•Eu fiquei no Céu•

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A casa dos Gilles estava remotamente tranquila àquela manhã de domingo. As festas não eram um tabu, então os pais de Ruby não ficaram surpresos ao chegarem da viagem pela manhã e verem os empregados limpando o quintal com resíduos de copos de bebidas.

Não quer Ruby sempre fosse festeira, mas sua mãe era, e era como se ela se realizasse através da filha.

-Ela está aproveitando, isso é ótimo! -comentou a jovem mulher quando deixou a mala no hall da sala.

-Desde que esteja estudando. – murmurou o pai.

Ele não achava muito antiquado, mas era um acordo de não se meter na "socialidade" de sua filha, e deixasse isso com a mulher.

-Bom dia, querida. Que festão, ein. – murmurou a mulher sentando-se a mesa do café.

-Sim, foi sim. – murmurou Ruby ligeiramente distraída.

-Ela está distante. O que houve? – murmurou o pai dando um gole no café.

-Nada. – mentiu a menina com um sorriso.

Os pais comentaram brevemente da experiência na viagem de negócios à Manhattan e Ruby sorria, fingindo se importar. Ela estava com uma coisa na cabeça.

Ela lembrava dela levando timidamente do jovem Moody para seu quarto, os dois tão sem jeito e tão tímidos quanto se possa esperar. Ruby jamais se imaginou saindo com aquele menino, mas de alguma forma, parecia ter preenchido algo que jamais imaginava precisar. Ele a olhava com um tipo de devoção e carinho que ela nunca viu antes, talvez nem nos próprios pais. Sentia sua barriga revirar de ansiedade e nervosismo ao estar ao seu lado; era bom, era muito bom.

Quando terminou o café, ia subir e tirar o dia para descansar, quem sabe mandar uma mensagem ao garoto, quando sua mãe a parou no corredor, perto do quarto.

-Oi, você tá distante... aconteceu algo na festa?

-Não, mãe. Foi tudo ótimo!

-Eu percebi, você está com um sorrisinho... -a mulher sorria, tão ávida para saber, como se pudesse viver pela filha o momento; o que basicamente era isso.

-Não foi nada. – confirmou a menina.

-Foi o Gilbert? Diga que está rolando algo? É parte do acordo, lembra? As festas, as saídas, para vocês se aproximarem...

-Ah, eu e o Gilbert somos amigos. – comentou a menina.

-Mas achei que tínhamos escolhido ele. Lembra?

-Você que escolheu ele por mim, mamãe. – lembrou a menina.

-Sim, porque ele era o melhor. De todos, o melhor. Eu teria escolhido se estivesse no seu lugar.

-Mas você não está, mãe. Eu sinto muito que você engravidou tão jovem, que não pôde aproveitar o ensino médio, mas não dá pra você ficar vivendo essa fase em cima de mim. Eu não gosto do Gilbert.

-Que história é essa? Você sempre gostou do Gilbert!

-Sim, porque ele é um cara legal. É ótimo! E suas insinuações me fizeram acreditar que eu poderia gostar dele assim, mas eu não gosto.

-Pois ele é o melhor. Ele terá um futuro brilhante, ele é lindo, é popular, é tudo o que eu e seu pai aprovamos! E se não for ele, não será ninguém! Este é o acordo, se não for ele, sei pai vai assumir e sabe que ele está louco para te tirar desse colégio. Você só tem essa vida porque eu quis!

A mulher esbravejou, como uma adolescente irritada, e deu as costas a uma Ruby atônita.

Ruby entrou no quarto resignada, ela sabia, no momento em que começou a sentir algo pelo pobre Moody Spourgeon, que não poderiam ter algo. Seus pais nunca aprovariam...



***



-O azul ou o vermelho?

-Tanto faz, vai estar vestida com os dois. – resmungou Marilla impaciente na cozinha.

-Você tem que parar de ser insensível. Eu vou conhecer o pai dele, Marilla!

-E daí? Ele já nos conhece e eu não reparei na roupa dele. – contrapôs a mulher mexendo alguma coisa na panela.

-Ele estava bem vestido... – pontuou Matthew ao canto, querendo ajudar sua neta.

-Obrigada, vovô.

-Use qualquer um, Anne. Logo vai dar a hora dele chegar... – disse Marilla, ignorando os comentários.

De repente a porta da cozinha se abre as pressas e os três veem uma morena esbaforida.

-Acordei agora e vim correndo. – comentou Diana. – Nossa, nenhum dos dois. Vamos pegar o seu branquinho.

Diana empurrou Anne para cima, aliviando o casal idoso do problema de vestuário adolescente.

-Porque hoje? Quero dizer, eu não estou preparada psicologicamente para conhecer a família dele!

Desabafou Anne agitada enquanto jogava todas as roupas em cima da cama.

-Isso é bom, ele está levando o relacionamento de vocês a sério... principalmente depois de ontem.

-O que houve ontem? Não houve nada ontem. – murmurou Anne corando nas bochechas.

-Anne, vocês sumiram por mais de uma hora no andar de cima, desceu com uma roupa completamente diferente e você estava bem radiante... tem coisas que não precisam ser ditas. – comentou Diana rindo. – Você precisa me contar, aliás.

-Não rolou aquilo, se quer saber.. mas ele fez umas coisas que... meu deus... – Anne suspirou fazendo Diana rir. – É sério, era outro Gilbert... era tipo, o Gilbert de verdade.

-O Gilbert de verdade?

-Tipo, ele é super fofo comigo. Mas desde que tivemos aquela aventura de noite, ele sempre soltava um olhar ou uma piada meio... pervertida, acho que por eu não saber de muito ele se controlava.

-Realmente, já ouvi muita coisa sobre ele...

-Já? Tipo o que?

-Ele tem uma vida sexual ativa, né. As meninas comentam, pelo menos são coisas muito boas.

Anne revirou os olhos, em parte com impaciência de que pra ele é tudo novo e pra ele é comum.

-Meu Deus, Diana!

-O que, Anne?

-Eu o deixei na vontade!

-O que?

-Tipo, eu fiquei no céu ontem... e ele continuou na terra.

-Saquei...

-Eu nem pensei, tinha tanto sangue irrigando meu cérebro e bebida alcoólica no meu corpo que nem estava raciocinando.

-Bom, daqui a pouco você vai vê-lo. – comentou Diana com um sorriso malicioso finalmente achando um vestido branco que ficaria perfeito em Anne. – Bem comportado, mocinha, mas também bem fácil de tirar.

-Diana! – repreendeu Anne rindo.


Continua...

𝘼𝙎𝙉 || 𝙎𝙝𝙞𝙧𝙗𝙚𝙧𝙩Where stories live. Discover now