5 | Deixa em off [Parte 1]

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[O Adolessências também é influenciado a partir das críticas e ideias compartilhadas, tanto nos comentários, como no privado. Por isso, leia com tranquilidade, comente e me dê um feedback; faça parte dessa história. Desejo a você, uma ótima leitura! - Júlio]

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Tarso, 15 de janeiro de 2013.

Ser adolescente tem seus prós e contras. Não se deixa de ser criança sem passar por mudanças hormonais, sentimentais e comportamentais, assim como ninguém se torna adulto antes de viver aventuras e experiências insanas que a vida reserva. Uns extrapolam e vivem loucamente, outros se enquadram numa caixa e ficam por lá. É claro que faço parte do "não deixe para beijar amanhã a gay que você pode agarrar hoje".

Tento aproveitar minha vida da melhor forma possível, ao meu ver. Gosto de sair e pegar os caras que me atraem. Gosto de beber porque me relaxa e me deixa ainda mais animado. Gosto de estar entre amigos e fazer bem a eles. Gosto de participar de serviços voluntários porque me faz refletir muito sobre a vida. Sou vários Tarsos, mas eu sou único.

Não sou o que as pessoas me definem. Sou o que sou. Sou gay, afeminado, gostoso, feliz, determinado e parceiro. Se desse ouvidos a outrem, seria o viado desvairado, o vadio, o sem futuro. Ah, eu ando bem foda-se para qualquer um desses comentários. Tenho muito para compartilhar das minhas experiências. Então "vambora!"

[15 de janeiro de 2013]

Não costumo levantar antes de meio-dia nas férias, apenas nas terças e quintas quando vou ao asilo, lugar que participo voluntariamente. Hoje é terça, porém, pedi dispensa porque tem algo muito importante acontecendo hoje. 15 de janeiro, dia que o princeso mais lindo desse universo nasceu. Bernardo está completando 17 anos e temos muito que festar. Amo demais esse menino.

Às sete da manhã já estou de pé. Tenho que terminar a edição dos vídeos da galera parabenizando ele. Abro o celular e vejo várias mensagens não visualizadas, algumas de caras me chamando para sair, outras de grupos de família que eu odeio participar etc. Uma das mensagens é do Arthur, o ex do meu melhor amigo e que eu tenho certo desafeto por ele ter sido estúpido com o Bernardo. Decido abrir.

— Opa, Tarso. Tranquilo? Sei que não esperava uma mensagem minha tão cedo, mas eu queria muito enviar o meu vídeo de mensagem para o Bernardo e o presente que tinha comprado pra ele. Entendo se não quiser colocar meu vídeo junto dos outros, mas se puder, entrega o arquivo pra ele em particular. Se precisar de ajuda pra preparar a festa, me avisa. Tô livre hoje e o Bernardo merece essa surpresa. Pelos velhos tempos em que eu não pisava na bola, não deixe de me chamar caso precise de algo. Vou pedir pra entregarem o presente aí. Valeu! /Arthur.

Ignoro a mensagem, o dia vai ser muito corrido para dar papo ao Arthur. De qualquer forma, faço a gentileza de proceder com o download, mas não colocarei junto dos outros. Pouco tempo depois, Enzo e Fernanda aparecem lá em casa para me ajudarem a preparar os docinhos da festa. Para o dia de hoje, dou uma trégua com Fernanda que vive disputando a amizade de mozão comigo. Coitada. Iludida. Mas ela é gente boa, às vezes.

Recebo uma mensagem do Bruno, cara que fiquei nos últimos dias.

— Bom dia, Tarso! Hoje bateu saudade dos rolês contigo. A gente podia marcar algo hoje a noite. Rola pra você? /Bruno.

Bruno é um cara muito incrível. Ele terminou o colégio no último ano. Durante as aulas, ele nem olhava para mim e meu grupo, ou seja, dos viados e das sapatões. Vivia no grupo dos héteros escrotos e devia agir como eles, não sei. Bruno era capitão do time de futebol da cidade. Por isso se pagava de enrustido, por uma pressão do técnico do time.

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