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  - Onde estamos indo? - Perguntou Jesminda, rindo cegamente enquanto ele a puxava. Lucien tinha rasgado um pedaço de tecido para vendá-la. Precisaria disso para sua surpresa.

  - Shiu, sua ansiosa - ele retrucou.

  - Por que você não nos atravessa?

  - Porque há feitiços contra atravessamentos aqui.

  Ela franziu a testa, tentando descobrir.

  Quando o caminho se tornou muito tortuoso, Lucien a pegou no colo e continuou. Jesminda virava a cabeça para todos os lados, tentando usar seus outros sentidos.

  - Você é muito inquieta, sabia? - Ele disse para ela, sorrindo ao ver a irritação em seu rosto.

  - Bem, e você é muito irritante!

  - Só espere, Jes. Estamos quase lá.

  - Merda, você me chamou de Jes - ela murmurou. - Isso é carta suja.

  Lucien riu, perfeitamente contente, apesar das bolhas nos pés, da respiração ofegante e das mãos raladas da escalada.

  - Eu sei.

  Quando finalmente chegaram no lugar, Lucien olhou apenas para ela. Não queria ver nada sem Jesminda. Ele a colocou no chão e foi para trás dela tirar a venda.

  - Lucien - ela sussurrou. - Estamos na Corte Diurna?

  - Sim.

  Ela se virou e o encontrou sorrindo timidamente. Ela sorriu também e o abraçou.

  - Eu amei. Obrigada.

  - Agora temos que ser rápidos - ele avisou.

  Eles estavam no pico de um monte famoso na Corte Diurna por oferecer o melhor amanhecer de toda Prynthian. Lucien os atravessara até perto dele, mas a subida tiveram que fazer sem magia. A escuridão da noite já começava a se dissipar; estava quase na hora.

  Ele já tivera a experiência sozinho; mas algo lhe dizia que mostrar à Jesminda seria melhor do que qualquer coisa.

  Juntos, estenderam os cobertores que haviam trazido na mochila no terreno mais reto. Lucien deitou com a cabeça encostada na bolsa, e Jes com a dela no peito dele.

  Enquanto esperavam, conversavam baixinho sobre amenidades. Lucien se viu pensando que, se pudesse guardar um momento da vida para reviver todas as vezes que quisesse, seria aquele.

  Eles estavam namorando há várias semanas agora. Encontros escondidos; longe das vistas de todos. Se a família dele soubesse... Lucien não tinha certeza do que aconteceria, mas seria péssimo. Ainda não haviam ido além de beijos, porém (apesar de alguns deles serem em lugares bem indecentes); Lucien temia que, se fossem mesmo parceiros, o acasalamento tornasse o cheiro do laço muito forte para Beron ignorar. Mas agora a propriedade que seu pai havia lhe prometido no oeste estava quase nas suas mãos. Só mais um pouco... Alguns dias... E então eles teriam paz, reclusos.

  - Não vejo a hora de passar todos os amanheceres com você - disse Jesminda.

  - Eu também. - Ele seguiu a curvatura longa da orelha dela com o dedo. - Consegue imaginar viver assim para sempre?

  - Eu fico pensando... Como deve ser para os humanos viverem sabendo que um dia tudo vai acabar? Eu não consigo entender tal coisa; a ideia da mortalidade.

  Lucien refletiu sobre isso; ele quase nunca pensava nos seres abaixo da muralha no sul, na verdade. Mas era uma questão interessante.

  - Talvez viver 70 anos para eles seja como imortalidade para nós.

O Conto de Lucien e JesmindaWhere stories live. Discover now