16. Feito flúor

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Conforme a sensação de sonolência deixava meu corpo, meus olhos gradativamente começavam enxergar um teto diferente daquele que eu estava acostumado. O forro ainda estava lá, mas não tinha detalhes com profundidade nele e desenhos feitos com o gesso, era tudo liso e simples.

Pisquei mais algumas vezes, mesmo que as janelas estivessem cobertas por grossas cortinas e a luz não me incomodasse. O primeiro pensamento que veio na minha cabeça foram flashes rápidos e significativos da noite anterior, depois disso, junto com um aperto no peito, foi a dúvida de que se aquilo não tinha sido apenas mais um dos meus corriqueiros sonhos com Im Jaebum.

Todavia, a respiração pesada e quentinha no meu pescoço pareceu me trazer de volta àquela realidade incomum.

Encontrei o rosto adormecido de Jaebum quando virei a cabeça para a direita, me aconchegando inconscientemente melhor no calor dos seus lençóis. Ele tinha um dos braços sobre meu tronco e o outro embaixo do travesseiro que acomodava seus fios escuros e bagunçados. A respiração estabilizada era baixinha, mas ainda audível, principalmente pela proximidade dos nossos rostos. Não queria acordá-lo nunca, mas eu havia despertado por conta do despertador irritante do meu celular embaixo dos panos, indicando que ainda era semana e ainda tínhamos aula. E mesmo que naquela altura do campeonato o ano letivo fosse — quase — irrelevante pra mim, nós ainda tínhamos que nos formar.

— Ei... — chamei baixinho, em um filete de voz, mas Jaebum sequer se mexeu. Desenrolei minhas mãos debaixo dos lençóis e levei o indicador até seus lábios, cutucando-os continuadamente esperando que ele ficasse incomodado o suficiente para despertar.

Dessa vez, recebi um nariz e testa franzidos, acompanhados de um grunhido abafado pelo travesseiro quando ele virou de busto para baixo preguiçosamente.

Não consegui evitar de sorrir ao me pegar pensando para onde todos aqueles cigarros, jaquetas de couro e fugas da polícia tinham ido. Pensei também em o quão vulnerável aquele momento era e o quão feliz me sentia por estar daquele jeito, olhando para ele.

Depois de mais alguns cutucões e cosquinhas na sua cintura, Jaebum abriu os olhos, hesitante por conta do sono.

Engoli o seco por um momento, me sentindo agora no lugar de vulnerabilidade, mas só durante alguns segundos antes dele puxar meu corpo para mais perto, pela cintura, deixando meu rosto acomodado na curvatura do seu pescoço e seus braços ao redor do meu corpo.

Pela segunda vez, sorri meio bobo contra a sua camisa.

— A gente tem que levantar — avisei, mesmo esperando que ele não me soltasse.

Mas Jaebum não falou nada por alguns minutos, e eu me permiti ficar dentro do seu abraço durante aquele tempo. Até que o despertador tocou, aquele que eu colocava no caso de não acordar no primeiro toque, e senti ele estremecer de repente, como se levasse um susto; provavelmente tinha voltado a dormir.

Foi quando ele desfez os braços ao meu redor para que eu pudesse procurar o celular pelos cobertores e deixá-lo no silencioso. Aproveitando que já estava sentado, cutuquei-o novamente, mas dessa vez Jaebum pareceu entender que não tinha outra opção.

Ele apertou os olhos enquanto tentava pentear o cabelo com os próprios dedos, não tendo muito sucesso. Os fios já estavam grandes e caiam levemente sobre seus olhos sonolentos.

— Que horas são? — Perguntou, se espreguiçando.

Procurei o celular pela cama mais uma vez só para checar que já se passavam das seis horas.

Jaebum passou alguns segundos olhando para o nada, recobrando a consciência, enquanto eu olhava para ele.

— O que foi? — Ele perguntou, sorrindo de canto.

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