4. Meu acerto de contas com o passado.

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Meu acerto de contas
com o passado.





ERA PARA SER SÓ MAIS um dia comum de ressaca e alívio por ter acordado na minha cama sem Fernando ou Fernanda do meu lado. Mas meu estômago não parecia muito disposto a colaborar comigo, pois nesse momento, Júlia estava tomando seu café de pé ao meu lado, enquanto seu pé pressionava o pé da lata de lixo para manter a tampa erguida ao mesmo tempo em que eu estava ajoelhada e debruçada sob o lixo, colocando tudo para fora. Isso sem mencionar na forte dor de cabeça que sentia pela forte ressaca.

Por sorte minha amiga tinha levado meu irmão para escola mais cedo, o que significava que poderia ficar aliviada por Carlos não me ver nesse tipo de situação degradante. Ele odiava-me ver bebendo, pois isso desencadeava memórias traumáticas de como Phil chegava embriagado em casa, totalmente descontrolado, antes de nos bater violentamente e fazer o mesmo com nossa mãe.

Eu sei. Pelo péssimo passado que tenho com o álcool, eu não deveria beber. Mas acontece que beber era a forma que encontrei como uma saída de fuga e escape da vida perturbada que levo e até mesmo do meu passado complicado. Eu era apenas uma quebrada que só conseguia fugir dos problemas com o álcool. E não era todo dia que bebia, apenas bebia em festas, fora isso eu me mantinha sã, porque sabia que se não tivesse esse cuidado poderia virar uma alcóolatra como Phil era e isso era a última coisa que gostaria de ser: igual aquele desgraçado.

Após colocar quase todos meus órgãos internos para fora e para dentro da lata de lixo. Júlia me ajudou a levantar, já que estava com meu corpo praticamente mais mole do que macarrão instantâneo. Sentei-me na mesa, sentindo tudo girar incansavelmente, algo que me fez soltar um suspiro contrariado pelos lábios. Sentia-me como se tivesse sido atropelada por um caminhão. Meu corpo estava completamente exausto e implorava para passar o dia inteiro na cama.

Estava tão esgotada que sequer consegui ficar animada com o malote cheio do dinheiro que ganhei ontem por vencer o racha, o qual Mônica trouxe para mim bem cedo e entregou a Júlia, já que estava completamente apagada na minha cama. Dinheiro sempre me deixou animada e ansiosa o suficiente para conta-lo, mas o cansaço da bebedeira de ontem me deixou completamente indisposta.

Quando ia esfregar o meu rosto com a palma da mão direita, meus olhos expulsaram completamente a dormência e o cansaço quando eles se fixaram na tatuagem que tinha sido desenhada na palma da minha mão direita. Eu odiava tatuagens, não achava que elas ficariam boas em alguém como eu, mas por outro lado às achava bonitas em outras pessoas, não em mim.

Uni as sobrancelhas, contrariada. Eu poderia ter bebido demais, mas eu me lembrava de tudo que tinha acontecido noite passada. Até mesmo me lembrava da alucinação com uma espada viking sinistra, que parecia ter ganhado vida quando a toquei, ela era cheia de runas e... Perdi completamente o fôlego, quando constatei e reconheci que aquele símbolo tatuado na palma da minha mão era uma runa do alfabeto nórdico.

Levantei-me tão rápido e desajeitadamente que a cadeira da qual eu estava sentada caiu e bateu ferozmente contra o chão, algo que assustou Júlia pela minha súbita e repentina reação. Ela me perguntou diversas vezes o que estava acontecendo, mas eu a ignorei quando corri rapidamente para meu quarto e comecei a procurar um dos livros de mitologia nórdica que minha mãe lia para mim e uma das poucas coisas que consegui guardar na minha mochila quando decidi fugir dos abusos de Phil.

Era uma das poucas coisas que tinha da minha vida quando criança e me fazia me lembrar constantemente da minha mãe. Ela dizia que esse livro que ela tinha, foi um presente do meu pai para ela, embora nunca soube quem ele realmente fosse. Claro que gostaria de saber quem ele era quando pequena, fantasiando sobre ele ter tido um bom motivo para nós deixar, como se estivéssemos em algum filme da Disney. Mas sempre que tocava no assunto, minha mãe ficava tensa e começava a desconversar, sempre trocando de assunto.

Things We Lost In The Fire ── 𝐌𝐀𝐆𝐍𝐔𝐒 𝐂𝐇𝐀𝐒𝐄Onde as histórias ganham vida. Descobre agora