Capítulo 2

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– Não tem condição! Esse juiz é cego ou foi comprado? Seu ladrão! Juiz ladrão! Anula esse gol! – Tião gritava nervoso após o gol do Palmeiras no final do primeiro tempo.

– Calma pai! Vai ter outro infarto por causa do Santos – Rafaella empurrou devagar os ombros do homem para obrigá-lo a voltar a se sentar no banco.

– Minha filha, vai comprar uma água pro seu pai – Genilda pediu, enquanto usava o boné para abanar o marido, já vermelho de estresse. Tirou uma nota de cinco do bolso da bermuda dele para colocar nas mãos da filha. – Calma Bastião, tá empatado. Ainda tem o segundo tempo pro Santos ganhar.

Rafaella atendeu ao pedido da mãe e se afastou da família para subir as arquibancadas e chegar até o corredor que dava acesso aos banheiros e também à lanchonete do estádio. Agradeceu à Deus que a aglomeração de torcedores que costumava se formar durante os intervalos ainda estava pequena e de maioria feita por torcedores do Santos, já que os palmeirenses estavam mais longe da saída. Por isso, conseguiu um lugar bom na fila, poucos segundos antes da grande massa verde e branca começar a se apropriar do espaço também. Fez outro agradecimento pelo fato do jogo estar empatado, o que significava que os torcedores de nenhum dos times estavam tão revoltados, mas sim um pouco ansiosos. As chances de uma briga grande acontecer era bem menor.

Ainda faltavam algumas pessoas para serem atendidas na frente de Rafaella, então ela decidiu tirar o celular do bolso para responder mensagens enquanto esperava a fila andar.

Manu: Como é que tá o jogo aí?

Rafa: 1x1. Meu pai tá em tempo de infartar outra vez.

Manu: Kkkkkkkkkk que errado eu rir disso.

Rafa: Ai amiga, tem que rir pra não ficar preocupada.

Manu: Tomara que o Santos ganhe então, porque se não ele vai infartar duplamente.

Rafa: Duplamente? Como assim?

Manu: O presidente do Santos ligou lá na secretária um pouco depois que vocês foram embora, queria falar com o seu pai.

Rafa: Sério? Era sobre o quê?

Manu: Não faço a menor ideia. Ele não quis anotar recado, disse que era particular.

Subitamente, Rafaella foi tirada de seu foco quando ouviu uma voz próxima reclamar:

– Puta que pariu, olha o tamanho dessa fila! Quando chegar minha vez o Palmeiras já vai ter sido campeão mundial cinco vezes.

A santista segurou uma risada debochada ao ouvir as palavras e levantou o olhar para conferir de quem era a voz feminina, que dizia o que ela considerava ser um acontecimento impossível, já que, para ela o time rival jamais ganharia um campeonato mundial. E lá estava ela: a garota de gorro verde e branco, responsável por levantar toda a torcida do Palmeiras.

Ali de perto, discretamente, Rafaella observou cada detalhe da moça. Os longos cabelos negros que anteriormente, pelo binóculo, tinha constatado serem bem cuidados, agora podia ver perfeitamente o brilho e a ondulação que faziam ao cairem sobre seus ombros; a camisa branca com detalhes em verde e o escudo do Palmeiras parecia ter sido feitas sob medida, porque caiam perfeitamente no corpo da garota; ao contrário da calça da torcida organizada do seu time, que aparentava ser propositalmente larga para suas pernas, como se fosse emprestada, mas provavelmente não era, devia fazer parte do estilo que ela procurava apresentar; e, por fim, os tênis de camurça, a única parte que, por serem pretos, não combinava com o resto do vestuário.

Rafaella notou também que a garota levantava os pés para tentar enxergar se haveria algum lugar no meio daquela aglomeração onde ela poderia conseguir comprar mais rápido o que precisava. Percebeu que, ao esticar o corpo, sua camisa se elevava um pouco e uma faixa de pele da cintura ficava exposta, mostrando que o cós da calça era de elástico e amarrado por uma cordinha branca em um nó mal feito. Aquela cena revelava uma faceta diferente da garota, não parecia a mesma que levantou metade de um estádio minutos atrás. Aquela ali parecia pequena demais em seus prováveis 1,61m – foi o que Rafaella calculou – e até mesmo diria frágil e delicada se não fosse pela continuação dos palavrões proferidos.

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