07_ Papagaio?

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Já era noite quando cheguei em casa. Meus pés doíam um pouco porque essa escola era mais longe da minha casa do que a minha antiga, mas eu acostumaria.

ㅡ Elizah? ㅡ A voz da minha mãe vinda da cozinha chamou minha atenção. ㅡ É você?

ㅡ Sim. ㅡ Respondi tirando meu tênis e indo em direção a porta da cozinha. Meu nariz foi invadido pelo cheiro da carne moída. ㅡ Não me diga que... ㅡ Fechei meus olhos e inspirei aquele cheiro maravilhoso.

ㅡ Macarrão com queijo e carne moída. ㅡ Ela sorriu para mim. Minha mãe sabia que esse era o meu prato favorito.

ㅡ Ai mãe, Deus te abençoe. Era tudo que eu precisava. ㅡ Sorri novamente.

ㅡ Por que? Aconteceu algo no colégio? ㅡ Ela encarou-me e eu olhei rapidamente para os dois lados.

ㅡ Não. Foi tudo perfeito. ㅡ Respondi.

ㅡ Tem certeza?

ㅡ Nada que mereça sua preocupada. ㅡ Sorri novamente. ㅡ Eu vou tomar um banho e começar a fazer meus exercícios de espanhol. A professora passou 19 páginas repletas de questões. ㅡ Virei as costas para sair da cozinha.

ㅡ Ah que pena. Vi que na HBO vai passar os três filmes daquela menina que você gosta daqui a... ㅡ Ela olhou para o relógio pendurado na parede. ㅡ Dez minutos.

ㅡ Que menina?

ㅡ Lara Jean. ㅡ Ela respondeu e eu arregalei meus olhos.

ㅡ Vai passar os três filmes de Para todos os garotos que já amei? ㅡ Ela assentiu. ㅡ Er... acho que posso começar o espanhol amanhã cedo, o que acha? ㅡ Inclinei o rosto para o lado e minha mãe riu.

ㅡ Contanto que estejam prontos até o dia da entrega, por mim tudo bem. ㅡ Ela voltou a mexer nas panelas do fogão.

Eu não era muito de ler, mas gostava de assistir. Filmes e séries eram meus amores, apesar de eu quase nunca terminar as séries. Se tinham mais uma temporada eu sabia que não ia terminar.

A última que assisti foi Bridgerton. Mariana me encheu o saco para assistir e eu coloquei para ver na sala da minha casa.

Eu quase matei a Mariana quando apareceu a cena da árvore.

Minha mãe estava comigo!

Apesar de que eu nem fiquei surpresa, esse tipo de coisa sempre acontece comigo. Quando assistia Supernatural na casa da minha avó, eu estava sozinha na sala e tudo que passava era eles rindo, brincando e zombando. Mas quando minha avó aparecia na sala o lucifer aparecia junto com milhares de demônios e espíritos.

Resultado: minha avó quis chamar o pastor dela para me ver porque eu estava assistindo coisas do diabo.

Hoje em dia eu prefiro assistir as coisas pelo celular mesmo. Não corro tanto risco de pensarem que eu assisti pornô ou séries do capeta.

Subi as escadas levando meu tênis e entrei no meu quarto. Colquei o tênis encostado na parede, joguei a mochila sobre a cama e me joguei sobre ela.

Fechei os olhos quando passei as mãos no rosto. Todos os momentos daquele dia vieram a tona na minha cabeça e eu senti minhas expectativas frustradas. O Colégio não era como eu esperava, não fiz amigos como esperava, as expectativas que eu tinha não haviam se realizado. Mas a culpa não era minha, pelo menos eu acho.

Não me lembro de ter sido grossa com ninguém, ou ter olhado torto. Acredito que eles precisam de mais tempo para me conhecer.

Tentei pensar positivo novamente e me levantei da cama. Naquela noite eu tomei um banho ( novamente pendurando o lençol amarelo na janelal ), jantei junto da minha mãe e assisti aos três filmes com ela. Meu pai chegou quase no final do terceiro filme.

Depois de escovar os dentes e ir para a cama, me perguntei o que eu faria. Eu não gostava de ficar parada muito tempo. Assim como falei com minha mãe, preciso arrumar algum tipo de exercício para fazer e também um emprego.

