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  Ele tinha 11 anos de idade quando a viu pela primeira vez.

  Sua família resolvera tirar o dia para pescar no lago da floresta perto de casa. Normalmente, Lucien inventaria uma desculpa para não ter de acompanhar o pai e os irmãos, mas, dessa vez, as coisas pareciam tranquilas como quase nunca ficavam: Beron estava de bom-humor, o que era extremamente raro, e a mãe de Lucien, Resilla, havia sorrido para o marido mais cedo. Lucien podia ser novo, mas sabia que não devia arriscar que algo mudasse.

  Embora... Às vezes o menino não sabia o que incomodava mais o pai: que ele fizesse algo ruim ou simplesmente não fizesse nada. Parecia que até o som de sua respiração o irritava. 

  Não, ele balançou a cabeça para si mesmo. Não pense nessas coisas agora. Que a Mãe o livrasse se o pai o visse fazer uma careta para o nada!

  Apesar de tudo, ele ainda estava de mau-humor, e sentou na beira do rio de cara fechada. Seu pai e todos os seus seis irmãos mais velhos estavam nadando e provocando um ao outro na água, mas Lucien tivera de ficar de fora.

  - Não queremos um bebê chorão perto de nós - dissera Tohrn, e seu irmão gêmeo, Areas, ria tanto que um pouco de baba caíra no rosto de Lucien. Isso era muito injusto, porque ele nunca chorava. Quer dizer, só quando estava sozinho. - Sai daqui, xô.

  Eles o enxotaram como se fosse um cachorro, mas Lucien tivera dignidade para fingir que não se importara e marchar até onde sua mãe tomava sol. Sem dizer nada, ele sentara na terra ao lado dela e começara a esculpir formas na argila, xingando Tohrn e Areas em pensamento (se fosse em pensamento, mamãe dissera, então podia).

  - Minha luz - Resilla chamou, e Lucien se virou rapidamente. Ela sempre o chamava assim, e podia ser coisa de criancinha, mas ele gostava. - Está tudo bem?

  Ela falava de um jeito tão carinhoso que de repente os olhos dele se encheram de lágrimas, exatamente como um bebê chorão.

  - Tudo bem - ele resmungou, desviando o olhar.

  As sobrancelhas dela se curvaram para dentro e então para cima.

  - Pobrezinho, você queria estar com eles, não queria? 

  - Não - disse Lucien, embora não fosse verdade. - Eu não quero ficar com eles. Eles me odeiam. 

  Ela pousou a mão no cabelo ruivo do menino, que chegara até as orelhas e andava precisando de um corte.

  - Eles não te odeiam. - Ela sussurrou. Ele sabia que provavelmente era uma mentira para que ele se sentisse melhor, mas, apesar de fingir não se importar, ele acreditou só um pouquinho. A mãe se abaixou e sussurrou em tom de segredo: - Talvez isso te anime: sabia que daqui uns 400 metros pra direita, dentro de uma caverna, tem uma cachoeira secreta? 

  O menino arregalou os olhos.

  - Eu posso ir? Posso ir, mamãe? - Implorou, dando pulinhos animados e sorrindo de verdade agora. 

  - Pode - ela sorriu. Os sorrisos de sua mãe, os verdadeiros - que, para o seu orgulho, ela sempre abria quando eles estavam sozinhos - eram os mais bonitos do mundo. Seus irmãos quase nunca viam esses, mas Lucien sim. - Mas lembre que você tem que voltar antes do anoitecer, ou seu pai ficará bravo. E não conte para ninguém... só eu conheço esse lugar. Vai ser nosso segredinho, entendeu?

  - Entendi - ele disse com grande seriedade. Mamãe lhe deu um beijo na bochecha, e então ele partiu correndo para o meio da mata.

  O garoto ficou com o orgulho inflado em todo o caminho, enquanto procurava a tal caverna. Agora ele teria um segredo só dele com sua mãe. Isso significava que ela confiava nele. Seus irmãos podiam ter uns aos outros e ao pai, mas a mãe era dele. Talvez ela o achasse mais confiável, inteligente e esperto do que... Ai! Ele tropeçou num galho e caiu de cara no chão. 

O Conto de Lucien e JesmindaWhere stories live. Discover now