35 - microfone aberto

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BRUNO ESTÁ CHATEADO comigo

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BRUNO ESTÁ CHATEADO comigo. Não sei exatamente que tipo de conversa ele e a Mina tiveram, mas sei que alguma coisa importante meu irmão descobriu pra estar com raiva de mim. Não que ele tenha parado de falar comigo ou agido como um babaca como antigamente, mas tem algo no ar que é impossível de ignorar. E esse clima estranho paira como uma nuvem de chuva sobre minha cabeça a semana inteira.

É Dia das Bruxas e eu estou largada no meu quarto sem a mínima vontade de sair. Cassandra foi pegar doces com a Lola — a caçula fantasiada de Tinker Bell — e o Bruno disse que sairia com os amigos para uma festa que eu não faço ideia de qual seja. Ele não me convidou, só pra deixar claro. E eu estou aqui, sozinha nessa casa enorme e silenciosa, sem nada para fazer e sem ninguém pra conversar.

Não me orgulho em dizer isso, mas eu sinto a falta dela. Sinto falta de coisas minúsculas que me lembram ela também. O seu cheiro marcante de hortelã, seus brincos de serpente, seu gosto exagerado por café. Sinto falta da sua risada e das nossas conversas. Sinto falta de buscar o celular só pra responder uma mensagem dela. E, nossa, sinto falta de me sentir grande com ela também.

O pior é que eu não sei se estou triste por sentir falta de Mina Leão ou porque, por culpa dela, algo mudou entre Bruno e eu. Acho que estou assim pela mistura das duas coisas, e eu nunca me senti tão sozinha. E é muito mais difícil lidar com isso quando só existe tristeza pra sentir. Não tem raiva, não tem confusão, não tem medo ou ansiedade sobrando por aqui. Eu só tô muito, mas muito triste.

Procuro meu celular no meio das cobertas, só pra conferir a hora. São quase sete e meia da noite, e eu decido me livrar um pouco da melancolia e ir comer alguma coisa. Talvez esteja passando algo legal na TV também, e eu sempre posso apelar pra um filme ou série on-line, qualquer coisa. Eu só preciso me distrair um pouco.

O andar de baixo está escuro, e eu sigo até a cozinha com passos arrastados. E eu sinto que deveria acender as luzes, mas não faço isso, o que serve de prova pra me mostrar o quanto eu sou idiota às vezes. Acho mesmo que preciso pôr um lembrete fixo no meu cérebro com o seguinte recado: sempre siga seu coração, mesmo que você não faça a ideia do que porra ele está tentando te dizer. Porque, quando chego na cozinha, o susto é tão grande que sou obrigada a gritar muito, muito alto.

— Mas que porra! — exclamo, finalmente acendendo as luzes e me deparando com o idiota parado perto do balcão, a mão na cintura. — O que você tá fazendo aqui?

— Eu moro aqui, esqueceu? — responde, terminando com a água no seu copo.

Bruno está fantasiado do que imagino ser um pirata genérico, o chapéu pendendo em uma mão e um tapa-olho cruzando seu rosto. Passo por ele depressa, meu coração ainda acelerado do susto, e começo a preparar algo pra comer.

— Você não devia tá numa festa ou sei lá? — pergunto, tentando não soar emburrada. Eu não tô com raiva dele, mas é impossível agir normalmente se ele está com raiva de mim.

Todas as Coisas que Eu Não Odeio em VocêWhere stories live. Discover now