Capítulo 3

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Estava uma linda noite de lua cheia, o mar agitado fazia com que as ondas arrebentassem fortes na areia. Não resisti a tentação de molhar os pés e decidi caminhar até a água, parei bem a tempo de uma onda arrebentar e a água morna lavou meus pés. Permaneci ali por alguns poucos minutos, fitando a escuridão diante de mim e tendo meus pés lambidos pela água.

Depois de enxugar meus pés e entrar em casa, peguei meu notebook na mala e sentei-me na rede da varanda. Com a curiosidade falando mais alto, resolvi entrar no site do abrigo de animais para saber um pouco mais sobre eles e como trabalhavam. Apareceram diversas fotos de cães e gatos que estavam à espera de um lar, em outra aba havia outros que já tinham sido adotados e embaixo de cada foto, tinha um breve relato do resgate de cada um.

Confesso, que senti um aperto no coração por ver tantos animais abandonados e antes maltratados. Fiquei por horas lendo os relatos e depoimentos do site, estava quase convencida a ir até a feira no dia seguinte só para conhecer melhor o trabalho deles, mesmo que fosse só para ver os animais ou contribuir com alguma ajuda em dinheiro para compra de ração.

Quando criança, eu sempre quis ter um cachorrinho de estimação, mas por conta da alergia do meu pai, eles nunca me deixaram ter nenhum tipo de bichinho. Claro que na época, eu fiquei muito brava, revoltada e cheguei a pensar em várias maneiras de conseguir ter um, mesmo que escondido: desde esconder no meu quarto, no porão ou na casa de alguma amiga. Agora, eu tinha essa oportunidade, mas ainda não me sentia preparada, pois certamente mudaria toda a minha rotina e a minha vida.

— Eu vou até lá amanhã — falei decidida.

Já passava das nove da noite quando fechei o notebook e caminhei para o quarto. Depois de retirar as malas de cima da cama, troquei de roupa e me joguei sobre a cama. A brisa que entrava pelas janelas era ótimo e rapidinho peguei no sono. Acordei um pouco assustada no meio da noite, demorei a reconhecer onde estava, mas depois de me lembrar que estava na minha nova casa, respirei alivada e fiquei apenas deitada olhando para o teto e ouvindo as ondas até cair no sono novamente.

Pela manhã, acordei com a luz do sol invadindo o quarto, mas, pela primeira vez, eu não me senti na obrigação de ter que levantar, eu poderia facilmente ficar deitada o dia inteiro se quisesse. Ao contrário de todos os outros dias, eu estava me sentindo disposta e animada o suficiente para caminhar e depois arrumaria o restante das minhas coisas.

Depois de me trocar e prender os cabelos num rabo de cavalo, peguei os fones de ouvido e os deixei pendurado no pescoço enquanto calçava os tênis. Enquanto eu me deliciava com a xícara de café fresco, vi que tinha recebido uma mensagem meio suspeita vinda de Kathe, mas eu sabia que não adiantaria respondê-la naquele momento, pois ela não estaria acordada.

Ao chegar na cozinha, tomei um susto ao me deparar com uma mulher parada junto à pia da cozinha. Ela era um pouco baixa, a cabeleira preta começava a ficar grisalha e a pele bronzeada pelo sol.

— Bom dia!

— Oi, você deve ser a Cléo.

— Sou eu sim. Quem é a senhora?

— Meu nome é Margot. — Ela me cumprimentou com um aperto de mãos. — Fui contratada para fazer a limpeza da casa e cuidar de você.

— É um prazer conhecê-la.

— Quer um copo de suco de laranja ou prefere um pouco de café?

— Prefiro café.

— Está fresquinho, acabei de passar. — Ela me informou enquanto despejava um pouco na xícara. — Prefere adoçado ou puro?

— Puro.

— Você pareceu surpresa quando me viu — disse enquanto me entregava a xícara.

— É só que... Eu não sabia que meu pai tinha contratado alguém.

— Ele disse que você era uma moça muito ocupada e que precisaria de alguém de confiança para cuidar da casa.

— É verdade!

Antes que Margot pudesse falar mais alguma coisa, meu celular começou a tocar e depois de olhar a tela, informei que precisava atender e me afastei da cozinha. O que minha mãe poderia querer comigo tão cedo? Atendi e ficamos conversando por alguns longos minutos sobre o almoço de família.

— Não sei se vai dar para ir, mãe!

— Mas sua avó está ansiosa para lhe ver.

— Eu me mudei ontem e tenho muita coisa para arrumar em casa e vovó não vai morrer se eu não aparecer dessa vez.

— Ela ficaria muito chateada. Você sabe disso!

— Vovó me entende melhor do que ninguém!

— E o que quer que eu fale quando você for a única a não aparecer?

— Diz a verdade!

— Tenta aparecer por lá, nem que seja só por um pouco.

— Não dá, mãe! Eu não vou pegar estrada de novo só por causa de um almoço.

— Tudo bem, minha filha!

Vi o folheto da feira e decidi que iria até o parque para me exercitar e conhecer a feira de adoção. Quando encerrei a ligação, ouvi uma voz mais do que conhecida ecoando pela casa e corri para a sala . Minha melhor amiga estava no meio da minha cozinha conversando animadamente com Margot enquanto comia.

— O que está fazendo aqui?

— Vim te visitar e passar o final de semana com você.

— Está falando sério? Por que não me avisou?

— Quis te fazer uma surpresa.

— Mas e o seu fiho?

— Deixei com o pai dele, tenho certeza de que sobreviverão por um final de semana juntos.

Depois de um abraço rápido e uma conversa animada, avisei que iria sair e Kathe rapidamente se prontificou a ir junto, sem nem mesmo saber onde eu iria e não tive outra escolha a não ser levá-la comigo.

A caminho do parque fomos conhecendo um pouco mais da Baía da Esperança, as lojas, restaurantes e até o shopping. Quando estacionei o carro em uma vaga livre próximo a entrada do parque, dei uma olhada rápida ao meu redor e vi uma grande movimentação de pessoas, a alegria parecia estar mesmo presente em todas aquelas pessoas.

— Por que estamos aqui? — Kathe quis saber. — Tem alguma festa acontecendo para ter tanta gente assim em pleno sábado de manhã?

— Já se esqueceu que eu te falei sobre a feira de adoção de animais?

— Ah, é verdade.

Logo que passamos pelo portão do parque, reconheci a moça do caixa do supermercado e ela e o marido se aproximaram para nos receber com um largo sorriso estampado no rosto.

— Sabia que você não ia resistir e dar uma passadinha por aqui.

— Não resisti mesmo. Essa é minha melhor amiga, Kathe.

— Sejam bem-vindas.

— Decidiu levar algum para casa?

— Não está nos meus planos, mas pode ser que algum conquiste meu coração.

O que Apollo uniu, ninguém separaOnde histórias criam vida. Descubra agora