3 - Renee / Primeira Descoberta

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Enquanto caminhava, sem senso de direção alguma, minha mente se forçava para tentar compreender as imagens que via. Meus olhos, se dotados de vontade, estariam tentando se cegar, cortar todas as conexões, para que não precisassem mais captar tantas formas sem sentido. Era como se tudo fosse transcendente, líquido, uma fluidez estranha e que me chamava a atenção.

Mas, apesar de minha grande curiosidade, eu não compreendia nada.

Então, pelo menos por enquanto, até alcançar melhor entendimento, guardei em uma gaveta solta dentro da minha mente esta minha curiosidade, junto de tantas outras. Meu passo apressado me levou até um lugar mais aberto. Não tinha certeza se realmente era mais amplo, ou mais fechado. Porém, era... diferente. É o máximo que consigo descrever até o momento.

Fora quando senti uma inquietação irritante. Algo que me batia no fundo de minha cabeça, e em primeiro momento, não conseguia explicar o que sentia. Naquele instante, fechei meus olhos para focar em meus pensamentos internos, mas eu continuava vendo as luzes iridescentes, os líquidos que se dobravam como lençóis e as paredes que mudavam entre finas e grossas. Havia eu realmente fechado minhas pupilas? Como tudo ainda aparecia em minha visão?

Mesmo eu duvidando de ter fechado meus olhos, quando tive a sensação de abri-los, a percepção mudara.

Enxerguei a minha frente uma porta. "Finalmente, algo que entendo", disse para mim mesmo. Não era como a grande porta do corredor, era diferente, e simples de se entender. Com uma maçaneta dourada, madeira escura e detalhes em prata. Não me questionei se estaria trancada ou aberta, nem conseguia pensar nisso no momento. Não lembro como a abri, mas sei que no próximo momento, eu estava dentro de um quarto.

Encontrei-me maravilhado. Talvez, pelo fato de ser a única construção que conseguia ter uma ideia sólida do que era, e não inúmeras imagens sem claro contexto. Não era uma sala muito grande, porém era o suficiente para não ser chamada de média ou pequena. Estantes cobriam toda uma parede lateral, inteiramente cheia de diversos livros, de diversas grossuras. No fundo, grandes janelas deixavam passar a luz do sol, e iluminavam o teto de madeira escura, assim como a da porta. Alguns potes de plantas com samambaias e suculentas pendiam daquele teto, presas por correntes.

Haviam muitos materiais de pintura espalhados pelo chão, e mais uma bagunça de outros itens, como giz e lápis, jogados nas pequenas estantes da parede direita. Telas inacabadas acumulavam-se em um canto, e outras limpas estavam bem separadas junto aos livros. Era uma estranha mistura, o contraste com o desajeito e organização que permeavam os diferentes lados do quarto.

Após alguns passos, fora que notei o que se encontrava à minha frente.

Atrás de uma enorme tela de pintura, uma garota olhava para mim. Eu conseguia a compreender, pelo menos visualmente, assim como o quarto. Seus olhos verdes me olhavam com curiosidade, e ao notar como suas íris me acompanhavam, ela devia estar me observando desde que entrei. Nosso contato visual se quebrou quando ela saiu de trás de sua tela, com um pincel e paleta em mãos, e os deixou em cima de uma pequena mesa ao seu lado. Depois, voltou-se para mim.

Supondo que minha percepção naquele espaço era, de certa forma, "normal", eu devia ser apenas um pouco maior que ela. O cabelo loiro estava firmemente preso em um rabo de cavalo. A pele clara parecia brilhar com os raios solares que aqueciam suas costas. Vestia uma roupa simples, uma larga camisa preta e uma calça jeans, as duas sujas de diversas cores de tinta. Andou alguns passos em minha direção, e notei que estava descalça. Seu corpo tinhas feições bonitas, e olhava para mim com uma expressão gélida.

"Bem-vindo à minha casa." Ela disse, fazendo um gesto com a mão direita, como se me convidando a entrar, apesar do fato de que eu já estava dentro. "Entre livremente e por sua própria vontade."

Rosa de Vidro - Primeiro RascunhoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora