3. Pêra suculenta

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Paula começou a preparação da segunda caipirinha de amora enquanto elas conversavam sobre o cenário e os destilados das prateleiras. Abriu o frigobar e pegou uma garrafa de água para tomar, não era sua intenção ficar alcoolizada.

- Bueno, agora é sua vez de dar uma de "Amélia" - disse Paula com um sorriso fechado.

- Como? - respondeu Carol dando um pequeno gole na bebida.

- Já fiz meu papel de Luisita, vim pra trás do balcão e preparei duas bebidas! Agora você sobe no palco e prepara duas apresentações pra mim - exigiu Paula levantando as sobrancelhas com um ar de brincadeira.

- Ahhhh, tia, como se fosse fácil, subir e fazer uma apresentação - riu Carol

- Vai Carola, só estamos nós duas aqui. Canta alguma música.- retrucou a loira enquanto saia de trás do balcão e se sentava confortavelmente no banco aguardando seu show.

Carol ria e pensava em como Paula era inquieta, imaginou o divertido que seria levá-la pra uma das suas viagens, desbravarem juntas outros países e mostrar-lhe culturas exóticas. Queria saber sua reação ao conhecer cada novidade, sentia a necessidade incontrolável de dividir com ela tantas experiências, sabia que Paula tornaria tudo mais divertido com esse jeitinho espirituoso. Caminhou em direção ao palco pensando em todas essas coisas e começou a cantar da forma mais espontânea possível:

"Son muchos días sin verte,
Son muchas noches sin poder oler.
Son tantas horas sin sentir tus besos
Que ya el amanhecer no sabe como hacer para aparecer"

Paula foi pega de surpresa, não imaginou Carol escolhendo justo aquela canção. A dois anos atrás Luisita estava sentada naquele mesmo banco, no mesmo cenário, olhando para a mesma direção, ouvindo Amélia cantar aquela mesma canção. Hoje é Carol quem canta essa música para Paula!

Se antes ela precisava atuar como uma mulher apaixonada, agora não era necessária a atuação, sentiu-se, de imediato, apaixonada.

Carol reparava como cada palavra que saía de sua boca fazia sentido naquele momento. A primeira vez que cantou aquela canção o cenário estava cheio de câmeras, figurantes e pessoas da equipe de filmagem, dessa vez apenas uma pessoa estava alí. Sentiu-se vulnerável e exposta, como se estive nua na frente daquela mulher que a fitava com profundidade. Essa sensação não era ruim, pelo contrário, lhe proporcionava uma adrenalina inexplicável, era como estar entregue e querer se entregar mais.

Ao fim da canção Paula aplaudiu enquanto tentava despertar daquele transe, mas teve a impressão de que isso nunca mais seria possível.

- Agora você escolhe a próxima. - Disse Carol ainda envolta na necessidade de se entregar mais.

- Pues, no se... - Sussurrou olhando para todos os lados tentando buscar qualquer música - Almas viejas, es para mi, no?... - e logo se arrependeu - o sea... para Luimelia, para as fãs... para a história... no se... - e virou mais uma golada da bebida tentando disfarçar o embaraço.

Carol abaixou a cabeça e segurou a cintura, como alguém se preparando para um grande salto. Respirou fundo... levantou a cabeça e...

"De la mano me cogiste
E yo te acompañé..."

E como a vida segue a arte, naquele exato momento Paula em sus ojos se perdiste, Carol sin saber qué hacer e las noches en vela foram esquecidas... Aliás, tudo alí foi esquecido, só existia aquele momento, aqueles olhares e aquela canção.

Ambas se olhavam carregando uma quantidade enorme de emoções. Paula tomou o último gole da bebida e aplaudiu o final da música.

- Queee... bebeu tudo? Nem cheguei a provar direito - Disse Carol descendo do Palco e soltando os cabelos.

Amor em cena - PaurolWhere stories live. Discover now