06_ Biblioteca.

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Mariana- Uuiiii quem é Daniel?

Elizah- Nada de Uuiiii não kkk você só queria que eu dissesse o nome de um cara bonito, e ele foi o único que passou por mim aqui.

Mariana- Ah mas deve ter um motivo para você ter falado logo esse tal Daniel.

Elizah- Porque ele é bonito, ué, euem. Não era isso que queria? O Daniel é bonito e também foi o único que falou comigo de forma " educada ". Apesar da vergonha que passei hoje cedo na frente dele.

Mariana- Espera, hoje cedo? Você estuda de tarde. Você viu ele hoje cedo?? Vergonha?? O que rolou dona Elizah??

Elizah- Não pensa besteira kkk.

Estava conversando com ela até que vi a hora. O intervalo iria acabar depois de pouco tempo e eu não havia nem desembalado meu sanduíche.

Elizah- Quando eu chegar em casa mais tarde te ligo, Mari. Preciso comer.

Mariana- Tudo bem, mas me liga mesmo. Quero saber que vergonha foi essa.

Elizah- Ok ok kkk.

Apaguei a tela do meu celular rindo da mesma e comecei a comer o meu sanduíche. Meus olhos passearam por entre os alunos que riam e conversavam ali enquanto lembrava-me das expectativas que criei.

Eu sempre fui muito boa em fazer amizades. Gostava de conhecer gente nova e em todas as poucas vezes que tive que mudar de escola, pessoas chegaram em mim e eu fiz amigos no primeiro dia. Pensei que não seria diferente dessa vez, mas foi.

Eu me sentia um pouco chateada por isso, mas não gostava de deixar esse tipo de coisa me entristecer. Isso nem era um grande problema. Poderia ser pior.

Continuei comendo o sanduíche até que ouvi uma risada alta vinda de uma das meninas que estava com Daniel.

Acabei olhando e vi que a maioria estava rindo de algo, mas uma delas estava gargalhando muito alto. Daniel parecia confuso olhando para ela.

ㅡ Você é hilário, Daniel! ㅡ Ela bateu de leve no braço do garoto.

ㅡ O que eu disse? ㅡ Ele fez uma careta e quem riu foi eu.

Balancei a cabeça em negação e me dirigi para longe dali. Precisava beber água, mas não sabia onde era. Então eu precisava procurar o bebedouro agora antes que acabasse o intervalo.

Fiquei uns minutos procurando até finalmente encontra-lo. Eu não sabia se aquele era o único bebedouro da escola, mas torcia para que não. Ele era muito longe.

Àquela altura eu já havia terminado o sanduíche, me Inclinei para jogar a embalagem na lixeira quando notei uma porta naquele corredor. Abri a mesma por curiosidade e me daparei com uma biblioteca mediana repleta de estantes com livros.

Eu não havia lido muitos livros durante minha vida. Houve um tempo, que eu não gosto muito de me lembrar, que eu não ligava para muitas coisas. Livros era uma dessas coisas.

Procurei por alguém ali dentro, mas não vi ninguém. Comecei a andar por entre as estantes observando cada livro que me chamava atenção. Por que eu nunca parei para ler uma história antes?

Passando os olhos por entre as estantes, meu foco acabou parando em um livro amarelo. Ta, ele não era todo amarelo, mas a prancha de surf amarela estava bem destacada na capa.

Naquele Verão... ㅡ Repeti para mim o título da história e a folheei. Talvez fosse bom para mim começar novos hábitos.

Sorri olhando-o e saí das estantes. Fui em direção a um balcão que tinha ali na qual eu imaginei que devia ficar alguém. Notei um caderno aberto e uma caneta sobre.

Se pegar um livro, coloque o seu nome e o nome do livro na frente. Não tente gracinhas porque tem câmeras. Atenciosamente, tia da livraria.

Achei aquilo bem inusitado, mas coloquei o meu nome e também o nome do livro. Saí da biblioteca e estranhei não haver mais ninguém ali.

Meu coração acelerou quando pensei na possibilidade do intervalo já ter terminado e eu não ter escutado o sinal.

ㅡ Ai meu Deus. ㅡ Comecei a correr por entre aqueles corredores que pareciam mais um labirinto. Meu desespero só aumentava a medida que eu andava e não encontrava ninguém. Tudo vazio e silencioso.

