Capítulo 5

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Bianca precisou ir à livraria no domingo pela manhã para comprar o livro de anatomia que usaria nas aulas no laboratório. Ela pretendia ser bem objetiva, indo direto na sessão de medicina e pegando o que precisava, ao invés de se demorar entre as estantes como costumava fazer sempre que visitava aquele lugar.

Pegou o livro pesado de capa dura em uma das prateleiras e o folheou rapidamente e sem pretensão, depois o colocou embaixo do braço, seguindo em direção ao caixa para fazer o pagamento.

No entanto, algo no meio do caminho lhe chamou a atenção. Uma bancada muito bem organizada com suportes de plástico, sustentando livros na vertical. No centro um exemplar de Santos: 100 anos, 100 jogos, 100 ídolos. Ela encarou o livro, rindo de forma irônica.

Coincidentemente, no mesmo momento, seu celular apitou uma mensagem e, ainda antes de conferir o visor, ela já sabia de quem se tratava.

Rafa: Oieee, bom dia.

Bia: Bom dia, piratinha. Acordou tarde.

Rafa: Você disse que era boa em inovar as cantadas. Essa aí já foi, quero outra.

Bia: Hahaha tá certo. Eu chego aí mais tarde com uma nova.

Rafa: Vou esperar ansiosa. Aliás, meus pais vão sair por volta de 14 horas. Você pode chegar nesse horário se quiser.

Bia: Caraca, ainda faltam 4 horas, vai demorar uma eternidade.

Rafa: Nem me fala. Vai dar tempo do Santos ganhar mais dois mundiais e o Palmeiras continuar sem nenhum.

Bia: Hahaha

Bia: Ei, eu tô na rua comprando uns materiais da facul, chegar em casa eu te chamo, tá?

Rafa: Tá bom, tô te esperando. Um beijo.

Bianca guardou de volta o celular no bolso e suspirou.

No começo da noite anterior, depois de receber a mensagem de Rafaella com o endereço de sua casa, elas não pararam mais de conversar. Falaram sobre família, amigos, filmes, viagens dos sonhos e coisas preferidas. Bianca tentou fugir um pouco do assunto futebol, apesar de Rafaella insistir em provocar vez ou outra, gerando falsas risadas da palmeirense. Mas, no geral, a conversa foi gostosa demais, ficaram até de madrugada trocando mensagens e teriam continuado se dormir não fosse mesmo uma necessidade humana. O humor ruim de Bianca, que havia assistido o Palmeiras perder o jogo no fim da tarde, mudara consideravelmente depois daquele papo.

E agora Bia estava ali admitindo que tinha gostado – talvez mais do que julgava ser um bom limite – de conversar com Rafa.

Outra vez encarou o livro na bancada que parecia a encarar de volta, como um desafio.

– Eu não vou comprar você, é claro que não vou comprar... com certeza não vou – ela dizia, sussurrando para o livro, mas tentando convencer a própria mente que não deveria estar sequer cogitando uma coisa que, em outras circunstâncias, teria uma resposta tão óbvia: não.

Maldito librianismo. Pensou, culpando o signo por aquela indecisão, a qual nem queria admitir ser uma, só continuava negando. Eu não vou comprar isso.

– Posso ajudar? – Uma vendedora, que havia notado e estranhado ela falando sozinha, parou ao seu lado.

– Quanto custa esse livro? – Perguntou rápido, antes que desistisse.

– Ah, esse está na promoção. Se você for cliente vip, sai a 19,90.

Bianca suspirou outra vez. Ela era cliente vip.

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