21. Interlúdio de outono

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Eu continuava acordando no quarto de Jaebeom.

A sensação reiterativa que acomodava-se no meu peito era tão grande quanto a que alarmava minha cabeça todos os dias, mas o feixe de luz adentrando a janela entreaberta do quarto dele me fazia esquecer disso. Era quase como um pedido por descanso da minha consciência tensa, cujo tempo de súplica eu ainda não sabia qual era.

Já deveria passar do meio dia quando senti Jaebeom deixar selares curtos na curva do meu pescoço. Eu possuía uma dor de cabeça fraca, porém incômoda, que me impedia de acordar quando ele chamou meu nome baixinho, por isso, permaneci com os olhos fechados e murmurando em sinal de descontentamento pelo barulho que sua voz fazia dentro da minha cabeça, enquanto tateava a cama em busca do travesseiro ou qualquer outra coisa que abafasse ruídos.

Minha tentativa foi falha; segundos depois eu senti ele esgueirar-se pelo lençol que me cobria e agarrar minha cintura, voltando a deixar a boca perto do meu ouvido. Novamente, ele me chamou baixinho, como se notasse minha enxaqueca — o que não fez muita diferença, porque, de qualquer jeito, somando a leve dor de cabeça ao silêncio do quarto, sua voz soava alta.

— Acorda... — Senti ele arrastar o nariz pela minha bochecha e brincar com os meus fios de cabelo da franja.

Apertei os olhos, sentindo resquícios do sono preparando-se para ir embora. Quando abri os olhos lentamente, ainda estava sonolento o suficiente para enxergar mil e uma formas diferentes no teto do seu quarto. Fiquei naquela posição por alguns segundos, lutando contra a vontade de voltar a fechar os olhos e dormir novamente. Quando virei o rosto para o lado, Jaebeom me olhava com os olhos baixos, como se também estivesse lutando contra o sono. Aproveitei pra deixar um beijo na sua testa quando me inclinei para pegar o celular na mesinha ao lado da cama, fazendo uma careta tanto pela luz forte que saia do aparelho, quanto pelo horário. De fato, era doze em ponto, nós tínhamos dormido por cerca de seis horas apenas, e por isso minha cabeça latejava bem nas laterais.

— Por que você me acordou agora... — A frase deveria ter saído com uma entonação mais questionadora, porém, ao ver o horário, eu só conseguia pensar em voltar a dormir. Por isso, acomodei-me nos braços de Jaebeom, deitando a cabeça no seu peito.

— Lembra que você disse que queria fazer uma tatuagem? — Sua voz, dessa vez, era bem mais baixa e rouca, o estado perfeito para me fazer cair no sono. Quis que ele continuasse falando daquele jeito porque soava como uma canção de ninar. — O Jonghyun abriu o estúdio esse fim de semana. A gente pode ir lá hoje se você quiser.

Abri os olhos lentamente com a sua menção ao estúdio, mas permaneci na mesma posição.

— Isso se você quiser fazer mesmo, claro.

— Eu quero — respondi, surpreendentemente de forma rápida.

Eu sabia que queria, mas não que a oportunidade fosse surgir tão rápido assim. A menção dela me fez lembrar que a vontade de ter uma tatuagem não era algo que eu pensava há tempos, porque nunca senti que existisse algo dentro de mim tão grande e importante que me fizesse querer eternizar. Tudo sobre Choi Youngjae parecia tão efêmero. Tão corrido e vazio. Sem significado.

Mas as coisas tinham mudado. Pelo menos uma parte delas. Eu sentia... essa coisa. Dentro de mim. Antes, bem lá no fundo, eu reconhecia, tão pequena que talvez eu achasse que simplesmente não existia, ou não era compatível com a minha realidade e caminhada. Mas com o passar do tempo, ela começou a queimar meus pulmões. Queimar mesmo, ao ponto de me fazer ter que respirar várias vezes seguidas, buscando por algo que conseguisse abafar o incêndio que parecia querer começar em breve. Percebi que ela queimava porque me implorava por uma chance, uma chance para que eu a deixasse sair e ser livre como sempre deveria ter sido.

Bad decisionsOnde histórias criam vida. Descubra agora