Parte 08

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Lórien seguia poucos passos à frente de seus companheiros, descendo pelo corredor estreito da caverna, tendo por vezes que desviar das formações rochosas que despontavam do chão ou teto. Ao que parecia, Magnus havia acertado o caminho. A iluminação ainda era fraca, se haviam tochas, estavam distantes, mas já era possível escutar vozes. Virou-se para Magnus e Dh'òrain, perguntando em silêncio se ouviam o mesmo. Ambos assentiram.

Ainda não conseguia definir quantos eram, ou o que diziam. A conversa reverberava e ecoava pelo túnel, sendo também difícil de identificar a distância. Seguiram adiante, volta e meia com pausas aflitas pelo tilintar da armadura de Magnus.

A elfa sentiu uma brisa, que não tinha razão de passar por ali. Deve haver outra entrada, pensou, talvez nem mesmo os sequestradores tenham a chave. Perguntou-se de onde o Senhor Riadoc teria obtido a informação sobre aquele lugar, a certeza de que os homens que procurava estavam sendo ali mantidos reféns.

Logo a luz bruxuleante tornou-se mais forte, o caminho abriu-se em uma passagem mais larga e fácil de enxergar. A caverna, tornada ampla, bifurcava. Lórien fez um sinal para seus companheiros, fazendo-os parar. Esperou alguns segundos, até ouvir as vozes novamente. Apontou, dessa vez tendo certeza de que os sons vinham da direção esquerda. O túnel fazia uma curva, era impossível prever o que encontrariam a seguir, se haveria onde se esconder ou se precisariam encarar os inimigos abertamente. Lórien fez mais um movimento com as mãos, pedindo à Dh'òrain e Magnus que esperassem. Pôs o capuz, escondendo o chamativo cabelo azul que teimava em não pintar, e continuou o caminho misturando-se às sombras.

Não havia muito além da curva, mais um serpentear em que o túnel voltava a se tornar estreito, terminando em uma abertura pequena, para uma câmara espaçosa. Aproximar-se com velocidade e sair atacando não era uma opção.

Agachada e escondida, a elfa observou o ambiente, buscando decorar todos os seus detalhes. O lugar havia sido decorado como um salão, tapetes pelo chão, tapeçarias presas à parede de pedra, estalactites entalhadas para funcionarem como candelabros. Havia uma comprida mesa de madeira, ao redor da qual cinco homens se sentavam, conversando e bebendo em taças de metal. Eles vestiam armaduras, mas o equipamento era improvisado e mal cuidado. Não traziam consigo nenhum símbolo de organização.

Do outro lado da câmara, ardia uma fogueira e, junto dela, dois corpos jaziam deitados, amordaçados. Eram humanos, cobertos de ferimentos e com as roupas rasgadas. Lórien semicerrou os olhos, tentando ver melhor. Ambos tinham cabelos curtos e escuros e, ela teve a impressão, o mesmo rosto. Idênticos.

Uma gargalhada estridente chamou a atenção da elfa de volta aos homens da mesa. Eles continuavam o que parecia uma comemoração, alheios à sua presença. Lórien passou os olhos uma última vez pelo ambiente e encontrou o que procurava: a outra saída. Por detrás de uma tapeçaria, percebeu uma porta. Afastou-se sem dar a chance de ser notada.

— São cinco. Vestem armadura, mas estão bebendo e algumas as armas estão deixadas de lado no salão. — sussurrou para seus companheiros, explicando também o caminho que precisavam seguir e tudo o mais que tinha visto.

— Acha que os reféns são gêmeos? Eu nunca vi gêmeos, não de verdade! Acho a coisa mais esquisita e incrível do mundo. Parece magia, mas é natural! Sem magia! Ainda acho que existe sempre alguém fazendo feitiços do lado da grávida — Dh'òrain desandou a falar, após ouvir o relato.

Lórien deu de ombros, sem dar importância. Não saberia dizer. Aquela não era a única explicação para rostos idênticos, conseguia imaginar algumas outras, envolvendo magia ou não.

— Dizem que gêmeos, juntos, têm muita força arcana — a meia-elfa continuou. Podia ser uma explicação para o sequestro.

— O que eu quero saber é o que a gente faz agora — Magnus falou, tinha dificuldade de manter a voz baixa e fez Lórien revirar os olhos.

— Acho que consigo atirar em uns dois antes que eles venham correndo na nossa direção. O problema é a passagem pequena para a entrada, nos atrapalha. — a elfa disse.

O guerreiro refletiu.

— Se pudéssemos ter certeza de que você derrubaria dois, três não parece um desafio tão grande. Mas humanos são muito mais difíceis de derrotar do que ghouls.

Dh'òrain soltou uma risadinha, seus olhos brilharam.

— Eu dou conta de alguns, podem relaxar. Quero testar uns acordes que aprendi...

Livro 2 - A Sombra, a Música e a Espada [completo]Where stories live. Discover now