A Fotografia [SasuHina]

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Quando lhe contaram que a vida tinha altos e baixos, Hinata não acreditou muito. Tinha apenas cinco anos e a infância perfeita. No entanto, tudo começou a desandar mais rápido do que a menina que era podia acompanhar e entender. A morte precoce de sua mãe; o distanciamento e frieza do pai; o assassinato do tio; o ódio do primo, a quem considerava um irmão; e, talvez o pior de tudo, a rivalidade que incutiram na cabeça de sua caçula – a única pessoa que lhe sobrou.

Todos de seu clã lhe deram o rótulo de fraca e incapaz. Seu próprio pai, Hiashi, decretou seu atestado de perdedora. Ninguém acreditava, ninguém. Até que, em uma noite de inverno, ela foi salva por um garotinho tímido, arisco e tão problemático quanto ela. Contudo, a vida gostava de jogá-la para baixo quando podia. Este mesmo garoto sumiu, afastou-se e mandou que ela se mantivesse longe. Boa como era, Hinata acatou a ordem e seus olhos perolados voltaram-se para a figura espalhafatosa e espevitada de Uzumaki Naruto.

Anos se passaram. A Hyuuga cresceu e se tornou uma bela jovem, mas com muitos problemas de segurança e autoestima, afinal, quem se daria ao trabalho de olhar para ela? Um sorriso discreto apareceu nos lábios femininos enquanto seus dedos tocavam suavemente a moldura delicada que protegia sua foto favorita contra o tempo.

Tempo este que continuava a correr apesar dos apesares.

Mergulhar em memórias era um costume que adquiriu com os anos após sua maior decepção. Receber a negativa de Naruto depois daquela declaração impensada não doeu tanto quanto todos os olhares de repulsa quase ganhou de seus pares. Hyuugas podiam ser cruéis além da conta e, mesmo que Hiashi a tenha considerado capaz de liderar o clã quando derrotou Toneri, os conselheiros ainda se recusavam a reconhecê-la. Seu coração, já muito acostumado à rejeição, fechou-se para o mundo. E a mesma pergunta sombria voltou:

"Afinal, quem era ela?"

Ninguém, uma vozinha maldosa dentro de sua cabeça insistia em murmurar sempre que aquele lugar sombrio ameaçava aparecer. Hinata, cheia de rebeldia, não abdicou a cadeira de líder apenas para afrontar os conselheiros e, pela primeira vez, recebeu um sorriso enorme de seu pai.

— Talvez não agora, mas algum dia — Hiashi dissera muito enigmático.

Sua carreira como ninja crescia assim como a falta de confiança. A Hyuuga sabia que era capaz, mas seus olhos e sentidos pareciam se negar a aceitar. Era muito mais fácil apenas pensar que era tudo culpa sua, que não era forte, do que ver suas qualidades.

Defeitos sempre se sobressaíam.

Foi em um dos momentos de maior desespero que a jovem escondeu-se entre as árvores, no meio do inverno. Um costume curioso que desenvolveu ainda muito pequena assim que perdeu a mãe. O frio gelado e a neve pareciam lavar suas feridas e congelar os sentimentos ruins. A solidão branca reconfortava seu coração.

E foi nesse momento que o par de olhos negros voltou. Um ex-nukenim que não era bem-vindo na vila e evitava a tudo e a todos. Uchiha Sasuke perdeu um braço durante a última luta contra Naruto durante a guerra e recusou um novo. Disse querer pagar por seus pecados. O homem a observou em silêncio por mais alguns segundos antes de caminhar com passos largos até ela e sentar-se do outro lado da árvore.

— Aqui de novo?

A pergunta a surpreender mais pelo fato de que ele se lembrava de antes do que por ter sido feita. Hinata lutou contra as lágrimas quentes, ainda decidida a congelar tudo que sentia, antes de acenar com a cabeça.

— Ainda não aprendeu que as respostas não vão cair do céu?

— E de onde virão? — Não era para ser uma questão séria. Nem mesmo ela acreditava nisso. No entanto, algo em seu interior queria desafiar alguém. Pela primeira vez, Hinata queria brigar. — Porque eu já tentei de tudo e nada acontece. Então, Uchiha-san, o que eu deveria fazer?

Mergulhada em SentimentosWhere stories live. Discover now