Talvez eu esteja um pouco nervoso em conhecer a família de Marcos e só por isso fico alguns segundos parado em frente ao portão, antes de apertar a campainha ou mandar uma mensagem avisando que eu cheguei.
— Meu Deus, só aperta! — digo para mim mesmo em voz alta e aperto o botão do interfone.
O portão se abre alguns minutos depois e dou de cara com os irmãos de Marcos.
— E aí, carinha?! — um deles fala.
— Vai entrando! — diz o outro.
Murmuro apenas um "oi" porque não sei identificar qual é Matheus e qual é o Maurício.
Fico boquiaberto, não pensei que fosse possível a casa de Marcos ficar ainda mais iluminada do que na noite em que quase nos beijamos, mas agora parece até Natal no meio do ano com todas essas luzinhas amarelas espalhadas para todos os lados e os enfeites brancos grudados na parede. Estou parado admirando tudo quando Matheus e Maurício passam por mim, cada um de um lado, e não me dirigem qualquer palavra — fico até feliz por isso, apesar de que agora ou eu os sigo, ou ficaria perdido.
Entro na sala e não tem muita diferença aqui, vejo que os gêmeos seguem em direção a porta da cozinha que leva para o quintal e vou no rastro dos dois. Respiro fundo, esperando ver uma mesa grande com os tios, avós e primos de Marcos, imaginando como ele vai se levantar para me apresentar a todo mundo de uma só vez — o que implicará em total silêncio e várias pessoas me encarando — e dou o passo final para fora da cozinha.
Isso não parece um jantar de família, é o meu primeiro pensamento e, sinceramente, o mais correto. Quando minha família se reúne, um grupo de mais ou menos vinte pessoas (e sim, estou contando as crianças) se prostra ao redor de uma mesa enorme — ou a junção de várias mesas pequenas, dependendo da casa em que estivermos — e confraternizam como se no restante dos outros dias do ano não rolasse o maior quebra pau sobre a herança dos meus avós — que ainda estão vivos — ou dos meus bisavós — que também ainda estão vivos, mas tenho uma desconfiança de que minha tia Katarina esperava que não estivessem.
O que me deixa confuso é que aqui tem mais de vinte pessoas, na verdade mais de quarenta fácil-fácil. E não tem uma mesa grande onde todo mundo supostamente deveria estar sentado, mas várias pequenas mesas espalhadas pelo gramado e ninguém está sentado junto a elas, apenas as usando como suporte para deixarem os copos com suas bebidas.
Fico parado, tentando ver se avisto Marcos quando ele aparece na minha frente, passando entre duas senhoras que conversam fervorosamente sobre como copos-de-leite não estão na lista de melhores plantas para a decoração de casamentos. Isabela aparece logo depois, toda sorridente.
— Você demorou hein?! — Marcos diz, abrindo um sorriso também.
Ele está usando uma camisa de botões branca com manga curta e uma gravata borboleta azul-escuro. Pra combinar, ele vestiu um short preto de sarja que chega a altura dos seus joelhos e tênis também pretos com meias azuis que contrastam com o preto de sua prótese.
— Desculpa, é que eu estava... — nervoso com o encontro evidente com toda a sua família e o que você diria quando me apresentasse para eles e como seria a reação deles ao me conhecerem e por isso fiquei parado em frente ao portão tentando me preparar emocionalmente para esse encontro sendo que a resposta clara é que você diria a eles que eu sou um amigo da escola e nunca citaria que já nos beijamos, que aliás já nos beijamos ao mesmo tempo em que eu beijava a Isabela, mas esse com toda certeza não é um assunto pra esse momento.
É, eu com toda certeza não posso dizer isso.
— Aposto que ele estava nervoso porque você disse que seria um jantar de família! — Isabela dá uma leve cotovelada em Marcos e solta um risinho.
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Todos Querem (Muito) Beijar Karl Marx
Teen FictionApesar de ter o nome de uma pessoa um tanto quanto famosa, Karl sempre se orgulhou por ser um total anônimo para todos os seus colegas. Integrante do Clube de Teatro, ele ama ficar nos bastidores, escrevendo peças e sendo assistente das produções de...