2. Amoras frescas

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Depois de quase 40 minutos esmurrando a porta e gritando por socorro, Paula caminha até o sofá e senta olhando para o chão, apoiando a cabeça nas mãos.

- Eu deveria ter deixado você buscar seu celular, se pelo menos tivéssemos um aqui agora, joder! Ficaremos um longo tempo presas e é tudo culpa minha! - comentou com certa raiva.

- Pauli - respondeu Carol sentando-se ao seu lado e abraçando-a - Não diga isso, foi tudo muito imprevisível. Aposto que o segurança faz rondas noturnas, logo logo passará por aqui e vai nos tirar dessa. - e vendo que ela não respondia, continuou - Oye, sabe o que isso parece?

- No, ni idea - Respondeu cabisbaixa.

- Como que no? As gravações na livraria, ficamos 'presas' e lemos um livro juntas - Disse Carol com uma voz sorridente pela coincidência do destino.

- Ay sí - respondeu Paula com um sorriso conformado enquanto levantava a cabeça - pena que não temos nenhum livro pra ler e passar o tempo até o segurança aparecer.

Nesse momento Carol levantou-se do sofá e deu voltas pelo cenário, procurando qualquer coisa que pudesse distraí-las. Sentia que precisava ocupar o tempo de Paula, ou mais do que isso, cuidar dela. Sentia essa vontade inexplicável de suprir qualquer uma das suas angústias, como se fosse Amélia protegendo Luisita das frustrações da vida.

Voltou a sentar-se no sofá sem êxito, não havia livro no estúdio, nem sequer uma revista. Retomou sua posição anterior, passando o braço em volta de Paula, sentiu sua mão bater em algo. Era o presente.

- Oye, lembrei de uma coisa. Aqui dentro tem um papel grande, imitando uma conversa de whatsapp com mensagens de felicitações pelo nosso aniversário.

- Ah sí? Que guay - Respondeu Paula levantando a cabeça novamente.

Pegou a sacola de presentes, procurou esse papel com a ajuda de Carol, começou a abrir e ler. Carol encostou o queixo em seu ombro e observou os movimentos de Paula, também queria ler as mensagens.

- O grupo se chama Luimelia Imparable, que guay - sorria Paula enquanto abria o papel que estava todo enrolado como um pergaminho - imagina quantos grupos desses existem por aí?

- Que locura êh? Me encanta. - Disse Carol retribuindo o sorriso e voltando os olhos para o papel - Mira! Estamos sentadas na mesma posição que essa figurinha que fizeram da gente - e soltou uma risada leve.

Paula também achou graça dessa nova brincadeira do destino.

- Mira, colocaram JogoDeRoles até aqui... Sempre vejo isso no twitter as meninas comentando sabe? é uma fanfic nossa. - Disse Paula enquanto lia a mensagem.

- Fanfric? Não sei o que é isso. - Respondeu sem dar muita importância.

- Oye, como não? - Disse voltando o olhar pra ela e sorrindo - Se já falamos sobre isso em uma das entrevistas que fizemos. Em que mundo está? Tonta!

Carol mostrou a língua e não deu importância para aquela brincadeira, voltou-se para o presente e ao ler a próxima mensagem caiu na gargalhada.

- Estou no mesmo mundo em que essa tal de Michelle aqui te parabenizando pelo aniversário e te pediu em casamento. - gargalhava enquanto apontava o pequeno texto contendo um pedido de casamento de uma fã.

- Abusada êh? Mas valente! Já gostei dela. - respondeu Paula empurrando de leve Carol, pra ver se ela parava de rir.

Continuaram alguns minutos nessa vibe, liam os parabéns, se emocionavam com algumas mensagem e riam das figurinhas do whats app que as fãs colocaram naquela conversa.

- Ah, adoro essa parte - disse Carol apontando com o dedo - é uma receita de como fazer caipirinha, uma bebida brasileira feita com cachaça, maravilhosa, mas muito forte êh! Um dia quero levar você pra provar.

Teria sido isso um convite? Pensou Paula enquanto mordia o lábio inferior e apertava os olhos como quem planeja uma travessura.

- Queeee? - Pronunciou Carol sem entender aquela expressão facial da loira.

Paula não respondeu, apenas levantou-se do sofá e foi em direção ao outro cenário, onde estava montado o Kings. Entrou no bar e começou a olhar para as garrafas e demais objetos alí. Carol a seguiu e, finalmente entendendo seus planos, deu risada.

- O máximo que terá nessas garrafas é água. - e sentou-se no banco.

- Que no, que no! Todas as garrafas daqui são de verdade, jura que nunca reparou nisso? - disse Paula virando-se pra ela e balançando a cabeça em tom de broma - Tía, sempre perdida êh! Sei que algumas são imitações de bebidas antigas, mas outras não, e eu já li sobre cachaça em algum rótulo daqui...

Paula procurou atentamente em cada garrafa até encontrar. Estava pela metade, mas alí estava, cachaça! A morena arregalou os olhos surpreendida pela perfeição de detalhes daquele cenário.

- Agora só falta você me dizer que tem limão e gelo nesse frigobar aí em baixo do balcão.

- Vamos ver, vamos ver - disse Paula enquanto abria o frigobar e olhava pra dentro dele, revirando cada pote que alí estava. - Não, não tem limão, mas tem algumas amoras frescas, será que dá certo?

- Ah, claro! Vamos adaptar a receita das brasileiras - disse Carol se divertindo com toda aquela situação.

60ml de cachaça, algumas amoras, açúcar e gelo. Estava pronta a caipirinha adaptada.

- Oye, não sei se tenho coragem de provar isso não - brincou Carol enquanto piscava e sorria.

Paula balançou os ombros e deu a primeira golada na bebida, resultando em uma careta engraçadíssima, fazendo com que Carol quase caísse do banco de tanto gargalhar.

- Tia, que fuerte êh - falou Paula enquanto olhava para o copo e cheirava o drink para tentar entender o que diabos era aquilo.

- Vamos ver, me dê um pouco - Disse Carol ainda aos risos. Pegou o copo dando uma golada generosa. - Humm, não está tão mal, realmente é forte, mas vamos tomar aos pouquinhos! Aliás, você está aprovadíssima como bartender.

Ambas se olharam e sorriram. Se antes Paula estava triste pois passariam um longo tempo presas naquele estúdio, agora a impressão era a de que o tempo seria curto demais.

Amor em cena - PaurolWhere stories live. Discover now