Clara
Os últimos dias foram difíceis. Estava tudo bem no trabalho, estava tudo bem com minhas amigas e com a minha família, mas não estava nada bem com a minha cabeça. Beijá-la naquela noite, na boate, foi totalmente irresponsável da minha parte. O que eu estava fazendo? Eu podia me envolver com quem quisesse, mas Sofia estava além dos limites por muitos motivos – de todas as mulheres descomprometidas, ela era a única proibida para mim, além de carregar uma carga emocional completamente desnecessária. Também não dava para comprometer meu bom relacionamento com minhas amigas nem a boa convivência com minha ex-namorada, apenas por causa de uma boba atração física – sexo dava para conseguir com qualquer outra.
Portanto, se eu cedesse novamente aos meus impulsos, acabaria estragando tudo.
O arrependimento me consumia.
Já havia passado pouco mais de uma semana, e não ficávamos por perto por muito tempo, muito menos sozinhas. Após Sofia cuidar de uma das piores ressacas da minha vida, logo depois que fui uma canalha ao jogar tão baixo, apelando para memórias do nosso passado – a pulseira de berloques – senti-me extremamente envergonhada e arrependida. Havia se passado algum tempo, mas eu ainda estava em processo de cura de ressaca moral, sem conseguir olhar na cara da minha ex-namorada. Por essa razão, preferi manter distância e, em algum momento, me encorajaria a pedir desculpas.
Eu me encontrava sobre minha cama, numa tardezinha de domingo, após passar um final de semana inteiro em processo de desintoxicação de corpo e alma, dando-me conta de que era necessário acabar com as noites maldormidas, não exagerar na bebida e refletir sobre minha vida, algo que eu fazia de tempos em tempos, toda vez que os exageros se tornavam frequentes.
Estava tudo tranquilo, eu vislumbrava a luz fraca que entrava pela janela do meu quarto e projetava na parede uma sombra bonita das persianas, quando o silêncio foi interrompido pelo barulho estridente da campainha. Devia ser Laura, já que a visita havia chegado livremente à minha porta e não havia usado o interfone da portaria para autorizar sua entrada.
Abri direto, sem primeiro checar quem era pelo olho mágico.
Sofia?
- O que você quer?
Ela devia estar com muitos desaforos entalados e prestes a jogar tudo na minha cara. Pelo menos, era no que eu acreditava.
- Sem perguntas, Clara!
Hein?
Sem me dizer mais nada, espalmou a mão no meu colo, próximo ao meu pescoço, e me empurrou para dentro, sem qualquer cuidado. Antes que eu pudesse raciocinar sobre o que estava prestes a acontecer, de fato, cheguei a pensar que esse seria o momento em que acertaríamos as contas – afinal, um pedido de desculpas havia ficado pendente. Mas ela me puxou pela camisa, trocou minha posição pela sua e me empurrou contra a porta, fechando-a com o ato.
Sofia não estava sendo nada gentil, meu coração estava na boca e minha mente estava confusa, se esforçando para compreender o que minha agressora realmente queria.
E aí, ela me beijou.
Não foi um beijo cauteloso que começa simples para pedir permissão e descobrir se a pessoa vai retribuir, ou não. Ela praticamente me abocanhou. E quando uma mulher me beijava cheia de desejo assim, minha resistência se reduzia a zero.
Mesmo que eu jamais cogitasse a ideia de resistir.
Tentei segurar em seu cabelo e ter um pouco de autonomia nesta inesperada situação, mas Sofia prendeu meus pulsos contra a porta, começou a beijar-me avidamente o pescoço e terminou de me imobilizar, pressionando o quadril contra o meu. Parecia uma fera, prestes a me devorar.
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Qualquer Semelhança É Uma Mera Coincidência 2
RomanceSofia retorna para casa e ao convívio de suas antigas amigas. Mais de uma década depois, ela está preparada para encarar os dilemas que pensava terem sido superados, assim como enfrentar fantasmas responsáveis pelos seus traumas do passado. Focada e...