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Faltavam apenas cinco minutos para o primeiro tempo terminar. O facto de ter Peter ao meu lado me leva a crer que não estou a ser produtiva o suficiente. Esta coisa toda sobre o que aconteceu na festa também não está ajudando minimamente. Eu o beijei como se eu tivesse qualquer direito ou conhecimento sobre ele, mas mesmo assim ele ficou lá comigo agindo que nem uma desavergonhada. Peter cuidou de mim, tenho de agradecer por isso.

— Hey, — chamo-o baixinho, obtendo a sua atenção — obrigada por ontem. — Agradeço, mordendo o meu lábio pela vergonha. — E desculpa também pela forma como me comportei.

Peter me olha. Uma vez mais, era incapaz de decifrar as suas emoções. Ele conseguia ser completamente apático e isso me stressa, talvez por eu ser expressiva, talvez por eu gostar de saber o que os outros pensam ou sentem, não sei...

— Não tens de agradecer. — Ele diz, levantando-se e seguindo escadas abaixo para abandonar a sala.

Levanto-me indo para o jardim, onde me sento num banco vendo as pessoas passarem. Ainda estamos no primeiro dia de aulas e não consigo evitar pensar na época de exames. Agora que penso nisso, não tenho saudades nenhumas do ensino médio. Sempre foi um ambiente um tanto tóxico onde pessoas usavam a violência física ou verbal para se sentirem superiores na sua própria pele. Nunca sofri bullying ou fui posta de lado pelas pessoas mas, desde sempre mantenho um círculo de amigos ao qual me sinto bem em estar. Sinto uma brisa mais fresca e o meu corpo arrepia-se em resposta. Olho para o céu que está ainda mais cinzento que antes, tenho o pressentimento que vai chover. Pego no meu smartphone e checo as horas, apercebendo-me que tenho apenas dois minutos para entrar na segunda parte da aula de literatura. Levanto-me do banco e corro pelo campus para dentro do edifício, passando pelo meio de alguns universitários para que não me atrase.

— Aonde vais com tanta pressa? — Ouço Anna dizer.

— Aula! — grito, continuando a correr. 

Não preciso de olhar para trás para saber que ela acabou de revirar os olhos e abanar a cabeça. Assim que chego perto da sala abrando, caminhando calmamente para dentro da mesma tentando regularizar a minha respiração. Subo as escadas à procura da minha bolsa, sentando-me no mesmo lugar que anteriormente. Peter não está aqui, mas não preciso de me preocupar com isso.

— "A despedida é uma dor tão suave que te diria boa noite até o amanhecer" — A professora introduz — De que livro se trata?

— Romeu e Julieta — respondo, sem hesitar.

— Muito bem, menina King. O que acham sobre o desfecho final da obra?

Ninguém se pronuncia. Talvez eu devesse dizer alguma coisa?

— Uma perda de tempo. — Ouço uma voz masculina, mas não preciso de me virar para trás. Sei plenamente de quem se trata. 

Reviro os olhos.

— Tem algo para argumentar, menina King?

— Bem, o final foi um tanto quanto desapontante, mas, a história em si está bem construída. — Retruco.

— Ah sim, — Peter contrapõe — Como se andar a chorar pelos cantos porque a pessoa que eu gosto é de uma família rival, para depois no fim me matar com veneno. Esse foi o final mais estúpido que li em toda a minha vida.

— Como assim? Ele preferiu matar-se porque sabia que não ia ser feliz sem a pessoa que ama. Não digo que tenha sido inteligente da parte dele, pelo contrário. Mas considerar que tenha sido o final mais estúpido...

— Só dizes isso porque és mulher e...

— Isso foi estupidamente sexista! — interrompo. — Se não tens argumentos válidos para apresentar, fica calado em vez de seres estúp...

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