Virei-me de lado tocando a bochecha ao travesseiro e me cobri até o pescoço.

Amanhã de manhã faço um pouco dos exercícios e dou uma volta pelo centro da cidade para ver se encontro algo. Pensei.

Puxei a coberta para me cobrir completamente ( meus amigos me acham estranha por dormir sempre toda coberta, até a cabeça, mas só consigo dormir assim ) e logo adormeci.

[...]

ㅡ Posso assaltar um banco?  ㅡ Perguntei ao meu pai enquanto tomávamos café da manhã. Tanto ele quanto minha mãe me encararam.

ㅡ Não? ㅡ Ele fez uma careta.

ㅡ Então posso ter um cachorro? ㅡ Sorri pendendo minha cabeça para o lado e logo eles entenderam o que eu queria. Meu pai riu.

ㅡ Já conversamos sobre isso. ㅡ Ele balançou a cabeça.

ㅡ Okay. ㅡ Resmunguei me afundando na cadeira. ㅡ E um gatinho?

ㅡ Não.

ㅡ Tartaruga?

ㅡ Não.

ㅡ Papagaio?

ㅡ Não.

ㅡ Peixinho dourado?

ㅡ Eu vou trabalhar. ㅡ Meu pai se levantou da cadeira me fazendo rir. Meu pai não gostava muito da ideia de ter um animal em casa. Mas eu insistia quase sempre mesmo sabendo que ele negaria.

ㅡ Eu vou arrumar a casa. Você vai fazer os seus deveres? ㅡ Minha mãe me encarou depois de também se levantar da cadeira.

ㅡ Eu? ㅡ Escorreguei na cadeira e encarei o teto.

ㅡ Elizah, Elizah... Não deixa para fazer em cima da hora não. ㅡ Ela começou a colocar as louças sujas na pia.

ㅡ Mas hoje é terça, e é só para segunda-feira que vem... ㅡ Resmunguei fazendo uma careta.

ㅡ Amanhã já vai ser quarta. Vai dar conta de fazer todos até segunda?

ㅡ Sim! Se não, não me chamo Elizabeth. ㅡ Levantei-me da cadeira. 

ㅡ Você não se chama Elizabeth. ㅡ Ela respondeu me fazendo rir e eu saí da cozinha.

O dia estava lindo lá fora e eu queria andar um pouco. Queria muito encontrar o que fazer.

Vesti uma saia jeans amarela mostarda que tinha uns botões na frente, uma blusa branca listrada e um tênis branco. Eu raramente usava algum outro sapato, a não ser tênis.

Meu cabelo era loiro e curto assim como o da minha mãe. O mesmo no mesmo estava ondulado ( por que amassou a noite ), mas estava bonitinho. Acabei deixando daquele jeito mesmo.

ㅡ Mãe? ㅡ Chamei pela mesma saindo do quarto. ㅡ Vou procurar algo para fazer!

ㅡ Toma cuidado, Elizah. ㅡ Ela respondeu e notei sua voz vinda do quarto dela.

ㅡ Ta! ㅡ Respondi já descendo as escadas.

Saí de casa, passei pela varanda e assim que fui descer os degraes da varanda... eu escorreguei caindo sentada no chão.

Primeiro eu resmunguei com a dor, depois tive uma crise de risos que atraiu minha mãe até a porta. Por sorte minha saia, por ser jeans, era pesada e não levantou quando eu caí.

ㅡ Isso foi por que eu disse para tomar cuidado? ㅡ Ela cruzou os braços na porta de casa me fazendo rir ainda mais.

Minha risada só parou quando olhei na direção da casa vizinha e vi Daniel na varanda da casa. O mesmo parecia estar falando ao telefone, mas tava a atenção roubada por uma garota que rolou trás degraes e conseguiu cair no chão.

Arregalei meus olhos quando ele fez cara de riso. Tampei meu rosto deixando minha mãe confusa e saí dali a passos rápidos.

ㅡ Tchau, mãe! ㅡ Acenei para ela sem olhar para trás, atravessei e passei o mais rápido possível pela casa. ㅡ Melhor amiga da Thalia, isso não é hora.

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Continua...

Amarelo, a nova cor do Amor - DEGUSTAÇÃOOnde as histórias ganham vida. Descobre agora