•Partir Corações•

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Passou uns dez minutos e o rapaz começou a ficar agitado e preocupado. Odiando a si mesmo por se preocupado, impulsionou o corpo para fora do carro. Uma rajada gelado o atingiu, ali no meio da serra, e entrou no mesmo caminho que Anne.

Mancando, ele passou pelos galhos das árvores e deu alguns passos entre a grama alta. Primeiro viu um grande céu salpicado de estrelas, e então apreciou a bela vista da cidade ao longe e as montanhas. Anne estava a frente, havia forrado um pano de piquenique ao lado de uma árvore e estava sentada olhando a paisagem, a moldura Gilbert finalmente vira que se tratava de uma foto dos pais de Anne.

O rapaz ficou mudo, vendo a menina ali, num tipo de ritual próprio. Gilbert sabia que Anne perdera o pai há uns quatro anos, ele sabia que havia sido nessa época de agosto. Agora ali ele se sentia péssimo por estar intrometendo algo tão particular, mas ao mesmo tempo se sentia feliz por estar ali. Ninguém deveria ficar sozinho numa data como essa.

-Eu já vou, só mais alguns minutos. – ela pediu. O rosto um pouco sério demais, o rapaz viu o quanto ela queria que os outros a vissem como forte.

-Não tenho pressa... só se me deixar ficar aqui. É muito bonito. – Gilbert comenta e se senta com dificuldade ao lado da garota no pano.

-Sinto muito por eles. – Gilbert comenta olhando as estrelas.

-Quando era pequena sempre viajávamos para a casa de veraneio e passávamos por essa serra. E meu pai parava onde estava o carro e ficávamos aqui, apreciando a vista. Nunca ficávamos muito, meia hora era o suficiente. Eu sentava sempre entre eles e apoiava minha cabeça no peito dele e minha mãe trazia sempre a câmera fotográfica. Eu olhava a imensidão a nossa frente, ao lado deles e... e eu sentia que podia fazer tudo.

-Então todo ano você vem aqui?

-Todo ano. Acho que sinto que estar aqui os trás de volta, nem que seja por meia hora. Eu fecho os olhos e sinto que posso trazê-los de volta.

Gilbert fica em silencio, ele permite que Anne tenha seu momento. Ele aprecia a menina fechar os olhos e inspirar a rajada de vento forte que ali em cima tinha. Era libertador e selvagem; talvez exatamente o que ela queria.

O rapaz olhava Anne e se questionava dos próprios valores. Há meia hora atrás estaria indo para uma festa clandestina e não era nem porque realmente queria ir, ia porque todos estariam lá. Bebendo e transando com alguém, enquanto em algum lugar disso tudo havia uma garota lidando com um luto que nunca será curado.



-Sinto muito te fazer esperar, mas vou te deixar agora em casa. – Comentou Anne sorrindo de forma tímida assim que entraram de novo no carro.

-Estou com fome, que tal comermos algo antes de ir?

-Ah... claro, pode ser.

-Eu conheço um bistrô bom que é vinte e quatro horas.

Então eles rumaram para uma lanchonete de fim de estrada. Era grande e tinha uma grande vaca malhada no teto vermelho junto com um letreiro escrito "Meat and Cow".

-Sejam bem vindos ao Meat and Cow! Como posso servi-los? – disse a garçonete gorda e peituda de vestido apertado demais e rosa demais.

-Por favor, trás umas fritas e milk shake de morango para nós dois. – pediu Gilbert com o seu jeito galã.

-É claro, gracinha. Logo trago para vocês! – a mulher sorriu e piscou para o rapaz.

-Sério? – Anne riu.

𝘼𝙎𝙉 || 𝙎𝙝𝙞𝙧𝙗𝙚𝙧𝙩Where stories live. Discover now