Capítulo 19

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Sofia

Em alguns momentos da vida, temos que dar um basta e começar uma nova jornada. Não dava para ficar marcando passo e insistindo em algo que teimava em dar errado. Quando necessário, era importante até mesmo mudar nossas atitudes e maneira de agir. Voltei ao país com um objetivo que não se concretizou, mas eu ainda tinha muitas outras opções e planos – meu retorno jamais seria em vão. E nada, nunca mais, me faria desanimar. Sempre seguirei lutando de cabeça erguida, ainda que o fracasso seja no ramo do coração.

Tentei, fiz a minha parte, mas eu não podia obrigar ninguém a ser feliz ao meu lado. Como também não podia me submeter, o tempo inteiro, aos caprichos dos outros. Agora seria do meu jeito. Se ela quisesse, ótimo; se não, paciência. Seus conflitos internos deixaram-me exaurida e desesperançosa.

A fila poderia andar rápido demais, e meu coração necessitava desesperadamente dar uma chance a novos amores. Só assim, pararia de criar expectativas e sofrer por alguém que preferia cultivar o orgulho, a dar uma oportunidade para um sentimento puro e sincero.

No ramo profissional, eu seguiria colhendo os frutos dos meus esforços e feliz por ter tomado as escolhas certas.

A conclusão do processo de validação do meu diploma ocorreu em poucos dias. Duas semanas depois, eu já estava apta para, finalmente, exercer legalmente a medicina. Devido às boas recomendações de Olívia, recebi uma boa proposta de emprego em um hospital nas proximidades de sua clínica. Orgulhosa de mim mesma, eu estava prestes a viver um sonho como uma médica pouco experiente, mas preparada para todos os desafios da carreira.

Minha vida havia dado uma volta de cento e oitenta graus em três momentos cruciais, que me levaram até onde estou hoje: primeiro, quando minha relação com minha família ruiu por causa da minha sexualidade; segundo, quando minha vida de uma guinada ao me mudar para outro país, ser acolhida amavelmente por minha avó e iniciar o curso de medicina; e terceiro, uma nova etapa havia acabado de começar para mim. Talvez, a mais importante. Depois de tantos anos de dedicação, uma decisiva vitória bem merecida. Esse era o momento de levantar o troféu.

Enfim, eu exerceria minha profissão no lugar onde sempre idealizei e, pela primeira vez, tudo estava acontecendo, exclusivamente, como EU queria. As escolhas eram todas minhas, – não por necessidade, ou por decisão de outrem – assim como o total domínio da minha própria vida.

Em meu primeiro dia de trabalho, conheci alguns colegas que, futuramente, me compartilhariam suas experiências. A maioria, eram novos e ainda residentes. Ainda assim, eu teria muito o que aprender com todos eles. Para a minha feliz surpresa, havia mais mulheres do que homens. Mas foi com Thiago que fiz amizade de primeira. Ele era hétero, solteiro e, mesmo assim, não se aproximou com segundas intenções. Nem tinha um discurso demasiadamente heteronormativo e pouco empático. Era um cara legal que foi muito receptivo e me ajudou bastante em minha adaptação a um novo ambiente de trabalho. Para mim, seria um bom amigo. E, com o tempo, quando tive a certeza de que poderia confiar nele, revelei ser lésbica. Mas o engraçadinho me falou que já desconfiava e fiquei feliz por saber que encarava isso como deveria ser, com naturalidade e normalidade.

Pouco tempo depois, eu já tinha minhas próprias pacientes. Foi legal como, rapidamente, conquistei a confiança delas. Eu adorava ter cumplicidade e um tratamento amável para com todas as pessoas que passavam por meu consultório.

Entre meus colegas, tentava não ser muito diferente. Eu gostava de me comunicar e, com a vida, aprendi a fazer novas amizades. Nem era tão difícil para mim, uma vez que minha personalidade, assim como minha aparência, sempre foram bastante atrativas. Fazer o quê?! Eu era assim. Inteligente, divertida e linda.

Qualquer Semelhança É Uma Mera Coincidência 2Onde histórias criam vida. Descubra agora