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Mal tínhamos nos sentado à mesa e eu já estava pronta para partir. O cheiro ardente e intoxicante que exalava do cigarro dos dois vampiros sentados a minha frente, sobrecarregava meus pulmões, causava uma sensação de dormência nos meus lábios e pareciam adicionar um peso extra nas minhas pálpebras. Eu não sei exatamente o que era, mas eu estava certa de que não era apenas a nicotina de um cigarro normal.

Ergui meus olhos para o grande relógio cintilante há alguns metros. "40 minutos" repeti para mim mesma. Eu ficaria por 40 minutos, e então arrumaria uma desculpa para sair.

- Você parece desconfortável! - A mulher de longos e cheios cabelos enrolados, esticou seus lábios carnudos, pintados num vermelho sangue, no mesmo tom exato que seu vestido justo de cetim. Celeste, era seu nome.

Ela afastou do rosto a piteira de ouro que abrigava seu cigarro na ponta, e me encarou com mais atenção.

- Espero não termos estragado seus planos para hoje à noite, te obrigando a participar da nossa reunião.

Eu não sei se deveria dizer a ela que eu não tinha plano nenhum, porque Hades estava me mantendo como prisioneira naquela casa.

- Não estragou - assegurei, bebericando um pouco do vinho da minha taça, desviando levemente os olhos para o vampiro ao seu lado, e constatando que ele continuava me encarando de forma áspera por entre as tênues aspirais de fumaça que saia do cigarro que ele girava vagarosamente por entre os dedos.

Ele tinha um dos cotovelos apoiado sobre a mesa, e o corpo levemente curvado. O cabelo castanho bem cortado e uma cicatriz em formato de "X" na sobrancelha direita, davam a ele um ar militar e meio intimidador. E a falta de carisma ou expressão me fazia imaginar que ele não era muito simpático, ou que pelo menos, não simpatizava com a minha pessoa.

Seu nome era Perrier Beaufort. Era francês, assim como Celeste.

Anne, que tinha sido esperta o suficiente para inventar um compromisso de última hora e se livrar daquela reunião, havia descrito a relação de Perrier e Hades como admiradores mútuos. Não amigos, ou colegas, o que apenas me deixava ainda mais desconfiada em relação a ele. Também tinha dito algo sobre não existir uma palavra que pudesse descrever o quão desconfortável era estar em sua presença.

As outras meia dúzia de cadeiras que cercavam a grande mesa, estavam vazias. O restante dos convidados de Hades haviam partido gradualmente durante a tarde, mas graças ao pedido de Hades para que eu me mantivesse longe deles, eu tinha me livrado de uma situação ainda mais desconfortável. Eu não me imaginava cercada de vampiros de todo canto do mundo, me julgando mentalmente, provavelmente em idiomas que eu nem poderia entender.

- Eu tenho que admitir que ela é diferente do que eu imaginava. Ela tem um pouco de inocência nos olhos, não é algo que eu esperava encontrar na sua filha.- Celeste lança a Hades um sorriso sorrateiro, mas logo volta os olhos para mim. - Me diga, querida. Ele está te tratando bem? - Seu sotaque pesado e sofisticado fazia dela uma incógnita ainda maior.

Eu pisquei algumas vezes, um tanto confusa e incerta do que deveria dizer. Eu não sabia dizer se ela realmente estava sendo simpática, ou se a acidez do seu tom apenas estava passando despercebida aos meus ouvidos. Seu sorriso parecia caloroso, e sua feição abrigava uma certa leveza e discontração, mas algo em sua postura ereta e oponente, me fazia sentir como se eu estivesse na defensiva, mesmo que não fosse intencional. Talvez fosse sua confiança, que transparecia a cada movimento leve e despretensioso que ela fazia, que me intimidava.

Sweet NightmaresWhere stories live. Discover now