Capítulo 8

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Clara

Diferentemente do que eu imaginava, o dia estava sendo muito divertido. Tirando, é claro, a parte que fui atacada por um marreco, caí sobre a lama e precisei me arriscar em um lago para me limpar de toda aquela sujeira. No entanto, esses eram só mais alguns acontecimentos a serem acrescentados à minha lista de vergonhas, que já estava grande o suficiente para publicar um livro de infortúnios.

A cidadezinha era charmosa, com uma energia incrível e ainda produzia as melhores cachaças artesanais, que experimentei na minha vida.

Eu e minhas amigas nos divertíamos como há muito tempo não fazíamos juntas. Hanna e Laura não dispensavam a companhia uma da outra, Maria estava solta como nunca havia visto e Samantha não parava de rir de tudo e de todos. Era um dia feliz, no qual eu não havia incluído Sofia em minhas percepções, até então.

Eu estava quieta na minha, longe de confusão. Mas a boba foi capaz de enviar a pessoa menos discreta que conhecíamos para me arrancar uma informação.

Maria nem sequer disfarçou direito. Praticamente, se aproximou já perguntando sobre meus sentimentos por Sofia. Minha resposta poderia ter sido objetiva, mas optei por um pouco de diversão ao provocar uma maior tensão. Eu não sabia qual era a real intenção da minha ex-namorada ou por que essa curiosidade passava pela sua cabeça, mas de uma coisa eu tinha certeza: ela me ignorava e era totalmente indiferente ao que eu fazia ou deixava de fazer, por mais que tivesse sua opinião sobre minha vida sexual, um pouco atribulada demais. Ela era médica, afinal.

Não fiquei para observar sua reação ao recado que Maria estava atribuída de repassar. Na real, eu nem acreditava que minha amiga fosse realmente passá-lo adiante. Portanto, preferi curtir um pouco mais o dia, porque eu bem sabia que logo voltaríamos ao camping – lugar para quem gostava de tranquilidade total e passar todos os tipos de dificuldades. De novo, não combinava comigo.

Era já final de tarde quando resolvemos retornar para o mato. Laura, a única que não havia bebido, se encarregou de nos levar em segurança. Em quase todas as vezes, era ela a motorista da vez, pois era quem quase nunca fazia questão de ingerir bebida alcoólica.

- Esquecemos de comprar o isqueiro para acender a fogueira. – Hanna lembrou, lamentando-se.

Laura respirou profundamente, com pouquíssima paciência, e pegou o primeiro retorno para comprarmos aquilo que seria responsável por um pouco de emoção naquela noite. Após adquirir o objeto, a motorista se certificou de que ninguém havia se esquecido de mais nada e, enfim, seguimos o caminho para o retiro espiritual de Maria.

No camping, não foi difícil fazer uma fogueira, uma vez que havíamos comprado o fogo.

Nos reunimos, dessa vez, em torno de uma labareda de verdade e começamos a brincadeira de não fazer nada, apenas falar um monte de bobagem que pudesse deixar uma ou outra constrangida.

- Sobre o que podemos conversar? – Maria quis saber.

- Sexo, é claro. – Sam escolheu o assunto.

- Por que não sejamos mais interessantes? – Laura não gostou da ideia.

O que seria mais interessante do que sexo?

- Laura, com quantas pessoas você já transou? – Comecei com as perguntas, ignorando sua má vontade de participar da conversa.

- Não é da sua conta. – Foi a resposta dela.

Laura não era nenhuma santa. Não gostava de baladas nem de flertar nestes locais, mas eu bem sabia que ela conhecia muitas mulheres dos clubes literários, nos quais frequentava. Principalmente, nos clubes de literatura LGBTQI+. A única diferença era que ela preferia ler a dançar, e flertar com as letradas, em vez das embriagadas.

Qualquer Semelhança É Uma Mera Coincidência 2Onde histórias criam vida. Descubra agora