Parte 25

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Anluath tinha o olhar fixo no mapa, aberto em cima da mesa ao centro do salão. Pequenos pedaços de madeira entalhada no formato de cavalos e soldados detalhavam todo o plano de ação das ordens. Um plano elaborado após horas e mais horas de discussão. Ainda assim... tinha todos os seus pertences arrumados no quarto. Estava pronto para partir a qualquer momento. Sua vontade era deixar o palacete e sair em busca do palácio naquele segundo. Disse à Lórien que não posso derrotar um exército sozinho, mas... não deixava de imaginar que, talvez, com um pequeno grupo, conseguisse evitar os guardar que cercavam o lago arcado e chegar até a rainha e princesa.

Pegou-se sorrindo por um instante, imaginando a expressão no rosto de Raquel ao ver-se resgatada. A menina que havia conhecido em Lannionad estava muito longe de se encaixar no arquétipo de donzela em perigo, era mais provável que estivesse arquitetando sua própria fuga há muitos verões. Anluath tinha certeza de que, fosse algum agente externo o maior responsável pela sua fuga daquele lago, Raquel ficaria um tanto irritada. Agradecida, mas irritada.

— Algo engraçado em nossos planos? — Estevão perguntou.

O humano sentava do outro lado da mesa, bebericando uma bebida azulada em uma taça longa de vidro enquanto examinava papéis. Ítalo também ocupava uma cadeira no canto, de resto, estavam sozinhos.

Balançando a cabeça em negativa, Anluath falou:

— Eu conheci as duas, não sei se já te disse isso, algum dia.

Estevão ergueu o olhar para o elfo. Ítalo, de forma um tanto disfarçada, fez o mesmo.

— Elas foram à floresta, visitar. Foi na ocasião da morte de Lázaro — o arqueiro continuou, ainda com um sorriso nostálgico despontando do canto dos lábios — Sempre me lembro dos irmãos discutindo, a ferocidade com a qual Raquel chamava Leonel de todos os nomes possíveis, por discordarem sobre algo tão significante quanto a cor de um fio de cabelo perdido no vento — baixou os olhos para a mesa, outra vez. —Lembro-me também de como a rainha sempre apaziguava a briga, quase sem precisar de palavras.

Estevão achou graça.

— Talvez fosse Valéria o segredo para nossa paz.

— Hun — o elfo fez, divertido, e voltou sua atenção ao mapa.

Como se, ao dar suficiente atenção ao ponto correto, poderia fazer o lago arcano surgir na pintura sobre o papiro. Não saberia dizer ao certo quanto tempo passou, até que foi distraído pelo som de engasgo.

Levantou o olhar para o homem a sua frente e encontrou Estevão sofrendo em quase absoluto silêncio. Ele agarrava a garganta com as mãos, arranhando a pele em uma busca desesperada por ar, o rosto já roxo, os olhos esbugalhados. Surpreso, Anluath dirigiu um rápido olhar a Ítalo antes de pular por cima da mesa em socorro a Estevão. Não teve tempo para compreender o significado de Ítalo estar assistindo, imóvel e calado, sem mover um músculo, o sofrimento de seu mestre.

Um forte clarão invadiu o salão, seguido por um estrondo ensurdecedor.

Estevão, já tão próximo da morte, foi consumido por um raio de energia branca. 

Livro 2 - A Sombra, a Música e a Espada [completo]Onde histórias criam vida. Descubra agora