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A luz neon roxa que iluminava as beiradas dos prédios, refletia no coro preto e envernizado da minha bota. As cores explodiam na minha cabeça como fogos de artifícios. Eu podia ouvir a música dançante e melódica, mesmo ainda estando à metros de distância da boate. O barulho do meus passos no chão molhado ecoavam pelo beco vazio.

Aquele era a única comunidade inteiramente vampira da região. O quarteirão era isolado por um feitiço feito há mais de 50 anos. E deveria estar lotado naquele momento se não fosse pelas circunstâncias atuais. Kaled chamou aquele quarteirão de Tártaro, em homenagem ao local para onde as almas das pessoas mais injustas e impiedosas eram enviadas depois de morrer, de acordo com a mitologia Grega.

Ajeitei na cabeça o capuz preto quase cobrindo meus olhos.

Meu celular vibrou no meu bolso, mas eu ignorei, enquanto apressava meu passo ainda mais. Parei em frente ao prédio de tijolos escuros, ouvindo a música e as vozes do outro lado ficarem ainda mais altas. Encarei o letreiro de LED pendurado na faixada velha de ferro, onde a palavra "Nix" refletia uma luz violeta cintilante.

Tirei as mãos dos bolsos da blusa, e dei dois socos na porta de metal, assim como Kaled havia me indicado. Uma janelinha minúscula se abriu, e um par de olhos castanhos me encarou por ela. Percebi uma de suas sobrancelhas se arquear, esperando alguma reação minha.

Me concentrei.

"Vamos lá, você consegue!" Eu disse para mim mesma, sentindo um tremor subir pelo meu corpo, assim que fechei meus olhos. Achei que não tinha funcionado, mas ao abrir, vi o vermelho brilhante dos meus olhos refletindo nos do homem do outro lado da janelinha.

Ele se afastou um pouco, e em seguida eu ouvi o barulho da tranca se abrindo.

Passei pela porta pequena, enquanto o homem se encolheu para que nós dois coubéssemos no corredor estreito. Ele tinha os cabelos dourados opacos presos num rabo de cavalo desajeitado.

- Primeira vez aqui?- ele pergunta me observando de cima a baixo. Eu podia sentir sua hostilidade e desconfiança exalando pelos seus poros.

Puxo a toca do casaco e mexo no cabelo.

- Não! - minto, seguindo pelo corredor iluminado por uma luz vermelha que fez meu cérebro arder. Parei no primeiro dos três degraus, observando vários corpos dançando de forma obscena e explícita sob a luz baixa e quente do local.

A música extremamente alta sobrecarregava meu cérebro.

O salão era luxuoso, mas parecia muito antigo. Tinha divãs estofados, e mesas espalhadas no canto direito, logo ao lado do polidance, onde uma mulher dançava de forma robótica e sangrava pelos pulsos e por seu pescoço, escorrendo pelos seus seios nus. Ela era humana, e tinha tido seus sentidos alterados. Provavelmente nem sabia que estava ali. Além dela, havia mais três, todas em pé no balcão do outro lado do salão, também seminuas e com os mesmo olhos estáticos.

Um grupo de vampiros conversava ali, um deles tinha as presas enfiadas no pulso da mulher do meio.

O cheiro agridoce invadiu meus sentidos, e minha garganta ardeu. Fechei o punho, implorando a mim mesma para ter forças.

Eu tinha me alimentado mais cedo, não estava verdadeiramente com fome, mas não tinha sido "direto da fonte." Até então, todo o sangue que eu tinha tomado tinha vindo de bolsas de sangue que Letha ou Nancy tinham me trazido.

Tentei me concentrar no que me levara ali. Meus olhos varreram o local, passando pelas estátuas sinistras, pelo quinteto quase começando um orgia no sofá, até que meus olhos encontraram a garota de cabelos curtos e franjinha, que estava sentada à mesa um pouco afastada. Para minha sorte, estava sozinha, mas parecia esperar por alguém, então eu teria que ser rápida.

Sweet NightmaresDonde viven las historias. Descúbrelo ahora