Capítulo 5

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Depois de assinar os papéis que precisava, a mulher que descobri se chamar Michele, se despediu de Apollo e deu para perceber que ela tinha um carinho especial por ele e que estava aliviada por saber que não o veria no corredor da morte.

— Pronto para ir para casa, Apollo? — afaguei debaixo de suas orelhas.

Como se estivesse entendendo que tinha ganhado mais uma chance de ser feliz, Apollo deu um latido. Saímos do parque em direção ao meu carro, claro que ele chamou a atenção enquanto passava, afinal, quem consegue resistir a esse belo par de olhos azuis. Um cachorro simpático, era isso que Apollo era.

No carro, acomodei-o no banco de trás, ele parecia estar com medo porque se encolheu, enquanto Kathe ocupou o banco do carona. Teria que passar numa loja de petshop para comprar o básico para o Apollo e, por sorte, tinha uma não muito longe de onde estávamos.

— Ele parece ser muito quietinho.

— Não conte vantagem antes da hora, amiga. — Kathe me alertou.

Como não podia deixar Apollo sozinho no carro, coloquei-o dentro do carrinho e comecei a perambular pelos corredores da loja. Um saco de ração, potes de comida e água, tapetes higiênicos, uma coleira azul e muitos brinquedos para, segundo Kathe, deixar ele ocupado quando estiver sozinho e não destruir minha casa.

Ao chegar em casa, levei Apollo para dentro e soltei sua coleira. Ele imediatamente começou a farejar tudo e só parou quando teve certeza de que não havia deixado passar nada. Enquanto eu abria o saco de ração para encher o pote, Apollo se sentou próximo e ficou me olhando virando a cabeça de lado, o que era muito fofo.

— Já está com fome, Apollo?

Ele deu um latidinho como se confirmasse e, quando enchi seu potinho, ele atacou a vasilha e começou a comer rapidamente, como se estivesse sem comer por muito tempo, e acabou derrubando ração para o lado de fora.

Depois de encher a barriga com bastante ração, Apollo se deitou no tapete da sala e, como todo filhote, ficou mordendo o porquinho de pelúcia e barulhento que comprei. Fiquei sentada no tapete ao seu lado acariciando o seu pelo macio e colorido.

A porta foi aberta e Apollo saiu correndo, ficou latindo junto a porta até que Margot abriu um pouco e entrou. A mulher parecia ter ficado surpresa, mas também quem não ficaria? Quando ela saiu, apenas eu morava aqui e quando voltou, se deparou com o novo morador da casa.

— Ei, garotão. — Ela fez um afago em seu cabeça. — Estou vendo que arrumou uma ótima companhia para dividir a casa.

— Esse é o Apollo.

— Igual o nome daquele deus grego?

— Sim.

— Eu tentei convencê-la a não pegar, mas não adiantou muito. — Kathe reapareceu.

— Eu não podia deixar ele ser morto.

— Morto? Um cachorro tão lindo como ele?

— Eu achei um absurdo também.

Margot fez um último carinho em Apollo, que tinha voltado a morder seu brinquedo, e seguiu para a cozinha para deixar as sacolas sobre a bancada de mármore e logo retornou para a sala.

— O que vocês vão querer para o almoço?

— Acho que pode ser algo leve, como uma salada. O que acha Kathe?

Olhei na direção de Kathe e ela deu de ombros. Ela ainda estava irritada comigo por não escutá-la, mas como já a conhecia fazia muito tempo, sabia que essa cara emburrada logo desapareceria.

— O que acha de uma torta de batata com recheio de frango cremoso para acompanhar?

— Parece delicioso.

Depois que Margot voltou para a cozinha, Kathe se sentou no sofá e ligou a televisão, zapeou pelos canais até encontrar um filme que lhe interessava. Apollo mordiscou o tornozelo dela, que deu um grito de susto e colocou os pés para cima do sofá. Acabei rindo dela.

— O que acha de sairmos hoje a noite para conhecer a vida noturna aqui da cidade e tomar um drinque?

— Parece um ótimo plano — respondeu desfazendo a cara emburrada. — Estou mesmo precisando sair e me divertir um pouco.

— O que aconteceu? Sei que essa cara não é só por causa do Apollo.

— Não consigo esconder nada de você, não é mesmo?

— Por isso que sou sua melhor amiga — dei uma cutucada em sua perna. — Então vai me contar o que aconteceu?

— Problemas familiares.

— Tipo?

— Recebi uma mensagem do meu marido pedindo para voltar logo porque Henri não o está respeitando muito.

— E você vai embora?

— Claro que não! Estou sendo egoísta? Sim, mas eles precisam se entender afinal são pai e filho.

— Mas isso não vai piorar as coisas entre vocês?

— Olha que tem como piorar sim, amiga.

— Eu queria mesmo era deixar as coisas para lá e me mudar para cá e trabalhar com você.

— Prometo que ainda vou conversar sobre isso com meu pai, mas você sabe que pode demorar um pouquinho.

— Eu sei, mas posso esperar.

— Agora chega desse papo depressivo e vamos falar de coisas alegres — olhei para Apollo que dormia ao meu lado.

Alguns minutos depois, Margot voltou à sala e avisou que o almoço já estava pronto e pelo cheiro que se espalhava pelo ar, devia estar mesmo delicioso. Nos sentamos à mesa e praticamente devoramos a torta de frango, Margot tinha mesmo mãos de fada para comida e tinha certeza de que não passaria fome com ela cuidando da casa.

— Nossa, Margot está delicioso.

muito bom mesmo. — Kathe concordou entre uma garfada e outra.

— Que bom que gostaram, é uma receita da minha família.

Ouvi meu celular tocando e corri para ver quem era e o nome da minha mãe estava piscando na tela, decidi não atender e deixei o aparelho ao meu lado.

— Não vai atender?

— É a minha mãe.

Minha resposta foi o suficiente para que Kathe já entedesse tudo, afinal, ela conhecia minha mãe tão bem quanto eu. Meu celular tocou por mais umas duas vezes antes dela finalmente desistir.

O que Apollo uniu, ninguém separaOnde histórias criam vida. Descubra agora