Capítulo 1

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Era uma segunda-feira de manhã quando cheguei à empresa, pela primeira vez tinha me atrasado por alguns minutinhos e, na tentativa de disfarçar o atraso, fui direto para a minha sala. Enquanto estava dando uma olhada em alguns papeis que haviam sido deixados em minha mesa, ouvi uma batida na porta.

— Cléo! — A voz do meu pai soou atrás de mim. — Na minha sala agora!

Engoli seco. Eu sabia que levaria uma bronca pelo atraso e que seria demitida, pois se tem algo que ele não perdoa é a falta de pontualidade de seus funcionários. Enquanto percorria o curto caminho até a sala do meu chefe, percebi vários olhares curiosos me observando e, inevitavelmente, comparei aquele caminho da vergonha. Tinha quase certeza absoluta de que seria demitida. 

Percebi que a porta da sala dele estava entreaberta e, fiquei em dúvida se devia bater ou entrar direto, até que ele deixou o celular sobre a mesa e ordenou que eu entrasse e a fechasse. Engoli em seco.

— Como você já deve saber, estamos abrindo uma nova filial da empresa.

— Estou sabendo.

— Por isso, entramos em um consenso e decidimos que a melhor pessoa para assumir lá é você.

— Fico lisonjeada.

— E você vai para a Baía da Esperança.

— Você está falando sério?

— Jamais brincaria com um assunto desses.

— Por um momento achei que fosse ser demitida.

— Jamais cometeríamos a loucura de perder uma funcionária tão exemplar como você e não estou dizendo isso porque é minha filha.

— Vou ter ajuda com o combustível para ficar indo e voltando de lá?

— É sobre isso que precisamos conversar.

— Diante de toda a situação, acho que seria melhor se você morasse lá.

 — Ai, meu Deus.

— Você não precisará se preocupar com casa porque já tomei a liberdade de escolher uma que não fica muito longe da empresa.

— Mas eu não vou precisar pagar pela casa?

— Claro que não, filha. Eu comprei a casa para você e o advogado já está cuidando da papelada.

— E como sabia que eu aceitaria?

— Conheço você desde que nasceu e sei que é muito inteligente e ambiciosa para recusar uma promoção dessas.

— Obrigada, pai! — Levantei e dei um abraço apertado nele. — E quando tenho que ir?

— Dentro de uma semana.

— E a mamãe já está sabendo disso?

— Pode deixar que eu cuido da fera.

— Mas uma semana é muito pouco tempo.

— Tempo suficiente para terminar o trabalho por aqui, arrumar suas malas e partir.

— Vou ter que me virar em três para dar conta de tudo.

— Confio em você, filha.

Saí da sala dele com a sensação ter tirado um elefante de cima das minhas costas. Muitos pensavam que por meu pai ser o dono da empresa, eu era sua protegida, mas a verdade é bem diferente. Meu pai, ao contrário da minha mãe, nunca facilitou nada para mim, me mantinha na linha dura e, agora, segue o mesmo padrão rígido com meu irmão, Jonas.

De volta a minha sala, deixei meu corpo cair sobre a cadeira e respirei mais aliviada. A ideia da mudança era ótima, afinal, eu já estava mesmo começando a procurar uma casa para me mudar. Morar com meus pais estava ficando insuportável, ainda mais tendo que aguentar minha mãe me chamando de cinco em cinco minutos aos finais de semana.

— Posso entrar? — Katherine perguntou parada junto a porta.

— Claro!

— O que o carrasco queria com você?

— Me mandou embora — falei com tom sério, com uma voz chorosa e ela acaba acreditando.

— Você está calma demais para quem foi mandada embora.

— Eu vou assumir a filial da empresa na Baía da Esperança.

— Meu Deus! Isso é maravilhoso, amiga!

— Pode apostar que sim e vou poder, finalmente, morar sozinha.

— Quer me levar junto? Eu posso ser sua secretária ou até a faxineira de lá.

— Vou conversar com meu pai a respeito.

— Por isso você é a minha melhor amiga.

— Você só diz isso porque é uma interesseira. — Ela se faz de ofendida, mas logo acaba rindo.

Depois que Katherine me deixou sozinha, liguei o computador e conferi minha caixa de e-mails e, para minha surpresa, o primeiro da lista já era do advogado do meu pai com a escritura da casa. Depois de separar alguns relatórios financeiros e entregá-los, comecei a guardar dentro da caixa todos os meus pertences.

Como já era de se esperar, minha mãe não recebeu a notícia da melhor forma e fez um tumulto no jantar, acusando meu pai de tentar separar nossa família e mais um monte de coisas absurdas e, eu tive que intervir.

— Mãe, a culpa não é do papai.

— Não venha defendê-lo, Cléo.

— A decisão foi minha.

— Mas como você vai viver sozinha estando tão longe?

— Eu já sou adulta e sei me cuidar, mae.

O restante da semana passei trabalhando de casa, indo à empresa somente para participar de algumas reuniões ou quando tinha que entregar algo importante. Minha mãe continuava emburrada comigo e tentava me ignorar, mas sempre passava pela porta do meu quarto para bisbilhotar o que eu estava fazendo.

Todo o pessoal da empresa organizou uma festinha de despedida para mim, regada a muitos presentes, abraços e lágrimas derramadas. Eu, com certeza, vou sentir falta deles, afinal, muitos ali tinham virado a minha segunda família.

O dia da mudança chegou mais rápido do que eu esperava . Uma hora e meia separava a vida antiga da nova, mas para minha mãe era como se eu estivesse me mudando para o outro lado do mundo. Depois de arrumar todas as malas e caixas dentro do porta-malas do meu carro, foi o momento de me despedir dos meus pais com um abraço. Eram tantas lágrimas que rolavam pelo rosto da minha mãe, que mais parecia a comporta aberta de um rio.

— Boa viagem, maninha. — Jonas desejou enquanto me dava um abraço.

— Por que você tem que ir embora? — Amélia perguntou chorosa abraçada no se ursinho de pelúcia. — Eu vou sentir sua falta.

— Eu também vou sentir sua falta, princesa — acariciei seus cabelos castanhos presos em duas marias-chiquinhas. — Quando você sentir medo de noite, é só correr para a cama do Jonas, tá?

— Nem sonhando!

— Seja um bom irmão para ela — dei um soco de leve em seu braço.

Com muitas promessas de que viria sempre visitá-los, entrei no carro e dei uma última olhada na casa e na minha família. Eu estava pronta para começar essa nova etapa da minha vida. Peguei a estrada, deixando para trás a casa e a minha família. Liguei o rádio e deixei a música tocando baixinho.

O que Apollo uniu, ninguém separaWhere stories live. Discover now