Estava virando um corredor as pressas quando dei com tudo em alguém.

ㅡ Opa. ㅡ Sua voz soou e eu arregalei meus olhos.

ㅡ Me desculpa! ㅡ Encarei Daniel. Eu detestava esbarrar nas pessoas. Isso sempre fazia garotas quererem arrumar confusão comigo na rua.

ㅡ De boa. ㅡ Ele sorriu. ㅡ O sinal já bateu.

ㅡ Imaginei. ㅡ Fiz uma careta. ㅡ Por que está aqui fora?

ㅡ Perdi a noção do tempo. ㅡ Ele balançou aquela mesma revista que lia, mas não consegui ver do que se tratava a mesma. ㅡ E você? Se perdeu? ㅡ Daniel abriu um sorriso no canto dos lábios.

ㅡ Talvez. ㅡ Dei de ombros o fazendo rir. ㅡ Eu estava na biblioteca e não ouvi quando o sinal bateu. Aí me perdi por esses corredores.

ㅡ Se o professor perguntar, você é novata, não conhece o colégio, se perdeu, porque o colégio é grande, e eu te ajudei. ㅡ Ele piscou.

ㅡ Ok. ㅡ Ri do mesmo. Só de eu não precisar entrar sozinha atrasada já era um alívio.

Eu e Daniel caminhamos em direção a nossa sala e ele abriu a porta permitindo que eu entrasse primeiro. Todos nos encararam quando ele entrou também e fechou a porta.

ㅡ Boa explicação? ㅡ O professor nos encarou.

ㅡ Sem detalhes, em. ㅡ O garoto que estava sentado perto de nós falou com deboche e todos da sala riram.

Daniel forçou um riso curto e sarcástico.

ㅡ Comediante. ㅡ Falou sério e olhou para o professor. ㅡ Ela se perdeu nos corredores e eu só ajudei. ㅡ O mesmo deu de ombros.

ㅡ Sei que provavelmente é mentira, mas por ela ser nova eu vou fingir acreditar. ㅡ O professor virou-se para o quadro. ㅡ E também porque ela está com um livro da biblioteca. A nossa biblioteca fica na casa cacete. ㅡ Ele resmungou e a maiotia riu. Eu fiquei foi surpresa com o linguajar dele. Meus antigos professores não podiam falar nada que fosse " inadequado " para a diretora.  ㅡ Sentem-se.

Daniel sorriu para mim e se dirigiu a sua carteira.

Fui em direção à minha também e sentei-me. Guardei meu celular de volta em minha mochila junto do livro e tentei focar na aula.

[...]

ㅡ Então fica para casa os exercícios da página 34 à 53. ㅡ A professora de espanhol ditou antes de começar a apagar toda a matéria do quadro.

ㅡ Nossa, mas para que isso? Castigo? Punição? Manda a gente ajoelhar no milho logo. ㅡ O garoto que sentava perto da porta resmungou.

ㅡ Né! Quase vinte páginas de exercício. ㅡ Uma garota resmungou escorregando na cadeira.

ㅡ Vocês tem uma semana, ué. ㅡ Ela respondeu com toda sua calma que quase me fez dormir na aula, e eu gosto de espanhol. Mas ela falava com a mesma animação de do João Frango encarnado numa preguiça roca. Parecia mais uma aula de ASMR de tantos alunos que abaixaram a cabeça e dormiram naquela aula. ㅡ Agora aguardem o sinal tocar e podem sair.

Naquele momento o falatório natural da sala voltou a soar. Todos guardaram seus materiais e começaram a conversar entre seus grupinhos de amigos.

Talvez aquele tenha sido o pior momento do dia.

Sabe quando todos ao seu redor interagem e você se sente deslocada como se nem estivessem te enxergando? Era isso que eu sentia. Todos riam e conversavam entre si enquanto eu me sentia ainda mais sozinha, mesmo estando todeada de pessoas.

Encarei a janela aberta notando que já estava escurecendo e suspirei. Eu realmente esperava que aquilo fosse só no primeiro dia.

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Continua...

Amarelo, a nova cor do Amor - DEGUSTAÇÃOWhere stories live. Discover now