Capítulo 6

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Depois do almoço delicioso, fomos nos sentar na varanda dos fundos, onde tinha a brisa fresca que vinha do mar e enquanto conversávamos, Apollo ficou deitado próximo aos degraus que separava a casa da areia, encarando o mar até que uma gaivota pousou e ele saiu correndo em disparada atrás da ave que alçou voo. Kathe e eu saímos correndo atrás dele pela praia, mas parecia impossível alcançá-lo.

— Apollo! Volte aqui, agora. — gritei com o corpo curvado e as mãos apoiadas nos joelhos enquanto tentava recuperar o fôlego.

Como já era esperado, Apollo não me obedeceu, não parou de correr e acabou invadindo o pedaço da praia do vizinho. Por sorte não havia ninguém na casa e ele não fez causou nenhum estrago. Tudo o que eu não precisava era arrumar confusão com um vizinho em tão poucos dias morando na casa nova.

— Eu te avisei que não era para pegar esse cachorro. — Kathe resmungou logo atrás de mim.

— Cala a boca, Kathe!

— Você poderia ter arrumado uma confusão das grandes com o seu vizinho.

— Nem foi tão ruim assim e tenho certeza de que ele ou ela entenderia que o Apollo é só um filhote apesar de ser grande.

— Como você lidaria se esse elefante tivesse quebrado um vaso chinês de não sei quantos mil anos que teu vizinho herdou da tataravó?

— Pare de criar situações que não vão acontecer — falei enquanto colocava Apollo para dentro de casa e fechava a porta. — Por acaso você viu algum vaso chinês no quintal?

bom, não está mais aqui quem falou.

— Você está pior que minha mãe.

— Por falar nela, como ela está reagindo com toda essa mudança?

— Primeiro, ela quase matou meu pai, depois fez um drama danado, mas teve que aceitar porque eu viria de qualquer forma.

— Por isso que você não atendeu a ligação dela?

— Na verdade, eu não atendei porque ela ia ficar me enchendo o saco por causa da mudança e porque eu não vou na casa da minha avó para o almoço em família.

— Ela deve estar sentindo muito a sua falta.

— Imagino que sim.

Passamos boa parte da tarde sentadas no confortável sofá da sala e conversando, mas depois Kathe vestiu um biquíni, pegou uma toalha e disse que ia aproveitar um pouco do sol para pegar um bronze.

À noite, decidimos passear um pouco pela cidade para conhecer a vida noturna, mas não havia muita coisa para fazer além de barzinhos no calçadão, alguns até com música ao vivo, um shopping pequeno, alguns restaurantes e uma boate que tinha uma longa fila de espera do lado de fora. Claro que optamos pelos barzinhos do calçadão porque estávamos velhas demais para ficar no meio de um monte de adolescentes.

Estávamos na terceira cerveja quando começou a ventar, alguns relâmpagos cortavam o céu escuro, as estrelas tinham desaparecido, mas nunca achamos que a chuva viria tão rápido. Logo que estacionei o carro na garagem, vi Apollo com o focinho contra o vidro da janela enquanto tentava cavar um buraco para sair.

— Ele está mesmo tentando cavar um buraco no vidro? — Kathe perguntou enquanto tentava alcançar sua bolsa no banco de trás.

— Acho que ele deve estar querendo sair ou está assustado por causa da tempestade.

— Tomara que ele não tenha... — Kathe interrompeu sua fala quando olhou para dentro de casa.

— Tarde demais.

Eu mal podia acreditar no que estava vendo. A casa parecia estar decorada para o halloween, com exceção de que o mesmo seria dali a uns quatro meses. Apollo tinha entrado no banheiro de hóspedes, pegado o rolo de papel higiênico e saído correndo, espalhando a tira branca pela casa toda e, mais tarde, descobrimos que ele tinha feito xixi na mala de Kathe. 

Assim que percebeu que levaria bronca, ele correu para se deitar em sua caminha e enquanto eu ralhava com ele sobre a sua bagunça, ele ficou lá, apenas me encarando com aquele olhar do gato de botas que é irresistível, mas que consegui resistir.

— Agora tá explicado porque ele foi devolvido por todas aquelas famílias que a mulher falou.

— Mas eu não vou fazer a mesma coisa que os outros.

— Você não vai aguentar quando ele começar a roer seus móveis, destruir seus sapatos e bolsas. — Ela reclamava enquanto juntava suas roupas.

— Kathe.

— Eu estou falando sério, amiga. Eu vou embora.

— KATHE! — tive que gritar para que ela parasse de falar e prestasse atenção em mim.

— O que foi?

— Você não vai a lugar nenhum, está caindo uma tempestade do lado de fora.

— Eu não vou ficar nem mais um segundo debaixo do mesmo teto que esse pequeno furacão que você resolveu adotar.

— É uma pena, porque vocês dois são os seres que eu mais amo nessa vida.

— Não adianta vir com esse discursinho fajuto.

— Para de drama, amiga.

— Você devia devolvê-lo, isso sim.

— Não, não vou devolvê-lo. Sei que está furiosa, mas amanhã a Margot pode lavar suas roupas e limpar a sua mala.

— Eu vou jogar é essa mala no lixo, está ensopada de xixi.

Fui até a área de serviço, peguei um pano limpo e o desinfetante cheiroso e comecei a limpar o chão do quarto de hóspedes onde Kathe estava ficando. Peguei a mala suja e levei para a lavanderia, por ser uma mala mole do tipo que se leva para acampar, joguei dentro da máquina de lavar e torci para que ficasse limpa.

Quando voltei para a sala, vi Apollo deitado em frente a porta fechada do quarto de hóspedes, ele estava passando a pata de levinho sobre a madeira, quase implorando para que fosse aberta.

— Apollo, venha cá.

Ele deu uma última olhada na porta fechada e vendo que não ia mesmo abrir, veio saltitando em minha direção e pulou ao meu lado no sofá.

— Você hoje pisou feio na bola, rapazinho — fiz um carinho no topo de sua cabeça. — Eu sei que você ficou com medo da tempestade, mas não pode fazer xixi nas coisas.

Fiquei ali, vendo um filme e dando um tempo para Kathe ficar sozinha, a chuva ainda caía torrencialmente do lado de fora e a cada nova trovoada, Apollo ia se aconchegando para ainda mais perto de mim, com sua cabeça apoiada em minhas pernas.

— Vai ficar tudo bem, rapaz. É só uma tempestade.

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⏰ Last updated: Apr 07 ⏰

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O que Apollo uniu, ninguém separaWhere stories live. Discover now