lúcido.
Noah King Allen era um homem solitário e desprezado. Com o passar dos anos conseguiu afastar as poucas pessoas que se importavam com ele, acabando rico, mas soli...
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Delilah Norton foi mais uma das inúmeras coisas que ele trocou pelo dinheiro. Um amor da juventude que ele mesmo fez questão de aniquilar.
Lembrou-se dos últimos dias em que a viu, e perguntou a si mesmo se ela ainda se lembrava dele, ou se cumpriu a promessa que fez naquele fatídico dia há dez anos atrás e o esqueceu de vez.
Pela maneira como se dirigia a si, parecia que havia se esquecido, e isso deu abertura a uma nova vontade, uma que Noah nunca havia sentido antes: chorar.
Chorar de arrependimento por tudo o que fez de errado no passado e de como isso o levou ao presente: um presente que era vazio mas que ele não queria aceitar que assim o era.
Sentiu-se frustrado e um completo imbecil, não podia sentir-se de outro modo depois de tudo. Não queria, mas começava a dar razão ao fantasma e ao que ele dizia, a sua ganância de facto estragou a sua vida e a sua relação com as pessoas ao seu redor. O espaço no seu peito que pensava estar vazio começou a doer, uma dor permeada em saudade pura e crua de Delilah, uma vontade excruciante de a ter de volta. Mas Noah duvidava que ela o fosse aceitar, especialmente depois do modo como terminou tudo entre os dois.
O amor deles era algo promissor, sincero e sublime na sua forma mais pura, mas que Noah conseguiu destruir tudo com facilidade.
E agora, a sua solidão era merecida.
De repente a mesma brisa fria de antes atingiu-o e causou-lhe um arrepio, e limitou-se a aguardar a próxima aparição. Porque já sabia que outro espírito viria, mas duvidava que este fosse conseguir fazê-lo sentir-se pior do que já se sentia.
Estava deitado de barriga para cima na cama, com os olhos bem abertos a focar no dossel da cama, quando sentiu a presença do espírito no aposento.
— Foi o seu colega que o mandou?
Sentiu o espírito aproximar-se, e Noah ergueu-se e sentou-se na beira da cama fitando-o.
— Acredite, se não fosse uma situação de extrema necessidade, não estaria aqui. — disse o fantasma com a voz num eco próximo, mas ao mesmo tempo distante.
Noah levantou-se e suspirou cansado. O fantasma, ao contrário do primeiro, usava roupas mais recentes que datavam do final do século passado. Porém toda a indumentária era negra.
— Somente quando o nosso objetivo for cumprido é que deixaremos de o importunar, além do mais é véspera de natal, mas duvido que tenha intenções de a passar com alguém.
Noah olhou para ele de modo cético, sem paciência ou vontade de o mandar lá para o buraco das almas de onde ele saiu.
Sentia-se subitamente cansado, mas em contrapartida com uma enorme vontade de tentar recuperar o seu antigo amor.