Sofia
Tudo o que eu queria era que Clara fosse sincera, abrisse o coração e me quisesse genuinamente como eu a queria. Pedir-me para ser sua namorada, para compartilharmos nossas vidas e ser só minha seria o suficiente para ter minha atenção, assim como teria de volta meu coração.
Em momento algum, eu quis de verdade que ela se ajoelhasse e se humilhasse. Vê-la ali, naquele momento, tão vulnerável na minha frente, realmente me surpreendeu.
Todo esse tempo, estivemos discutindo por motivos difusos. Eu queria algo completamente diferente e simples, mas ela havia compreendido de outra forma.
- Sofia, eu te amo e sou capaz de fazer o que for preciso para que se convença de que estou arrependida e de que deve me dar uma segunda oportunidade. Volta para mim, por favor, por favor, por favor!
Enquanto eu a encarava com incredulidade, ela continuava ajoelhada na minha frente, implorando para ser minha outra vez.
Isso parecia um sonho, mesmo assim eu não me sentia bem em vê-la nessa posição de inferioridade.
- Não seria uma segunda oportunidade. Acho que deve ser a décima segunda. – Refleti, e não consegui entender porque, dentre tantas coisas para se dizer, falei logo isso. Confusa, balancei a cabeça, passei a mão no rosto e suspirei. – Levanta logo daí, vai! Não precisa disso.
- Só quando você me der uma resposta à altura.
- Por que está ajoelhada? Não quero que implore. Eu nunca quis.
Clara me olhou espantada, incerta, e se levantou devagar com minha ajuda.
- Mas foi o que me disse, quando saiu do meu apartamento, no dia que foi buscar suas coisas. Você avisou que se eu me arrependesse, teria que passar pela sua porta já de joelhos. – Eu me lembrava das minhas palavras, mas não eram verdadeiras.
- Clara, eu falei aquilo num momento de raiva. Não era sério.
Ela estava confusa, com vontade de chorar e, provavelmente, de dar na minha cara.
- Sofia, na casa da minha mãe, você voltou a deixar isso bem claro. – Insistiu nesse disparate. – Deixou a entender, o tempo inteiro, que eu precisava me ajoelhar aos seus pés.
O quê? Claro que não!
- Não era isso a que eu me referia. Naquele dia, como em todos os outros, eu só queria te ouvir dizer que me queria de volta, que fosse minha namorada, que estava arrependida e disposta a ter um relacionamento sério e fechado comigo. Eu só queria você por completo!
Ela recebeu minhas palavras, ainda desacreditada. Precisou refletir um pouco sobre isso e, atônita, largou-se no meu sofá.
- Está tudo bem? – Perguntei, receosa de que estivesse arrependida por estar ali.
Além de reflexiva, suas olheiras lhe davam uma aparência de exaustão.
- Depois de todas essas semanas de tortura, tudo não se passou de um mal-entendido?
Agachei-me em sua frente e me apoiei em seu joelho para, desse modo, poder mirar seus olhos.
- Desculpe-me se te deixei confusa, ou se te fiz pensar tudo errado.
- Eu que sou burra demais. – Tinha um sorriso nervoso.
- Quer desabafar?
Eu sentia que, a qualquer momento, ela me mandaria para aquele lugar.
- Não sei mais se te amo ou se te odeio. – Confessou, em tom de desabafo. Mas eu sabia que não era verdade. Ademais, ela mereceu, um pouco, tudo o que passou. – Não sabe o inferno que vivi por sua causa. Meu Deus, eu ainda me humilhei sem precisar!
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Qualquer Semelhança É Uma Mera Coincidência 2
RomanceSofia retorna para casa e ao convívio de suas antigas amigas. Mais de uma década depois, ela está preparada para encarar os dilemas que pensava terem sido superados, assim como enfrentar fantasmas responsáveis pelos seus traumas do passado. Focada e...