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  Aos dezoito anos, Lucien passou por ela na praça. 

  Ele estava com Denn, que fora buscá-lo em sua cabana de caça na floresta, e, quando Jesminda viu quem o acompanhava, fechou o rosto e continuou seu caminho.

  Denn cutucou-o para que ele andasse; Lucien nem percebeu que tinha parado. 

  - O pai está com pressa para te ver e eu não quero ser punido por sua causa - resmungou o irmão. - Trate de andar logo. - Eles não podiam atravessar ali no meio do comércio; haviam feitiços contra. E, em todos os cinco minutos que levaram para que eles saíssem da proteção da magia, ele pensou nela.

  Fazia quatro anos que eles não conversavam. Desde aquele incidente horrível no Equinócio.

  Primeiro, porque Lucien fora covarde demais para encará-la depois de ter mentido sobre quem era. Mesmo... Mesmo que alguém tivesse lhe contado sobre uma feérica inferior rondando os arredores da Casa da Floresta por um mês e meio depois. E então, quando ela desistira, ele também. 

  Às vezes, ele passava pela propriedade da família dela e a via; então sempre tentava se esconder. Com o tempo, as memórias do tempo em que os dois eram amigos foram se enevoando. Ele fizera outros amigos, de muitas cortes, e tivera amantes também. Mas, em dias assim, quando eles sem querer se encontravam, ele sentia muito a falta dela.

  Suspirou. Não adiantava nada.

  O escritório do seu pai era todo decorado em tons de cinza e castanho-avermelhado. Beron estava recostado em sua cadeira usual, mexendo em papéis, quando ele chegou.

  Era impossível - impossível não se sentir como uma criança de novo, quando o pai erguia os olhos com tédio e o encarava como se ele fosse uma cachorro muito feio e pulguento que não valia a sua atenção. E então com um ódio amargurado. 

  Quando era mais novo, achava que o pai só era mal-humorado, e que quando ele crescesse, Beron o trataria melhor, como tratava os outros. Mas não fora assim que acontecera. A cada dia, Beron por algum motivo parecia detestá-lo mais; e os seus seis irmãos o seguiam. Apenas Eris ainda o considerava um pouco. Lucien não entendia realmente o porquê de tanto ressentimento, mas dissera a si mesmo que não se importava. 

  - Você está atrasado - disse o pai, fazendo sinal para que ele sentasse. Lucien obedeceu e cruzou os braços. - Recebi seu... pedido. - Seus lábios se curvaram para baixo. - Finalmente se cansou de ficar recluso na floresta, como um selvagem?

  - O senhor disse que não me queria aqui - retrucou Lucien com raiva, meio murmurando. Acontecera quatro semanas atrás; ele fizera amizade com o novo Grão-Senhor da Corte Primaveril em sua visita aos Vanserra, e Tamlin, sem muita diplomacia, não se importara em esconder seu desgosto a Beron quando ele fora grosseiro com o filho mais novo à mesa. Toda vez que lembrava daquela situação e a briga que se desenrolara depois, ele tinha vontade de revirar os olhos. 

  - Não me importo se você dorme num castelo ou no esgoto - cortou o pai, ríspido. - Mas me importo quando meu povo me olha diferente por acharem que enfiei meu filho naquele cafofo.

  Não adiantava discutir com Beron. Lucien apenas cerrou os dentes e tentou controlar seu temperamento.

  - Mas - cedeu o pai. - Reconheço que agora que atingiu a maturidade, você pode finalmente deixar de ser inútil. Todos os outros têm responsabilidades, menos você. - O desprezo era evidente em sua voz quando ele disse a última palavra. - Então vou lhe dar carta branca. Gaste o meu dinheiro, já que é o que sempre faz. Viaje, se quer tanto. - Lucien havia pedido ao pai que o deixasse viajar por Prynthian e estudar há meses; ele estava surpreso pela carta de requerimento ter demorado tanto tempo assim para chegar até Beron, e mais surpreso ainda por ele ter deixado. - Mas faça algo pelo bem da Corte. Você é um príncipe, não ralé, por mais que às vezes pareça. Ganhe aliados para mim. Use essa língua de prata e a sua educação. Faça isso, e posso reconsiderar seu outro pedido.

O Conto de Lucien e JesmindaWhere stories live. Discover now