1 - O Mundo Comum

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O calor dos raios de sol em minha face enrubesciam minhas bochechas e acordavam-me lentamente. Invadiam meu quarto pela cortina entreaberta, que havia esquecido de fechar completamente na noite passada. Não ousei mexer-me na cama. Fiquei olhando para o teto até escutar o som desregulado do despertador em meu celular. Outra noite sem sonhos, como todas as outras.

Levantar sempre era penoso pelas manhãs, ainda mais nas segundas. A lembrança de uma semana recheada de atividades cansativas não me motivava.

Forcei minha mente a silenciar-se. Eu tinha um mal hábito de sonhar acordado: pensava muito, agia pouco. Gostava de imaginar as formas que a luz possuía ao bater na vidraça, o jeito que o tecido esvoaçava quando o vento balançava as cortinas, como o mundo despertava as 5 da manhã. Por mais poético que pareça soar, o único benefício que via no pensamento era pra a criatividade. E bom, eu não trabalhava com isso. Se não cobria meu aluguel, não adiantava pensar numa aplicação.

Ajeitei-me apressadamente, me vestindo de qualquer forma e levando um lanche qualquer para a faculdade. Meu apartamento em nada merecia atenção: era o lugar que eu chamava de casa, dormia e passava meu tempo com qualquer coisa que não me deixasse acordado depois das 22 horas. Desde que me mudei, nunca me importei em decorá-lo muito. As paredes ainda tinham a mesma pintura ressecada, a TV velha e implorando para que eu a limpasse, estantes vazias e carpetes tortos no chão.

Com medo de chegar atrasado, passei voando pela recepção do prédio e logo entrei no ônibus. Era meu único meio de transporte para a facul, além de carona quando conseguia, ou eu tinha que chamar um táxi pelo aplicativo. Nunca me importei o suficiente para querer aprender a dirigir. E também não é como se meu salário pudesse cobrir um carro ou uma moto. Estava bem do meu jeito.

Quando finalmente consegui um lugar para sentar, o cansaço matinal me acometeu, como se todo o peso do meu corpo pudesse ser sentido sendo carregado pelas minhas costas. Por que eu fiquei ansioso? Por que corri apressado? Pensava em tudo isso. Agia da mesma forma durante todo mês, e sempre me perguntava a mesma coisa durante o mês. As aulas eram chatas e monótonas. Por que me cobrava tanto para chegar na hora? Pelo que ansiava?

Estava pensando de mais de novo. Havia dias em que me perguntava que resposta eu chegaria se não interrompesse minhas perguntas, ou quais novas perguntas eu faria. Mas, naquele momento ao menos, havia cortado novamente meu fluxo de inspiração pelo bem da ação. Não havia um limiar no qual eu conseguisse controlar - entre agir e pensar. Ou fazia um, ou outro.

O último sinal era sempre um alívio estranho. Anunciava duas coisas para mim: o término de uma lição tediosa, e o início de uma tarde cheia de papelada, ainda mais tediosa.

De vez em quando passava na praça de alimentação do campus para tomar um café antes de ir para o trabalho. Naquele dia, fiz exatamente isso. Era sempre preto, sempre concentrado, sempre expresso. Com adoçante. De amarga já bastava minha vida.

Me permitia um pouco de tempo sentado em um dos bancos da praça. Costumava me sentar sozinho. Na faculdade, não tinha tantos amigos. Aqueles no quais considero mais próximos de mim partiram cada um para seu rumo depois do ensino médio. Por sorte, todos nós tínhamos tempo para nos encontrar com certa frequência, onde quase todas as semanas íamos para um pequeno bar suburbano.

– Oi, Edward.

Uma voz cansada se dirigia a mim antes que eu pudesse notar que alguém se aproximava. Eu disse que tinha poucos amigos, mas não nenhum. Renee, a moça que se apresentava para mim, foi a primeira amiga que fiz quando comecei o semestre. Não obstante, ela trabalhava na mesma empresa que eu, como secretária.

– Tá esperando alguém? – Ela perguntou. Meneei a cabeça em sinal de não, e ela se sentou ao meu lado.

– Um bom dia pra você também. – Falei, meio sarcástico.

Rosa de Vidro - Primeiro RascunhoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora