Spasenie

Deset

Haviam se passado três dias desde que eles haviam se beijado.

Haviam três dias desde que Hermione estava trancada em seu quarto, desacordada.

Logo após ela ter desmaiado na sexta à tarde, Viktor levou pelo menos duas horas para conseguir que o medbruxo da família fosse até a sua casa, e desesperado, não soube dizer se conseguiu passar as informações corretamente para o doutor. Ele sabia quem ela era, sabia o que tinha passado nos últimos quatro anos, mas não conseguia entender o motivo de tudo aquilo.

-O que é estranho, Viktor, é que sua namorada....

-Colega de casa.

-Sua colega de casa não estava com nenhuma contusão na cabeça.

-Como assim?

-Em alguns casos, quando há concussões, a pessoa pode ter perda de memória, exatamente como ela, mas em algum momento elas voltariam. Levariam alguns dias, semanas ou até mesmo anos, mas ela estava sob efeito de diversos obliviates. Isso não era para ter acontecido.

-Os comensais não eram tão poderosos, ela ainda se lembrava de algumas coisas.

-Mas não significa que se lembraria do resto, apenas que tinha um estado mental não muito agradável.

-O que o senhor acha então?

O medbruxo ficou em silêncio por alguns instantes, olhando para Hermione.

-Sinceramente? Acho que você foi o responsável por isso.

-EU?!

-O amor é uma mágica muito poderosa, sabia? Beijos de amor verdadeiro já quebraram duas ou três maldições ao longo da história. Foi a primeira vez que se beijaram, certo? Certamente foi isso.

-Então... Se eu continuar a beijá-la isso só vai piorar o seu estado?

-Eu recomendaria só usar sua boca depois que ela acordar e ver como está.

Seguindo à risca os conselhos, ele não tentou dar uma de príncipe Florian ou Phillip, deixando que Hermione descansasse, mas a segunda-feira havia chegado e ele precisava ir trabalhar. Não teve dúvidas sobre quem pedir para ficar com ela, cumprimentando Ronald Weasley pouco antes de desaparecer na lareira. As regras haviam sido claras: não tirar os olhos de Hermione por um segundo sequer. Embora houvessem grandes chances que ela não acordasse, sua temperatura e sono precisavam ser velados e verificados, caso houvesse alguma mudança brusca.

Das oito da manhã até às onze Rony de fato não saiu do quarto da mulher, mas ele precisava muito ir ao banheiro. Decidindo que talvez não fosse uma boa ideia levar ao pé da letra as recomendações de Viktor, ele foi até o banheiro da suíte de Hermione, recostando a porta para eventuais barulho.

Se sentindo pisoteada por uma manada de elefantes, Hermione tentou se mexer, notando como seus músculos estavam pesados e superlotados de ácido lático - o que fazia doer tudo. Piscando os olhos com dificuldades, ela se perguntou como havia ido parar em seu quarto, já que se lembrava de estar nos braços de Viktor, beijando... Como um raio, as lembranças das suas lembranças acertaram com tudo a sua mente. Com seu cérebro melhor preparado dessa vez, ela permaneceu sã, absorvendo tudo com seus olhos e boca arregalados. Uma coisa seria ela tomar consciência da sua vida nos últimos quatro anos, outra era saber o que tinha sido obrigada fazer e se lembrar de todos os dezoito anos anteriores. Ver Harry a defendendo no primeiro ano, todas as aulas e Hogwarts, Viktor a levando para um canto escuro no Baile de Inverno e sendo impedido por Snape, tomar consciência de quem era Voldemort de verdade a deixavam enjoada, mas ver Malfoy a perturbando insistentemente desde seus onze anos de idade, a humilhando, xingando e a levando a loucura tinha levado a sua bile até sua boca. Levantando-se em um rompante que quase a derrubou no chão, ela correu o melhor que pode até seu banheiro, batendo contra um peito duro na porta do toalete.