△ - Biblioteca em Ruínas

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A visão do bar se transformou lentamente nos corredores da mansão cristalina. Nada a fazer se não seguir meu caminho.

Estava me acostumando com a ideia de um peregrino nesse mundo estranho. Buscando minhas próprias respostas, meus próprios ideais. Porém, a cada passo que eu dava, me perguntava qual era realmente o propósito daquele lugar. Da primeira vez, respondi que era para descobrir quem eu era. Depois da conversa que tive com o Coringa e os animais, passei a desacreditar dessa ideia. As paredes das mansões não escondiam partes de mim. Elas me questionavam. Não me davam respostas, e sim apenas perguntas. Muitas perguntas.

Até o momento, a única coisa que este local me proporcionara foram perguntas. As respostas, eu tinha que tê-las por mim mesmo. Não havia como me descobrir naquelas átrios de silêncio, mas havia como me entender. Me construir.

A visão do grande salão principal havia se tornado mais nítida para meus olhos. Uma nitidez quase que artificial. Os elementos que antes tomavam conta das cortinas continuavam presentes.

Porém, uma grande mudança fora uma enorme estante localizada em uma das paredes do fundo do local, oposta ao quarto de Renee. Não haviam livros nela, exceto por um único e solitário tomo branco, no meio da madeira cinzenta.

Curioso, me aproximei e decidi pegá-lo, para ler seu título. Quando o puxei para mais perto, uma cena clássica dos filmes de investigação se desenrolou. A estante se abriu lateralmente, revelando uma passagem esquecida para uma área que não havia visto da mansão.

A entrada mais era uma parede que fora quebrada do que uma porta. Após tirar alguns tijolos estilhaçados do caminho, entrei e pude ver o que a estante escondia.

Uma enorme biblioteca, com andares e andares de livros enfileirados sistematicamente em prateleiras e prateleiras de estantes e estantes em áreas e áreas cobertas por vegetação. Mas, elas não saíam de terra ou madeira, mas cresciam entre rachaduras de um concreto cinza que compunha as paredes e chão do local. As capas de diversas cores eram quase apagadas por vinhas que pendiam de um teto arbóreo e por capim alto. No final da sala, vitrais magníficos deixavam passar uma luz amarelada do que eu presumia ser o sol, apesar de que, era o mesmo efeito do vitral de Renee: uma luz sem fonte e uma janela sem paisagem.

Inexplicavelmente, era um lugar fresco. Não havia sentido frio nem calor em minhas andanças pela mansão, mas aquela biblioteca possuía uma brisa de frescor que surgia não sei de onde e corria para sei lá o quê.

Antes de continuar andando, decidi convidar Renee.

Ela ainda estava em seu quarto, com sua roupa de pintura. Estava colocando uma tela nova no cavalete.

"Oh, de volta tão cedo?" Ela me perguntou ao me ver.

"Eu encontrei algo, e achei que você gostaria de ver." Eu disse, me aproximando.

"Ah... você... quer que eu saia daqui?" Renee parecia apreensiva, como se nunca houvesse saído de seus aposentos.

"Você tem medo?" Perguntei, sentindo o tremor em sua voz.

"Bom... devo admitir que, sim, eu tenho um pouco de apreensão." Ela esclareceu, enquanto apertava um pouco sua camisa, segurando a ansiedade de falar algo. "Mas... eu quero ir!"

Sua decisão soou confiante, o que me pegou de surpresa. "Se houver algo que eu possa fazer..."

"Segure minha mão."

Renee se aproximou de mim, com a mão estendida. Hesitei um pouco, daquela vez, eu comecei a ficar apreensivo. Inspirei fundo e dei um sorriso para a mulher. Segurei sua mão com firmeza e carinho, e a guiei para do quarto.

Rosa de Vidro - Primeiro RascunhoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora